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sua prática / sala de professoras

Leitura, escrita e oralidade amarradas pelos barbantes do cordel

Patrícia Calheta

13 de setembro de 2023

No ensino de Língua Portuguesa
É preciso jamais esquecer
Que leitura, escrita e fala
Não se pode desprender
São eixos interligados
E quando juntos trabalhados
A magia vai acontecer!

Saudações, queridas(os) professoras(es)!

Os sonoros e envolventes versos que inauguram esse texto são de autoria da talentosa professora Tatiana Cipriano de Oliveira. Nordestina, moradora da maravilhosa Ilha de Itamaracá (Pernambuco), dona de um jeito manso e de um olhar vibrante, a “professora Tati”, como é chamada por suas turmas de estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, visita a nossa “Sala de professoras” para que, ao meu lado e de outras e outros docentes convidadas(os) à prosa, possamos compor reflexões sobre práticas interativas de leitura, oralidade e escrita.

Entre conversas, textos escritos por ela e largos sorrisos, contou-me um pouco de sua história como leitora, ressaltando que “minha vida foi impregnada por livros e histórias ofertadas por personagens especiais que conviveram comigo, contribuindo para que eu me tornasse uma leitora e uma criadora de histórias muito cedo. Esse fato influencia até hoje meu entendimento de que leitura e escrita são almas gêmeas e jamais podem ser dissociadas. Por isso, em minhas salas de aula, independente do nível, priorizo trabalhos voltados ao despertar do hábito da leitura, tentando mostrar a meus estudantes o quanto é maravilhosa a liberdade que o mundo da escrita tem a nos oferecer”.

Compreendendo a relevância de promover efetivos encontros de suas(seus) estudantes com a leitura e a literatura e diante de importantes desafios, a professora “arregaçou as mangas” e resolveu apostar no trabalho com um gênero discursivo valorizado pela cultura local. Assim, nasceu “Cordealizando a Literatura: uma releitura poética”.

Para contar sobre os passos desse projeto e seus numerosos efeitos no processo de construção de conhecimentos de suas turmas, nada melhor do que sentar confortavelmente em uma das cadeiras de nossa “Sala de professoras” para escutar o relato da professora Tati:

Ao final deste texto, conheça um cordel que apresenta a obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, produzido pela turma da professora Tatiana Cipriano de Oliveira.

Depois de escutar – e, certamente, se encantar com tão significativos dizeres – é claro que poderíamos aqui permanecer por muito tempo, trocando impressões, analisando ponto a ponto, fazendo articulações com experiências já vividas por cada uma(um) de nós.

Como um início de conversa, chamo a atenção para três aspectos que considero essenciais no projeto aqui destacado:

1) a aposta na formação da(o) leitora(or) literária(o), inspirada pelo resgate e pela valorização de um gênero discursivo que integra o patrimônio cultural brasileiro;

2) o trabalho “bem amarrado” de diferentes práticas de linguagem;

3) o exercício de dar voz e lugar ao protagonismo das(os) estudantes.

Quando pensamos na formação da(o) leitora(or) literária(o), convocando a dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora da literatura, estamos diante da possibilidade de, nos dizeres da BNCC (Brasil, 2018, p.139), “garantir a formação de um leitor-fruidor, ou seja, de um sujeito que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de ‘desvendar’ suas múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas e de firmar pactos de leitura”.

Nessa mesma direção, “os barbantes do cordel” possibilitaram a integração entre leitura, oralidade e escrita, envolvendo as(os) estudantes da professora Tati com experiências de diálogo, partilha, análise e reflexão, os quais se apresentaram desde a conversa sobre o gênero e a escolha das obras, passando pela leitura e análise de textos, até a releitura e produção de quadras de cordel que foram publicizadas via áudios nas redes sociais da escola, favorecendo “(...) a potência da arte e da literatura como expedientes que permitem o contato com diversificados valores, comportamentos, crenças, desejos e conflitos, o que contribui para reconhecer e compreender modos distintos de ser e estar no mundo e, pelo reconhecimento do que é diverso, compreender a si mesmo e desenvolver uma atitude de respeito e valorização do que é diferente” (Brasil, 2018, p.139).

Foi dessa forma que o projeto “Cordealizando a Literatura: uma releitura poética” acolheu de braços abertos a voz e a vida das(os) estudantes, promovendo diálogos com diferentes modos de enxergar o mundo e, acima de tudo, oferecendo às(aos) estudantes “a possibilidade de se espelharem e se reconhecerem positivamente em cada verso, a partir de suas diferenças e singularidades, que constituem uma riqueza imensurável”, como afirma Ronaldo Vitor da Silva, no texto A sala de aula e o cordel: compromissos para uma prática educativa positiva.

Assim como o texto citado acima, outros foram publicados aqui no Portal Escrevendo o Futuro, iluminando práticas de colegas que trilharam caminhos com o cordel e que, certamente, poderiam estar sentados nessa mesma “Sala de professoras”, compartilhando suas ações, inquietações e descobertas.

Então, vamos juntas(os) imaginar que nossa sala irá se expandir para permitir a entrada e acolher as experiências vividas em salas de aula de outros cantos do Brasil: do município de Rio Largo, no Estado de Alagoas, quem “puxa uma cadeira” é a professora Polyanna Paz de Medeiros Costa; do município de Tanque d’Arca, também de Alagoas, chega a professora Maria Juciele Amancio Souza Silva e, pra tomar conta da última cadeira, logo entra na sala o professorJosé Gilson Lopes Franco, vindo de Fortaleza, no Estado do Ceará.

A professora Polyanna, por meio da publicação “Sinhô cordel”, conta que, assim como a professora Tati, desenvolveu um trabalho com estudantes do 8º ano “(...) tendo em vista a necessidade de despertar nas alunas e alunos o prazer pela leitura e de desenvolver a capacidade de interpretar o que leem, fazendo uso de folhetos de cordel de vários cordelistas”. Ela, ainda antes de apresentar a fundamentação teórica e as etapas de sua sequência didática, ressalta que “sabemos que o cordel é uma das mais expressivas formas da cultura nordestina, por isso os textos cordelistas têm tudo para ser um grande aliado nas estratégias de leitura e compreensão de fatos da realidade. A partir do contato com a literatura de cordel, o aluno compreenderá que não há limite na escolha dos temas para a criação de um folheto”.

Já a professora Maria Juciele, ao relatar sua experiência com estudantes do 9º ano na publicação “Minha leitura, meu barbante”, dialoga com o projeto da professora Tati na medida em que, ao constatar o desconhecimento de suas turmas acerca da literatura de cordel, também elaborou um projeto que pudesse romper “o distanciamento dos estudantes com o hábito e com o prazer de ler”, destacando o cordel por sua “vasta temática”, o que favoreceu “as construções textuais” e propiciou “a criação de narrativas poéticas que tratam de um sem-número de assuntos”. Esclarece, ainda, que “esse fator de liberdade para as criações aguçou ainda mais a criatividade dos alunos para a construção de narrativas”, compondo, de forma muito significativa, um passeio reflexivo pelos multiletramentos.

Na esteira dos dizeres das professoras Tatiana, Polyanna e Maria Juciele, o professor José Gilson inicia sua participação nessa troca de experiências declarando: “eu queria que eles respirassem cordel”. E, para isso, elaborou o projeto Literatura de Cordel: um caminho para o ensino da escrita” e conta que “eu não pensava em formar grupo de cordel. Pensava em melhorar a leitura e a escrita dos meus alunos do 7º ano. Quando escolhi o gênero, era pela oralidade, por ser um tipo de linguagem coloquial, muito próxima da fala deles. Não queria nada muito rebuscado, aquela fala muito planejada. E os alunos em momento algum resistiram ao projeto porque eles são muito poetas! Gostam da sonoridade, da musicalidade do poema e da busca pela rima ideal. Na casa deles, o cordel é algo muito presente, vem de gerações”. Com o desenvolvimento da proposta, os demais anos finais do Ensino Fundamental passaram a trabalhar com o cordel e até fundaram um grupo de cordelistas na escola!

Sob efeito de tantos reflexivos dizeres, fico a pensar em nosso objetivo de promover a formação integral e protagonista de nossas meninas e meninos e no quanto a literatura de cordel favorece encontros com o conhecimento... Então, para dar voz às(aos) estudantes, encerro essa conversa com a sabedoria de Davi Henrique Teófilo de Azevedo Lima, do município de Bom Jesus, no Rio Grande do Norte, e seu inesquecível texto “Nos dez de galope lá no meu lugar”:

 

Clique aqui para ler e escutar o cordel que apresenta a obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, produzido pela turma da professora Tatiana Cipriano de Oliveira, de Ilha de Itamaracá (PE).

"Triste fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto

Áudio: Ruan Messias Fernandes – 17 anos; Ewellyn Rayane Santos Silva – 16 anos.

 

 

Estudantes autoras(es): Ana Clara dos Santos Pereira – 16 anos; Camila Kawanny Santos Souza – 17 anos; Ewellyn Rayane Santos Silva – 16 anos; Giovanna Mel Ivo de Oliveira – 16 anos; Layra Juliane de Araújo Lima – 17 anos; Ruan Messias Fernandes – 17 anos.

Sobre a autora

Sobre a autora

Patrícia CalhetaPatrícia Calheta é mestra em Linguística Aplicada pela PUC-SP, especialista em Ensino de Língua mediado por computador pela UFMG e em Gestão Escolar pelo SENAC-SP.  É também formadora de professoras(es) e gestoras(es), em redes públicas e privadas e coordenadora pedagógica da Redelê. No Programa Escrevendo o Futuro, atua como colaboradora e formadora desde 2010, desenvolvendo diversas ações, tais como: a coordenação pedagógica de mediadoras do curso "Sequência Didática: aprendendo por meio de resenhas" (de 2012 a 2022) e a elaboração de textos para publicação no Portal, assinando como Olímpia, em "Pergunte à Olímpia" (de 2013 a 2023).

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