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No ensino de Língua Portuguesa
É preciso jamais esquecer
Que leitura, escrita e fala
Não se pode desprender
São eixos interligados
E quando juntos trabalhados
A magia vai acontecer!
Saudações, queridas(os) professoras(es)!
Os sonoros e envolventes versos que inauguram esse texto são de autoria da talentosa professora Tatiana Cipriano de Oliveira. Nordestina, moradora da maravilhosa Ilha de Itamaracá (Pernambuco), dona de um jeito manso e de um olhar vibrante, a “professora Tati”, como é chamada por suas turmas de estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, visita a nossa “Sala de professoras” para que, ao meu lado e de outras e outros docentes convidadas(os) à prosa, possamos compor reflexões sobre práticas interativas de leitura, oralidade e escrita.
Entre conversas, textos escritos por ela e largos sorrisos, contou-me um pouco de sua história como leitora, ressaltando que “minha vida foi impregnada por livros e histórias ofertadas por personagens especiais que conviveram comigo, contribuindo para que eu me tornasse uma leitora e uma criadora de histórias muito cedo. Esse fato influencia até hoje meu entendimento de que leitura e escrita são almas gêmeas e jamais podem ser dissociadas. Por isso, em minhas salas de aula, independente do nível, priorizo trabalhos voltados ao despertar do hábito da leitura, tentando mostrar a meus estudantes o quanto é maravilhosa a liberdade que o mundo da escrita tem a nos oferecer”.
Compreendendo a relevância de promover efetivos encontros de suas(seus) estudantes com a leitura e a literatura e diante de importantes desafios, a professora “arregaçou as mangas” e resolveu apostar no trabalho com um gênero discursivo valorizado pela cultura local. Assim, nasceu “Cordealizando a Literatura: uma releitura poética”.
Para contar sobre os passos desse projeto e seus numerosos efeitos no processo de construção de conhecimentos de suas turmas, nada melhor do que sentar confortavelmente em uma das cadeiras de nossa “Sala de professoras” para escutar o relato da professora Tati:
Depois de escutar – e, certamente, se encantar com tão significativos dizeres – é claro que poderíamos aqui permanecer por muito tempo, trocando impressões, analisando ponto a ponto, fazendo articulações com experiências já vividas por cada uma(um) de nós.
Como um início de conversa, chamo a atenção para três aspectos que considero essenciais no projeto aqui destacado:
1) a aposta na formação da(o) leitora(or) literária(o), inspirada pelo resgate e pela valorização de um gênero discursivo que integra o patrimônio cultural brasileiro;
2) o trabalho “bem amarrado” de diferentes práticas de linguagem;
3) o exercício de dar voz e lugar ao protagonismo das(os) estudantes.
Quando pensamos na formação da(o) leitora(or) literária(o), convocando a dimensão humanizadora, transformadora e mobilizadora da literatura, estamos diante da possibilidade de, nos dizeres da BNCC (Brasil, 2018, p.139), “garantir a formação de um leitor-fruidor, ou seja, de um sujeito que seja capaz de se implicar na leitura dos textos, de ‘desvendar’ suas múltiplas camadas de sentido, de responder às suas demandas e de firmar pactos de leitura”.
Nessa mesma direção, “os barbantes do cordel” possibilitaram a integração entre leitura, oralidade e escrita, envolvendo as(os) estudantes da professora Tati com experiências de diálogo, partilha, análise e reflexão, os quais se apresentaram desde a conversa sobre o gênero e a escolha das obras, passando pela leitura e análise de textos, até a releitura e produção de quadras de cordel que foram publicizadas via áudios nas redes sociais da escola, favorecendo “(...) a potência da arte e da literatura como expedientes que permitem o contato com diversificados valores, comportamentos, crenças, desejos e conflitos, o que contribui para reconhecer e compreender modos distintos de ser e estar no mundo e, pelo reconhecimento do que é diverso, compreender a si mesmo e desenvolver uma atitude de respeito e valorização do que é diferente” (Brasil, 2018, p.139).
Foi dessa forma que o projeto “Cordealizando a Literatura: uma releitura poética” acolheu de braços abertos a voz e a vida das(os) estudantes, promovendo diálogos com diferentes modos de enxergar o mundo e, acima de tudo, oferecendo às(aos) estudantes “a possibilidade de se espelharem e se reconhecerem positivamente em cada verso, a partir de suas diferenças e singularidades, que constituem uma riqueza imensurável”, como afirma Ronaldo Vitor da Silva, no texto A sala de aula e o cordel: compromissos para uma prática educativa positiva.
Assim como o texto citado acima, outros foram publicados aqui no Portal Escrevendo o Futuro, iluminando práticas de colegas que trilharam caminhos com o cordel e que, certamente, poderiam estar sentados nessa mesma “Sala de professoras”, compartilhando suas ações, inquietações e descobertas.
Então, vamos juntas(os) imaginar que nossa sala irá se expandir para permitir a entrada e acolher as experiências vividas em salas de aula de outros cantos do Brasil: do município de Rio Largo, no Estado de Alagoas, quem “puxa uma cadeira” é a professora Polyanna Paz de Medeiros Costa; do município de Tanque d’Arca, também de Alagoas, chega a professora Maria Juciele Amancio Souza Silva e, pra tomar conta da última cadeira, logo entra na sala o professorJosé Gilson Lopes Franco, vindo de Fortaleza, no Estado do Ceará.
A professora Polyanna, por meio da publicação “Sinhô cordel”, conta que, assim como a professora Tati, desenvolveu um trabalho com estudantes do 8º ano “(...) tendo em vista a necessidade de despertar nas alunas e alunos o prazer pela leitura e de desenvolver a capacidade de interpretar o que leem, fazendo uso de folhetos de cordel de vários cordelistas”. Ela, ainda antes de apresentar a fundamentação teórica e as etapas de sua sequência didática, ressalta que “sabemos que o cordel é uma das mais expressivas formas da cultura nordestina, por isso os textos cordelistas têm tudo para ser um grande aliado nas estratégias de leitura e compreensão de fatos da realidade. A partir do contato com a literatura de cordel, o aluno compreenderá que não há limite na escolha dos temas para a criação de um folheto”.
Já a professora Maria Juciele, ao relatar sua experiência com estudantes do 9º ano na publicação “Minha leitura, meu barbante”, dialoga com o projeto da professora Tati na medida em que, ao constatar o desconhecimento de suas turmas acerca da literatura de cordel, também elaborou um projeto que pudesse romper “o distanciamento dos estudantes com o hábito e com o prazer de ler”, destacando o cordel por sua “vasta temática”, o que favoreceu “as construções textuais” e propiciou “a criação de narrativas poéticas que tratam de um sem-número de assuntos”. Esclarece, ainda, que “esse fator de liberdade para as criações aguçou ainda mais a criatividade dos alunos para a construção de narrativas”, compondo, de forma muito significativa, um passeio reflexivo pelos multiletramentos.
Na esteira dos dizeres das professoras Tatiana, Polyanna e Maria Juciele, o professor José Gilson inicia sua participação nessa troca de experiências declarando: “eu queria que eles respirassem cordel”. E, para isso, elaborou o projeto “Literatura de Cordel: um caminho para o ensino da escrita” e conta que “eu não pensava em formar grupo de cordel. Pensava em melhorar a leitura e a escrita dos meus alunos do 7º ano. Quando escolhi o gênero, era pela oralidade, por ser um tipo de linguagem coloquial, muito próxima da fala deles. Não queria nada muito rebuscado, aquela fala muito planejada. E os alunos em momento algum resistiram ao projeto porque eles são muito poetas! Gostam da sonoridade, da musicalidade do poema e da busca pela rima ideal. Na casa deles, o cordel é algo muito presente, vem de gerações”. Com o desenvolvimento da proposta, os demais anos finais do Ensino Fundamental passaram a trabalhar com o cordel e até fundaram um grupo de cordelistas na escola!
Sob efeito de tantos reflexivos dizeres, fico a pensar em nosso objetivo de promover a formação integral e protagonista de nossas meninas e meninos e no quanto a literatura de cordel favorece encontros com o conhecimento... Então, para dar voz às(aos) estudantes, encerro essa conversa com a sabedoria de Davi Henrique Teófilo de Azevedo Lima, do município de Bom Jesus, no Rio Grande do Norte, e seu inesquecível texto “Nos dez de galope lá no meu lugar”:
"Triste fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto
Áudio: Ruan Messias Fernandes – 17 anos; Ewellyn Rayane Santos Silva – 16 anos.
Estudantes autoras(es): Ana Clara dos Santos Pereira – 16 anos; Camila Kawanny Santos Souza – 17 anos; Ewellyn Rayane Santos Silva – 16 anos; Giovanna Mel Ivo de Oliveira – 16 anos; Layra Juliane de Araújo Lima – 17 anos; Ruan Messias Fernandes – 17 anos.
Patrícia Calheta é mestra em Linguística Aplicada pela PUC-SP, especialista em Ensino de Língua mediado por computador pela UFMG e em Gestão Escolar pelo SENAC-SP. É também formadora de professoras(es) e gestoras(es), em redes públicas e privadas e coordenadora pedagógica da Redelê. No Programa Escrevendo o Futuro, atua como colaboradora e formadora desde 2010, desenvolvendo diversas ações, tais como: a coordenação pedagógica de mediadoras do curso "Sequência Didática: aprendendo por meio de resenhas" (de 2012 a 2022) e a elaboração de textos para publicação no Portal, assinando como Olímpia, em "Pergunte à Olímpia" (de 2013 a 2023).
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