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Na Ponta do Lápis: revista chega ao número 40 com edição especial sobre culturas indígenas

Na Ponta do Lápis: revista chega ao número 40 com edição especial sobre culturas indígenas

Edição traz panorama das línguas indígenas do Brasil, obra literária de Kamuu Dan Wapichana e artigos que orientam a leitura e discussão da temática na escola

Edição traz panorama das línguas indígenas do Brasil, obra literária de Kamuu Dan Wapichana e artigos que orientam a leitura e discussão da temática na escola

Marina Almeida

30 de agosto de 2023

A edição 40 da revista Na Ponta do Lápis já está disponível na íntegra. Clique aqui para ler!


Reflorestando territórios de palavras e histórias, a revista Na Ponta do Lápis chega ao número 40 divulgando as línguas e as literaturas indígenas brasileiras. Por meio de textos literários, artigos, entrevistas e belas ilustrações, a nova edição convida leitoras e leitores à descoberta das poéticas indígenas e a um mergulho no rio da memória das centenas de povos cujas culturas foram, por muito tempo, invisibilizadas pela sociedade brasileira.

Maria Aparecida Laginestra“Esperamos contribuir para alargar o repertório cultural de professoras e professores que não aprenderam sobre os povos indígenas em suas formações. Buscamos apoiá-las(os) em seu trabalho em sala de aula, tanto com ideias de como abordar os textos literários, quanto com a ampliação de suas concepções sobre os indígenas e o combate aos estereótipos ainda difundidos pelo país”, explica Maria Aparecida Laginestra, coordenadora editorial da publicação.

Giselle RochaGiselle Rocha, técnica do Programa Escrevendo o Futuro e editora da revista, ainda ressalta a diversidade geográfica da edição, que traz textos assinados por indígenas das diferentes regiões do Brasil. O fato de trazerem autoras(es) que vivem ou trabalham em aldeias ou cidades distantes dos grandes centros apresentou desafios tecnológicos, já que o acesso à internet, nesses casos, era instável e algumas reuniões virtuais precisaram ser remarcadas várias vezes. Trabalho recompensado pela ampliação das vozes que compõem a revista.

Línguas indígenas

O desafio para criar uma edição temática sobre culturas indígenas começou com a necessidade da própria equipe ampliar seu repertório sobre o assunto, como conta Giselle. A exposição “Nhe’ẽ Porã – Memória e Transformação”, sobre línguas indígenas, que esteve em cartaz recentemente no Museu da Língua Portuguesa, de São Paulo (SP), foi o ponto de partida para a investigação sobre esse enorme universo cultural. Não à toa, a curadora, Daiara Tukano, foi a entrevistada desta edição. Em “Ideias para reflorestar o mundo”, ela fala sobre as línguas indígenas e o papel da oralidade na continuação da memória e tradições de seu povo.

Na conversa, Daiara, que também é artista visual, compartilha sobre seu processo criativo, fala sobre educação, ativismo e sua relação com os livros indígenas e não-indígenas. Em suas palavras: “é a nossa postura que nos permite ressemear o mundo, reflorestar o mundo ou não. O que tem para aprender, primeiramente, é se sentir relacionado ao território, se sentir filho, neto, irmão desse rio, dessa terra, desse chão. E querer zelar.”

Já o artigo “Um Breve panorama das línguas indígenas do Brasil” mostra a diversidade de idiomas falados no Brasil. Assinado por Anari Braz Bomfim, do grupo pesquisadores Pataxó ATXOHA e doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o texto mostra que os idiomas originários não se resumem às línguas tupis e explica sobre os troncos e famílias linguísticas indígenas existentes no Brasil.

Literatura indígena

Na Página Literária, o escritor Kamuu Dan Wapichana nos conta a história do maziki, a semente tradicional de milho de sua comunidade, de como ela quase se perdeu com a introdução de outras espécies de milho pelo homem ‘branco’ e do seu resgate feito pelos pajés. O autor premiado, que também atua como formador sobre a temática indígena-ambiental, publicou o livro Presente de Makunaimã em versão bilíngue. Do mesmo modo, a revista destacou um texto na língua wapichana e, ao lado, a versão em português.

Ilustrando o texto, as imagens de Aju Paraguassu ajudam a contar essa história de milhos coloridos, plantas com espíritos e terra férteis para as boas sementes. Em seu processo de criação, a artista buscou o contato de Kamuu Dan Wapichana para confirmar a cor do maziki, um milho avermelhado, de forma a garantir uma representação fiel da espécie. “A diversidade indígena do Brasil é tão gigantesca quanto seu território. É muito arriscado desenhar sobre tantas tradições que não vivemos, pois o risco de sermos colonizadores sobre a cultura desconhecida é muito grande. Por isso é interessante trocar com que dá voz àquele texto”, diz Aju, responsável por todas as ilustrações da edição. Ela explica que, ainda que não tenha conseguido fazer essa troca com todas(os) as(os) autoras(es) publicadas(os) na revista, pesquisou sobre essas pessoas e suas etnias para fazer suas criações. O resultado revela cores e formas que refletem a diversidade das culturas indígenas do Brasil, ao mesmo tempo em que traz uma unidade para toda a publicação.

A ilustradora ainda conta que sua própria família tem ascendência indígena, apesar de ter passado por um processo de embranquecimento, e que busca retomar essa memória. Para apoiá-la nessa retomada, ela procura se libertar do excesso de racionalização em seu processo de criação: “por isso conto tanto com os sonhos, com as intuições, e com o auxílio dos invisíveis, dos encantados. Peço muito por guiança dos que me cuidam no momento de criar para uma narrativa.”

Em seguida, a seção “Óculos de Leitura” promove um mergulho no texto de Kamuu, contextualizando sua produção, a etnia do autor e ampliando a leitura da obra. No artigo, Truduá Dorrico, escritora indígena e doutora em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), enfatiza como a obra possui também um forte caráter político, que remete à discussão sobre agrotóxicos, monocultura e sementes transgênicas – um modo de produção que “fere a própria terra e o princípio da coexistência plural que a floresta nos ensina desde sempre”, diz a pesquisadora.

“Esse texto funciona como uma lente sobre a narrativa de Kamuu, que nos ajuda a sair de uma leitura superficial e a aprofundar nossa interpretação sobre a obra. É um apoio importante sobretudo para as(os) docentes que queiram trabalhar com o texto em suas aulas”, ressalta Maria Aparecida.

Culturas indígenas na escola

A autoria desses povos ainda é tema do artigo “Lê, para se encontrar no mundo: a Literatura Indígena na sala de aula”, da educadora Jeane Almeida da Silva. Partindo de seu próprio percurso de descoberta das narrativas indígenas, ela conta como montou seu acervo pessoal de autores e dá dicas para as(os) professoras(es) sobre como abordar essas obras em sala de aula. A professora ainda traz sugestões de livros e relata como levou essas(es) autoras(es) para o trabalho com suas(seus) estudantes na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (Normandia-RR). “Ao lerem as obras, principalmente as(os) escritoras(es) indígenas locais, muitas(os) alunas(os) puderam se reconhecer nas histórias e reconhecer a fala de suas(seus) parentes”, diz Jeane em um trecho de seu texto.

Ampliando essa discussão, Zilma Rosana Acevedo Oliveira escreve o artigo “Educação Escolar Indígena: Existir para Resistir”. Ela, que pesquisa essa temática em seu mestrado na Universidade do Estado do Pará (UEPA), explica como o direito ao ensino diferenciado, específico, bilíngue/multilíngue e inter/multicultural para esses povos foi definido na Constituição Federal de 1988. O artigo mostra o percurso que escolas e redes de ensino vêm trilhando desde então na busca por garantir esse direito, além de abordar o surgimento de novas legislações, como as que promovem a formação de professoras(es) indígenas.

Zilma, que atua também na Assessoria de Educação Escolar Indígena da Secretaria de Educação de São Gabriel da Cachoeira (AM), destaca ainda como esse rompimento de barreiras na forma de oferecer a educação é necessário não apenas para as escolas indígenas. Afinal, pensar um currículo diferenciado, que rompa preconceitos e valorize a diferença é fundamental para garantir mudanças significativas na educação de um país diverso e multiétnico, como o Brasil.

Edição especial

“Essa composição de vozes de diferentes naturezas e caminhos proporciona uma grande fotografia sobre as culturas indígenas”, diz Giselle. Maria Aparecida ainda destaca a longevidade da Na Ponta do Lápis. “Uma revista voltada para a educação que existe desde 2005 é uma grande vitória, que deve ser comemorada. Passamos por muitas mudanças em todos esses anos e chegamos à 40ª edição com um material muito rico, bonito e que, acreditamos, pode ser de grande auxílio para as professoras e professores brasileiros”, diz.

“Fica o convite para que nossas(os) leitoras(es) entrem conosco nas águas desses rios ainda pouco conhecidos por muitos brasileiros, para que se abram à descoberta de algo que talvez não tenham tanto contato e para que se aproximem de uma literatura ainda pouco difundida no país”, completa Giselle.

Clique aqui e acesse a edição nº 40 da revista Na Ponta do Lápis.

Confira aqui as demais edições da revista Na Ponta do Lápis.

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