Cara Silmara,

Você não imagina a minha alegria ao ler sua mensagem…

Vivo rodeada por professores e, assim como você, sempre percebo a preocupação com a relação entre letramento e alfabetização, muito válida e fundamental, mas que, por vezes, parece gerar a ideia de que o olhar para as práticas sociais de leitura e escrita apenas torna-se essencial quando da reflexão sobre o sistema de escrita!

E, então, surgiu sua pergunta e, com ela, a oportunidade ímpar de falar um pouquinho sobre uma questão talvez menos prestigiada, mas igualmente importante; obrigada!

Bem, como você claramente indicou, ”o letramento abrange todas as etapas da escolaridade“ e nunca termina, mesmo após a escola. Isso se deve especialmente ao fato de que novas práticas e gêneros são cotidianamente constituídos, para atender às necessidades cada vez mais abrangentes que temos de nos comunicar. Assim, antes, durante e depois da escola temos a oportunidade de ampliar nossa história de letramento, ou seja, conhecer e utilizar os mais diversos gêneros, a fim de atingirmos nossos objetivos, nas mais diferentes situações de produção.

Mas para falar sobre o papel e lugar desse trabalho na escola após a alfabetização, entendo que precisamos, como ponto de partida, alargar nosso olhar para poder ver de fato as implicações das ações pedagógicas voltadas ao letramento.

Como sabemos, há uma ”íntima ligação” entre essa noção e a de gêneros do discurso, já que toda situação de produção convoca/determina um gênero que melhor se ajusta aos objetivos pretendidos. Um exemplo simples para tornar nossa conversa menos teórica: vamos imaginar que seus alunos do 4o. ano costumam fazer reclamações sobre um problema do bairro ou mesmo da rua onde fica a escola. Então, você resolve aproveitar essa discussão para propor um trabalho que envolve uma prática de escrita. O que precisaremos pensar? Algumas questões centrais são: qual o gênero que iremos produzir? para quem? e para quê?

Por meio dessas questões, essenciais a todo processo de produção de texto, podemos chegar a gêneros como carta de reclamação, carta de leitor (para publicação em jornal da cidade/bairro), abaixo-assinado, entre outros. Então, estamos diante de uma situação na qual o trabalho com o letramento será necessário, a fim de permitir que os alunos participem de práticas de leitura e escrita com um ou mais dos gêneros citados, a fim de escolherem qual o mais adequado para o alcance do objetivo da produção textual.

Em outras palavras, o conhecimento sobre a carta de reclamação, por exemplo, fruto da participação dos alunos em práticas de letramento (pela leitura e estudo desse gênero), é que favorecerá a condição de se produzir uma carta de reclamação fiel às características do gênero (ou, como costumo dizer, ”um texto com cara de carta de reclamação”).

Tudo isso para mostrar que quando lançamos a proposta de trabalho com gêneros estamos anunciando a possibilidade de ampliação de conhecimentos por meio de práticas sociais de uso da leitura e escrita, ou seja, do letramento.

Para terminar, a fim de ajudá-la em relação a leituras e abordagens para a atuação na sala de aula, sugiro a retomada de algumas de minhas respostas com indicações de diferentes textos, especialmente duas: “Trabalho de verdade“ com gêneros na escola e Gêneros nos anos iniciais: diversão que ensina.

Mais uma vez, obrigada pelo envio da pergunta, um abraço e até já,

Olímpia