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Uma batalha de poesia autoral, sem acompanhamento de instrumentos musicais ou objetos cênicos, apenas a palavra e o corpo de quem declama a poesia – esse é o slam. O movimento, que começou nos EUA nos anos 1980, chegou ao Brasil em 2008 e desde então tem se espalhado por diversas cidades do país. Só no Campeonato Brasileiro de Slam (Slam Br), uma competição nacional cujo finalista se apresenta na Copa do Mundo de Slam, participaram 53 grupos de diferentes estados brasileiros.
No Slam das Minas, de São Paulo, apenas mulheres participam das batalhas. Elas falam de suas vivências, dificuldades e do machismo que sofrem em seu dia a dia. A ideia é garantir um espaço seguro para que as mulheres possam se expressar livremente, explicam Pamella Araújo, a Pam, de 23 anos, e Carolina Peixoto, 29, que participam da organização do slam. Elas ainda contam como se descobriram poetas ao participar do movimento, passaram a ler mais autores e como as batalhas de poesia podem ajudar os alunos a se interessar mais por leitura e escrita.
No Slam das Minas alguns temas como o assédio, a repressão sexual da mulher, o racismo e a homofobia são muito frequentes. Por que é importante para as mulheres falarem sobre essas questões? Esses debates podem ser levados para dentro da escola também?
Pam – Com certeza eles devem ser levados para a escola. O slam vem de uma tradição de rua, assim como a batalha de MC’s e o rap, e traz um cunho social muito forte. Quem participa, na sua maioria, são pessoas da periferia, que falam sobre seus problemas, seja o racismo, homofobia, opressão... E no Slam das Minas aparecem questões que permeiam a vida da mulher, então falamos de machismo, assédio, as mulheres pretas falam de racismo, as mães de suas questões. Alguns professores relutam em levar essa poesia da rua para a escola, mas é muito mais fácil conversar com o aluno trazendo uma realidade mais próxima dele primeiro. E todo mundo gosta de competição, então uma batalha de poesia torna tudo mais interessante.
Carol – O slam se torna uma ferramenta, a poesia no geral. Ela me trouxe uma consciência política e social que eu nunca tive, comecei a repensar minhas atitudes que reproduziam o machismo, o racismo em alguns momentos. A poesia falada tem esse poder de discutir, causar um incômodo. Eu tive contato com Cecília, Drummond, Quintana na época da escola, mas nunca gostei. A partir do momento que conheci a poesia falada, eu me interessei por outros estilos também. Hoje leio Drummond e adoro. O slam é uma forma de dialogar com as pessoas e despertar seu interesse.
O Slam surgiu como uma competição de poesia entre grupos marginalizados da sociedade. Por que fazer um slam só para mulheres?
Carol – O primeiro slam só de mulheres surgiu em Brasília, com a Tati Nascimento e umas manas dela. Fizemos um debate com ela sobre a importância de eventos assim, o que deu origem a uma primeira edição experimental do Slam das Minas aqui. Nesse primeiro evento colou muita gente e percebemos que realmente precisávamos de um espaço assim em São Paulo também. Até a gente conseguir recuperar nosso lugar na história vamos precisar de um espaço só para negros, outro só para mulheres, outro para gays. Em 2015, na final do Slam Br, a primeira rodada tinha mais mulheres que homens, mas só uma passou para a segunda fase e ela não chegou à final. A gente participava desses espaços, mas ainda não estava sendo ouvida e reconhecida. No Slam das Minas, não, a maioria é mulher, tem muita gente participando pela primeira vez.
Pam – É até um problema, porque 90% do público é mulher também. E a gente está ali para falar não só para as mulheres, elas já sabem o que é sofrer com o machismo. Nos outros espaços não é uma questão de falta de respeito, mas é algo da sociedade como um todo. Somos ensinados a não gostar de ouvir voz de mulher, porque “é irritante”, “é fina”, não queremos escutá-las. Aí quando você vai ouvir mulheres no microfone, falando poesia, acaba não dando nota para elas, porque já ouve com uma barreira, nem presta atenção no que estão dizendo. No Slam das Minas só batalha mulher e não aceitamos homens machistas lá, porque é um espaço de segurança para as mulheres, para elas poderem falar o que quiser sem medo, sem se sentir intimidada. Já se uma mulher que frequenta o espaço fala coisas machistas, entendemos que é importante que ela esteja ali para conversarmos.
Carol – Lá a gente quer curar as mulheres e não os homens machistas. Que eles busquem transformação e evolução em outro lugar.
Além do texto, a performance – o ritmo da leitura dos poemas, a entonação, os gestos – tem um papel relevante nos Slams. Isso influencia na avaliação de quem se apresentou? Por que esses elementos são importantes?
Carol – O jurado é escolhido na hora e a avaliação depende de como a poesia bate nele. Eu, Carol, gosto muito de ouvir algo que seja diferente do que os outros estão falando e, na performance, presto muita atenção no ritmo. Gosto quando a poeta consegue usar bem o corpo, os tons de voz, alternar os ritmos... E é assim também que aprendi a me apresentar: vendo e me experimentando.
Pam – Performance chama mais a atenção, porque não estou só falando, estou mostrando. Você não está só ouvindo, está vendo, consegue sentir com mais força o que eu quis dizer com aquilo, mexe com suas emoções.
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