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biblioteca / histórias do Escrevendo o Futuro

Lembranças que viram histórias

Escrevendo o Futuro

07 de agosto de 2023

Alunos da pequena Campos Novos Paulista encontram a história da cidade nas memórias de antigos moradores,
transformando relatos em textos e fortalecendo a identidade com o lugar.

 

Luiz Henrique Gurgel

A luz acabava às dez da noite. Pouco antes, um apito soava pela cidade avisando que o gerador seria desligado e tudo ficaria às escuras. As pessoas corriam aos lares para não caminharem na escuridão ou, dependendo da noite, sob a luz do luar. Dentro das casas, velas e lampiões eram acesos e, no terceiro e último sinal, a luz era cortada. Histórias como essas, de décadas passadas, impressionaram as crianças de Campos Novos Paulista, cidade de 5 mil habitantes no extremo oeste do Estado de São Paulo. Alunos de 5ª série da Escola Estadual Profº Theodorico Oliveira, entrevistaram antigos moradores, ouviram as histórias e transformaram em textos a memória afetiva da cidade para participar do Prêmio Escrevendo o Futuro em 2004.

Antiga estância turística, localizada entre os rios do Peixe e o Paranapanema, Campos Novos Paulista viveu seu apogeu com o Hotel Climático fechado em 1999, e que desde os anos de 1960 atraía visitantes de várias partes do Brasil, motivo de orgulho entre os habitantes da cidade. As lembranças relacionadas ao hotel ficaram presentes na memória coletiva. Outra marca dessa memória era o antigo gerador que fornecia energia à cidade e que regulava as atividades de seus moradores. Hoje descansa em praça pública, como um marco da história sentimental do lugar, monumento à máquina que iluminava Campos Novos.

Mas naquele ano de 2004, a professora Silvana Barbosa, ao participar do Prêmio, não imaginava que ia envolver não apenas os alunos, mas também famílias, escola e tanta gente da comunidade. Numa das primeiras oficinas, ela pediu fotos e objetos relacionados à história de Campos Novos e às lembranças das pessoas entrevistadas pelos alunos. Além de fotos, os estudantes trouxeram utensílios e instrumentos de trabalho: peneiras de fibra trançada, enxadas, arados, máquinas de costura, ferros de passar roupa à brasa, caldeirões e até uma máquina para debulhar milho. O apoio foi tanto que a turma decidiu montar uma exposição.

Duas professoras aposentadas foram escolhidas para uma entrevista coletiva na própria escola, Onélia Magdalena de João, 79 anos e Afria Bertoncini Manzano, de 68. Elas haviam lecionado no Professor Theodorico desde a fundação da escola. Silvana Barbosa temia piadinhas. Não teve nada disso. O tempo parou na sala de aula. Enredados pela narrativa das venerandas senhoras, foram tomados por um silêncio interno em que apenas as duas vozes os conduziam por ruas quase escuras, imaginando gente apressada, com roupas de outras épocas, querendo chegar em casa antes do último sinal e do apagar completo das luzes. Também se viam zanzar pelos corredores do outrora luxuoso hotel, agora abandonado; ou imaginar como eram românticos os encontros dos namorados, às escuras, atrás da igreja, para trocar beijos inocentes sob as estrelas. O fim dos relatos funcionou como uma luz que se acendesse no cinema e quebrasse o encanto. Despertos, alunas e alunos ainda insistiram com novas perguntas, como se não quisessem retornar daquela viagem no tempo.

Tudo isso foi virando texto. Havia até uma ansiedade para começar logo a escrever e não perder nada do que haviam ouvido naqueles instantes de encantamento. Depois, outras tantas leituras e reescritas. Na escolha do texto que seria enviado para o Prêmio organizou-se uma festa com pais, alunos, professores e depoentes para uma audição coletiva. Virou momento de celebração.

As antigas novidades, inimaginadas pelas crianças, reforçaram laços com a comunidade e sua história. A memória de Campos Novos Paulista passou a fazer parte da vida delas.

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