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"Eu sou minha imaginação e meu lápis. Quando o lápis acerta um erro, ele percebe e grita por uma borracha. Visto que eu seja atrasado por não usar computador". "É que as minhas palavras se dão melhor no cisco do que no asfalto. Se dão melhor nas águas tristes do que nos salões. (...). Eu não comando as minhas palavras. Elas que gostam do chão e das coisas desimportantes. As palavras me elaboram".
Em frases como essas, algumas das muitas escritas ao longo de uma trajetória de vida marcada pela criação de um acervo de poemas considerado um dos mais importantes da literatura contemporânea brasileira, Manoel de Barros expõe a natureza da essência que o consagrou como o "poeta das miudezas".
Segundo define Marcelino Freire, escritor e autor, entre outros, do romance "Nossos Ossos" (Editora Record), Manoel de Barros "é o grande poeta das coisas ínfimas, miúdas". Freire afirma que ele inaugurou uma nova forma de linguagem e "como todo poeta tem de fazer", criou uma "gramática própria, feita de ciscos de rua e de moscas de pensão".
Nascido em Cuiabá (MT) em 19 de setembro de 1916, Manoel Wenceslau Leite de Barros viveu até 2014 em outro estado do Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul, onde viveu como fazendeiro e poeta, e partiu deixando um importante legado. Desde a morte de Barros, sua filha a artista plástica Martha Barros vem organizando materiais inéditos deixados por ele no escritório da casa da família.
Boa parte desse acervo foi disponibilizado por ela ao Itaú Cultural, na bela homenagem feita pelo instituto ao autor, na forma da “Ocupação Manoel de Barros” - a 43ª produzida em dez anos pelo espaço -, que foi aberta gratuitamente ao público entre os dias 13 de fevereiro e 7 de abril. A Ocupação foi projetada pela cenógrafa Adriana Yazbek em um espaço no qual foram distribuídos 300 itens do acervo do autor, cedidos por Martha.
Além de um grande painel eletrônico disposto logo na entrada da exposição, onde frases do poeta foram exibidas em tamanho grande, havia anotações, fotos, livros distribuídos por prateleiras na Ocupação, possibilitando a leitura de quem quisesse conhecer a obra de Barros. Desenhos simples feitos por eles, pinturas de Martha que ilustraram publicações do autor, poesias nunca publicadas e seus famosos cadernos de rascunho puderam ser vistos na mostra.
Conforme explica Camila Fink, produtora do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural, e integrante da equipe curatorial da exposição, os cadernos colocados para apreciação de visitantes na mostra foram confeccionados pelo próprio autor. Grande parte deles feitos por materiais que Barros reaproveitava, como restos de papel sulfite, pedaços de cartolina e cartões postais, e elaborados com a característica caligrafia miúda do poeta, versos, desenhos e reflexões sobre leituras de outros autores. “Procuramos retratar quem foi Manoel Barros, por sua própria obra, seguindo a cronologia dos trabalhos e destacando frases e poesias em que ele se auto define”, conta Camila.
Essa característica foi expressa na própria disposição da Ocupação. Livros de Manoel foram distribuídos por prateleiras no espaço expositivo, para quem quisesse conhecê-los ou relê-los. A mostra também contou com vídeos contendo narrativa em libras e audiodescrição, com depoimentos de pessoas próximas ao poeta e mostrando ele próprio em ramos momentos de entrevistas. Em um desses materiais audiovisuais, a atriz Cássia Kiss relembra a importância de Manoel. Os visitantes puderam, ainda, ouvir poesias de Manoel de Barros gravadas pelo escritor Marcelino Freire e pela cantora Marlui Miranda.
A Ocupação recebeu a visita de várias excursões de professores e alunos de escolas. O professor Alexandre Barbosa da Costa aproveitou ao máximo a ocasião para explicar a seu grupo de alunos, as peculiaridades da obra de Manoel de Barros. “Achei importante que os estudantes tivessem contato com o gênero lírico de Manoel de Barros, a forma como ele constrói nas poesias seu próprio autorretrato, seu conceito de que as coisas simples são as mais importantes e que ser feliz com elas, é possível”, disse Costa.
Edson Bismark, educador do núcleo de Educação e Relacionamento do Itaú Cultural, ressalta a influência do poeta, do ponto de vista educacional. “A importância do Manoel de Barros, pensando em educação, está na construção de seus cadernos de rascunho e no estilo de escrita que foge um pouco do convencional do período em que foi descoberto, bem como nas criações ou jogos gramaticais dentro de seus poemas. Poderíamos fazer uma análise sobre cada uma delas, mas o que podemos destacar com clareza, não só no ponto de vista educacional, é a criatividade. Ela está em cada uma dessas vertentes citadas, que para o Manoel, eram parte crucial do seu trabalho”, afirma. Bismark ainda acrescenta que os valores expressados na obra do poeta “são cruciais no desenvolvimento educacional de um modo geral, ou pessoal pensando nos professores e nos estudantes como indivíduos”.
Confira abaixo o vídeo e a publicação da Ocupação, com fotos, textos, manuscritos e cartas.
Foto 1: Manoel de Barros em sua casa em Campo Grande
Marcelo Buainain
Foto 2: Pinturas feitas por Martha, filha de Barros.
Suzana Camargo
Foto 3: A Ocupação recebeu a visita de várias excursões de colégios.
Suzana Camargo
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