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sua prática / relatos de prática

Da última à primeira crônica

Solange Andrade Ribeiro

08 de agosto de 2023

Escola Municipal Professor Hilson Bona
Campo Maior/PI

Quando as inscrições para a Olimpíada de Língua Portuguesa iniciaram, fui convidada para realizar uma formação de apresentação para os professores do meu município, com o objetivo de estimular as inscrições e participação de todos. Foi um momento importante, pois muitos professores ainda tinham várias dúvidas.

Como professora, eu sabia que teríamos um grande desafio pela frente. Além da Olimpíada de Língua Portuguesa, seria ano de prova SAEB. Então era necessário um bom planejamento do tempo das aulas, para que a frequência de aplicações e correções de simulados não colocassem as oficinas de leitura e escrita em segundo plano. 

Embora os alunos já estudassem na minha escola, eu ainda não havia tido nenhum contato com eles nas séries anteriores. A minha primeira missão seria conhecê-los como leitores e escritores. Então propus a escrita de um relato de experiências de leitura e escrita, após mostrar a eles o meu próprio texto. Uma das estratégias que aprendi no curso "Leitura vai, escrita vem". Confesso que não me causou nenhuma surpresa o resultado dos textos. A maioria dos alunos tivera pouco ou nenhum contato com livros paradidáticos e tinham muita dificuldade em produzir textos. E isso era perceptível pelas poucas linhas que alguns conseguiram produzir.

A apresentação da Olimpíada de Língua Portuguesa para os alunos era um momento muito decisivo, pois, a partir da minha provocação, poderia alcançar resultados positivos ou não. Então, produzi slides e selecionei os vídeos sugeridos na primeira oficina do caderno "A ocasião faz o escritor" e procurei empolgá-los de forma a perceberem que poderiam aprender a redigir um texto de maneira lúdica e eficiente.

Eu sabia também que era o meu momento de fazer o curso "Avaliação Textual: análises e propostas", pois até a última edição da Olimpíada, os textos dos meus alunos sempre eram selecionados para a etapa Estadual, mas nunca conseguimos chegar à Semifinal. Então fazer o curso me ajudaria muito a avaliar e a ajudá-los a melhorar os textos. Fiz minha inscrição e acabei fazendo o curso completo. Foi muito enriquecedor.

Iniciamos as oficinas e criei um grupo de whatsapp com os alunos para compartilharmos crônicas, mas como a maioria dos meus alunos não tinha acesso à internet e nenhum contato com jornais ou revistas de grande circulação, tive que também providenciar cópias de crônicas para que eles pudessem ler e compreender esse gênero textual que passaríamos a conhecer de maneira mais detalhada. Eu podia contar também com as coletâneas que vieram nas primeiras edições da Olimpíada. Ainda temos na escola e são sempre guardadas no final de cada edição para serem utilizadas nos anos posteriores. Primeiro eles conheceram Fernando Sabino com "A última crônica", que despertou uma linguagem mais lírica nos alunos, a vontade de observar as pessoas, as paisagens, o mundo ao seu redor de uma maneira mais especial, diferente, como se fosse a primeira vez. Depois passaram a lidar com algo novo para eles: teriam que analisar o jeito de narrar utilizado pelo cronista. Então observei que eles tinham facilidade de identificar alguns tons como o humorístico, mas tinham dificuldade de perceber a ironia de alguns textos. Só com o tempo e muita leitura se tornariam capazes de identificar os tons e usá-los nas produções textuais.

Em seguida, deparei-me com outro tipo de dificuldade: a frequência dos alunos. Eles faltavam muito. Então alguns não se sentiam preparados para escrever as primeiras linhas, enquanto aqueles que haviam participado das primeiras oficinas acabavam faltando no dia da produção. Tinha que ter muito jogo de cintura para manter a turma toda produzindo. É claro que nas primeiras tentativas ainda não saiu nenhuma crônica, muitos escreviam relatos, notícias, ou simplesmente um parágrafo bem tímido de alunos que não estavam acostumados a escrever. Percebi que teria muito trabalho pela frente, mas o meu desejo de desenvolver a habilidade de escrita deles era maior que as dificuldades.

Com o estudo das figuras de linguagem eles começaram a perceber que alguns recursos linguísticos poderiam enriquecer os textos e foi muito interessante trabalhar com os sentidos das palavras de acordo com o contexto. As aulas se tornaram mais dinâmicas e os alunos adoraram falar de futebol e de amor. Depois, com Machado de Assis e Moacyr Scliar, eles puderam entender que para uma boa crônica era necessária uma pitada de ironia ou de bom humor.

Antes de chegar o momento de escrever o texto final, selecionei, ainda, alguns textos dos finalistas de 2012. Minha intenção era que os alunos pudessem ler textos e se identificassem com adolescentes que tinham a mesma idade e frequentavam a mesma série no ano em que participaram do concurso. Eles adoraram os textos, principalmente a crônica "Relógio Jumento". Difícil foi controlar os ânimos depois da leitura, pois alguns insistiam em querer imitar o jumento (animal também típico da nossa região).

Fiquei ansiosa para ler as produções dos meus alunos. E dessa vez eles haviam produzido mesmo, não era apenas um parágrafo. E isso para mim era muito gratificante. Embora alguns ainda não tivessem conseguido escrever um texto com todas as características de uma crônica, conseguiram produzir um texto com início, meio e fim.

Chegar à etapa estadual, para mim, era gratificante, mas chegar até a etapa semifinal era um desejo que eu tinha, e foi sensacional receber o e-mail com a notícia tão esperada. Na próxima semana, seguiremos rumo à São Paulo. Será uma experiência inédita nas nossas vidas e tenho uma grande certeza, iremos aprender muito. E, se Fernando Sabino quisera sua última crônica pura como o sorriso daquele pai, eu quis que a primeira crônica de meus alunos transmitisse a sensibilidade de um menino.

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