Lendo mulheres: a literatura de autoria feminina nas salas de aula
formação leitora, literatura de autoria feminina, ensino de literatura, literaturas e identidades
Escola Tomé Francisco da Silva
Quixaba – PE
A Olimpíada de Língua Portuguesa tem desempenhado um papel relevante em minha prática pedagógica. Em 2010, fui semifinalista com uma aluna no gênero textual Crônica e, em 2012, tive o prazer de ver a escola na qual trabalho ser finalista.
Minha paixão pela Olimpíada levou-me, em 2014, a realizar uma pesquisa de Mestrado sobre Gêneros Textuais e Prática de Reescrita, a partir de textos de alunos do 9º ano. Foi um momento especial em minha vida: nesse trabalho analiso a importância da sequência didática, a evolução das produções após a reescrita e o impacto dos bilhetes orientadores nas produções dos alunos.
Decidi participar da Olimpíada este ano, sabendo que enfrentaria dificuldades, pois pela primeira vez trabalharia com o gênero Artigo de Opinião. Além disso, apenas uma parte dos alunos reside no município de localização da escola (Distrito de Lagoa da Cruz, Quixaba - PE). Portanto, eu precisaria abordar questões polêmicas diversas: jamais poderia impor aos meus alunos escreverem sobre uma questão de outro lugar que não fosse o deles.
Iniciei a sequência didática divulgando a 5ª edição da OLP, ressaltando que estávamos diante de uma proposta muito além de um simples concurso de redação, que eles iriam aperfeiçoar habilidades de escrita e exercitar sua cidadania. Uma aluna perguntou: "Professora, qual a questão polêmica de Lagoa da Cruz? Duvido que a senhora encontre!"
Respondi que, em um lugar pequeno, muitas questões polêmicas existem nos silêncios impostos por determinadas situações. Não sei se li isto em algum lugar, ou se é apenas uma conclusão oriunda de minha experiência de vida. Na verdade, a questão polêmica que seria abordada ainda era uma incógnita para mim também. Devolvi a pergunta por outro leque de raciocínios: "Não temos problemas aqui?". Por unanimidade, os residentes no distrito responderam "sim", mas uma voz do outro lado da sala questionou: "Vou ter que escrever sobre os problemas de Lagoa da Cruz?". Precisei conciliar os ânimos quando os demais apoiaram o colega.
Orientei-os para que pesquisassem notícias em blogs locais sobre o lugar, principalmente fatos que revelassem problemáticas das cidades envolvidas, cujos efeitos fossem coletivos. Através da leitura de uma notícia e de um artigo de opinião da coletânea de textos, mostrei aos alunos a diferença entre os dois gêneros e a forma particular como o articulista tratou o fato, no desenvolvimento da tese e na argumentação utilizada.
Os questionamentos dos alunos ficaram em minha mente e fui para casa neste dia com o intuito de realizar a mesma tarefa que passei para eles. Pesquisei notícias de cinco cidades e levei o material para auxiliá-los. A roda de notícias serviu para aguçar o senso crítico da turma, pois os assuntos eram polêmicos: cidades envolvidas em esquema de corrupção, funcionários e aposentados com salários atrasados, a ausência de políticas públicas no enfrentamento da seca e o alto índice de acidentes de trânsito foram alguns dos temas das leituras. "Será que agora dá para imaginar que nas nossas cidades existem questões polêmicas?"- perguntei. A partir daí percebi maior interesse dos alunos e tive a convicção de que era hora de realizar um debate.
Preparei a atividade com questões do Jogo QP Brasil, algumas polêmicas recentes no cenário nacional e de outras formuladas a partir das notícias lidas. Em grupos, os alunos deveriam anotar argumentos contra e a favor e se prepararem para defender pontos de vista. No momento da socialização, exibi as questões em slides e entreguei placas coloridas: verde (a favor) e vermelho (contra) para que eles se manifestassem: foi um rebuliço, pois eles queriam falar todos ao mesmo tempo.
Um jogo emocionante de argumentos começou a invadir a sala de aula como uma sinfonia ritmada, com seus altos e baixos, réplicas e tréplicas. Posicionavam-se como cidadãos do presente e do futuro. O papel da escola como promotora da formação cidadã, conforme propõe a LDB (Art.2º), estava ali sendo concretizado.
Aproveitamos para decidir as questões polêmicas que seriam abordadas pelos alunos de cada lugar. Dia da produção inicial. Outro desafio. Como diz o ditado: "falar é fácil...". Comparo a transposição da fala para a escrita a um verdadeiro "parto" para alguns alunos, pois a folha em branco ainda representa pavor. Preparei 05 propostas de produção diferentes, a partir de algumas notícias selecionadas entre as pesquisadas por eles. Ao corrigir os textos, utilizando os bilhetes orientadores, fiz anotações de problemas comuns do ponto de vista discursivo e linguístico e apresentei à turma. Prossegui com as oficinas da coletânea, alternando leituras, análise de artigos e escuta de textos para sanar as dificuldades constatadas.
A reescrita coletiva oportunizou momentos significativos de aprendizagem, os alunos como avaliadores rapidamente apontaram os problemas: "o texto está pobre". No entanto, ao reescrevê-lo, o resultado não saiu como eu esperava. Anotei no meu diário de bordo que precisava traçar novas estratégias para melhorar a capacidade argumentativa dos meus alunos. Explorei o roteiro de avaliação do gênero, elaborei um esquema com as partes do artigo e analisei textos com a turma, destacando de cores diferentes informações, argumentos, opinião e análise do articulista.
A produção final trouxe um alento à professora que perdeu horas de sono numa frenética busca para formar alunos-autores. A forma como muitos deles se posicionaram encheram-me de orgulho.
O que posso demonstrar em trechos retirados de suas produções: "Vê-se na população jovem que irá votar pela primeira vez um total descrédito na política, o que no meu ponto de vista é lastimável, já que no jovem deveria estar à perspectiva de mudanças." (Edilene Gomes). "[...] discutir e debater o futuro da cidade é algo indispensável. Não podemos admitir a retirada irregular do nosso grande tesouro. A água desperdiçada hoje, futuramente, irá fazer falta a todos os moradores." (Clecya Pereira).
Hoje me sinto feliz em ver um desses aprendizes de articulista numa semifinal da Olimpíada de Língua Portuguesa, principalmente porque o que ele e seus colegas escreveram é mais do que artigos de opinião, é expressão de pura cidadania: "Em minha opinião, um distrito como o meu, pertencendo a dois municípios, deveria ser bem cuidado pelo poder público. Falta alguém que olhe com os olhos da mudança para o meu lugar [...]" (Júlio César de Lima).
Fazer perguntas, buscar respostas, despertar consciências: eis a síntese do meu trabalho com o gênero Artigo de Opinião.
Nas palavras do mestre Paulo Freire: [...] "não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes." Foi o que fiz, ou melhor, o que fizemos, eu e os meus 68 alunos-autores.
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