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sua prática / relatos de prática

Relatos de Prática Vencedor 2014 - Profª Cláudia Leal Ribeiro

08 de agosto de 2023

 

Desafiando a insegurança

Cláudia Leal Ribeiro
Escola Estadual Professora Eunice Souza dos Santos
Rondonópolis / MT

 

 

Ao realizar minha inscrição na categoria Memórias Literárias, hesitei. Confesso que me senti um pouco insegura e também descrente para realizar essa tarefa. A insegurança vinha do pouco conhecimento que eu tinha em relação a esse gênero textual. Já a descrença pautada no fato de alguns de meus alunos estarem com defasagem de aprendizagem, sem as competências necessárias para que um bom resultado fosse alcançado.

Felizmente não me deixei levar por essa mistura de sentimentos que me abateu e percebi que não tínhamos nada a perder. Muito pelo contrário, a oportunidade surgia para ambas as partes: para meus alunos, a possibilidade de aprimoramento do processo de leitura e escrita, e para mim, a contribuição para a prática pedagógica, uma vez que eu já conhecia a riqueza dos materiais disponibilizados à escola quando participei da 2ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, em 2010, na categoria Poema.

Comecei as oficinas tardiamente, pois o ano letivo de 2014 teve início somente no dia 17 de março, em razão do longo período de greve nas escolas estaduais de Mato Grosso. Como leva um tempo para conhecer os alunos, avaliar seus saberes, diagnosticar suas dificuldades, motivá-los a participar desse desafio e, sobretudo, inteirar-me do material proposto, somente na segunda quinzena de maio dei início ao trabalho.

Achei a proposta do gênero Memórias Literárias muito interessante, pois os alunos não escreveriam suas próprias memórias, mas as de um entrevistado de idade avançada. Muito criativa a ideia de fazer com que os estudantes conhecessem a história do lugar onde vivem através do olhar de antigos moradores.

Segui a primeira e segunda etapas da Oficina 1. Os significados das palavras memória e memórias foi bem compreendida. Os alunos trouxeram algumas fotos de familiares antigas e eu também dei minha contribuição. Minha fotografia aos seis anos, sem os dentes da frente, fez o maior sucesso! Algumas histórias foram contadas pelos alunos, baseadas na conversa que tiveram com pessoas mais velhas. Os avós foram os mais solicitados. Entretanto não realizamos a exposição, proposta na 3ª Etapa, já que as fotos antigas eram poucas e não recebemos nenhum objeto para contribuir com a pesquisa. A solução foi recorrer à internet para que pudessem visualizar alguns objetos do passado. Percebi que os alunos se interessaram bastante. Olhares curiosos e risadas não faltaram.

Nas oficinas seguintes - 2 e 3 especificamente - os bons leitores não encontraram dificuldades para diferenciar alguns gêneros textuais que se assemelham ao de Memórias Literárias, nem para identificar suas principais características. A dificuldade maior foi o registro das primeiras linhas. Até que a maioria utilizou os conhecimentos adquiridos durante as aulas, no que se refere às peculiaridades do gênero, porém os aspectos ortográficos e gramaticais deixaram a desejar. Percebi que atividades sobre coesão textual seriam necessárias, uma vez que a repetição de palavras era uma prática comum em quase todos os textos. A pontuação também precisou ser reforçada, pois havia produções sem o registro de um único sinal sequer. Assim, recorri à estratégia de correção coletiva, contando com a ajuda de um aparelho multimídia. Na tela, os erros eram comentados e corrigidos.

A cada oficina realizada, constatava os avanços do grupo - eram mais significativos para uns do que para outros. Cheguei a me surpreender certa vez quando saímos da escola e fomos até a praça localizada do outro lado da rua. O objetivo era fazer uma descrição detalhada do local. Enfatizei a preocupação que deveriam ter com o interlocutor do texto; ao lerem o que iriam redigir deveriam ser capazes de "visualizar" o lugar descrito. O resultado foi muito bom. Algumas duplas que se destacaram pela riqueza nos detalhes. Choveram adjetivos!

Durante as oficinas, fizemos muitas leituras do gênero, tanto de autores de renome quanto de alunos finalistas da Olimpíada em edições anteriores. Ao verificarem que os textos premiados contemplavam as mais diversas regiões do país, sentiram-se motivados ainda mais à escrita, especialmente quando encontravam o nome do nosso estado representado. Recordo-me que eles ficaram bastante comovidos quando leram O tempo, o chiado e as flechas, de Jhonatan Oliveira Kempim, um dos vencedores da edição passada.

Quando chegou o dia de gravar a entrevista com a pessoa escolhida, quase que São Pedro não permitiu. Chovia torrencialmente. Alguns alunos faltaram, mas a nossa entrevistada não. Aos 69 anos, a senhora Ana Arcanjo Gusmão compareceu à escola no horário marcado, protegida por um enorme guarda-chuva. Ela respondeu a todas as perguntas e foi detalhista em suas respostas. Seguíamos um cronograma e não haveria tempo suficiente para adiar o compromisso em função dos alunos faltosos. Assim, estes receberam a gravação em seus celulares.

Seguindo a sequência didática proposta, a turma passou à produção do texto - desta vez o que concorreria na Olimpíada. O desafio era transformar uma entrevista gravada em um texto de memórias literárias, que possui características completamente diferentes. Reconheço que não foi fácil. Os alunos tiveram paciência e perseverança, pois fizeram muitas reescritas. A priori deixei que cada um escolhesse da entrevista os assuntos mais interessantes para serem relatados, mas, posteriormente, mudei de ideia, pois percebi que eles estavam um pouco perdidos diante de tantos temas e detalhes mencionados. Achei melhor discutirmos e escolhermos juntos os pontos mais marcantes e a sequência em que seriam apresentados. Já os recursos linguísticos a serem selecionados, a interação entre o real e o ficcional, enfim, a criatividade ficaria por conta de cada autor. E deu certo. A comissão julgadora da escola teve trabalho para selecionar a melhor produção.

Finalmente, preciso dizer que essa experiência foi bastante significativa para mim. Aprendi com os alunos. Toda insegurança do início desse processo passou. Aprendi a gostar muito desse gênero textual e vou incluí-lo em meu planejamento no próximo ano. Também já dou como certa minha participação nas edições vindouras. Tenho convicção de que os objetivos foram alcançados, não só pela contribuição para minha prática pedagógica, mas, sobretudo pelo duplo aprendizado que os alunos tiveram: os saberes adquiridos sobre o ensino da escrita na perspectiva de gênero e o aprofundamento de seus conhecimentos sobre o lugar em que vivem.



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