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sua aula / orientação para a prática

Contos de fada do mundo inteiro no toque das mãos

Maria Cristina Zelmanovits

01 de agosto de 2023

O projeto

O projeto

Ficha técnica
Instituição de ensino Escola Classe 20
Localidade Ceilândia, Distrito Federal
Classe 5º ano do Ensino Fundamental
Professora Claudeni Amélia do Nascimento Souza
Duração do projeto 1 trimestre
Produto final Audiolivro com leitura dos contos canônicos preferidos da turma

Etapas do Projeto

Etapas do Projeto

1. Compartilhando o projeto com a turma

Ao conhecer sua turma, a professora Claudeni se deparou com algumas dificuldades: a grande maioria da sala não gostava de ler e resistia ao enfrentamento de textos mais longos que dez linhas; outra singularidade era o fato de ter duas crianças com deficiência visual e uma com baixa visão.

Pensando em como ajudá-los a ter prazer em ler e a encarar leituras mais longas, a professora preferiu partir de um gênero com o qual já tivessem alguma familiaridade, tendo o cuidado de escolher os textos em função de seus enredos envolventes e conteúdos interessantes à faixa etária dos alunos. As diferentes origens das histórias (África, América, Ásia, Europa e Oceania) contribuíram para aumentar o interesse: “Como o aspecto mágico, presente em todas elas, é tratado nas narrativas pelas diferentes culturas?”.

A produção de um audiolivro com a leitura dos contos preferidos da turma, objetivo compartilhado com os alunos desde o início do projeto, contribuiu para que todos se envolvessem ainda mais com cada uma das etapas de trabalho.

2. Lendo contos de várias partes do mundo
Volta ao Mundo em 52 Histórias

Para ampliar o repertório literário e gerar o prazer da leitura nos alunos, a professora foi a primeira leitora dos contos. Dessa forma, pôde oferecer à turma um bom modelo de leitor, respeitando a entonação, a fluência, a pontuação e o ritmo dos textos. Conforme o interesse do grupo foi aumentando, outras possibilidades entraram em cena: leituras silenciosas individuais (em casa e na escola) e em voz alta por subgrupos.

Bibliografia utilizada: PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998.

3. Identificando as características do gênero

Cada conto lido foi sendo discutido em sala. Além de impressões e opiniões, os alunos começaram a identificar o perfil das diferentes personagens, as situações iniciais, os conflitos e as formas de resolução, as expressões utilizadas no início, marcando tempos longínquos, as diferentes vozes (narrador e personagens), a presença de narração, descrição e diálogos. Convidados a recontarem as histórias que iam aprendendo, puderam transpor para a oralidade algumas dessas características.

4. Escrevendo contos conhecidos

Tendo sido bem alimentados tematicamente, os alunos escreveram, individualmente, seu conto preferido. Essa situação permitiu à professora fazer um mapeamento das dificuldades iniciais mais frequentes. Seguiu-se a essa atividade, a produção coletiva de um roteiro, que favoreceu o trabalho com a organização da sequência de um conto. A partir dela, os alunos ditaram o texto para a professora escrever, situação em que tiveram que negociar suas ideias. Nas novas produções individuais que foram sendo propostas, os alunos puderam contar com o apoio dos colegas para o aprimoramento de seus textos.

5. Ensaiando a leitura em voz alta

Ler de forma a dar vida ao texto, levando os ouvintes a acompanharem a leitura compreensivamente e a se envolverem com os contos não é tarefa fácil. Assim, muitas tentativas (individuais e em subgrupos) foram realizadas e submetidas à análise coletiva.

6. Gravando o audiolivro

A gravação e a regravação (quando necessária) das leituras já ensaiadas dos contos do livro-base também possibilitaram o contato dos alunos com recursos tecnológicos em seus diferentes suportes (CD, MP3) e com os meios de circulação.

Situação de produção

Situação de produção

A escolha de um audiolivro como produto final é digna de nota, uma vez que todos os alunos poderiam ler em voz alta, mas a forma de escrever de alguns (braile), caso o produto final fosse um livro em papel, não seria compreendida pela maioria; no entanto, o trabalho com a escrita não foi deixado de lado.

Na prática social, escrevemos com propósitos diversos (para dar instruções, lembrar de algo, expor nossas opiniões e/ou sentimentos, conversar com alguém que está distante etc.). No caso específico da escola, além desses propósitos, é importante lembrar que nela também se escreve para aprender a escrever. Aqui não estamos falando da conquista do sistema alfabético, mas da produção de um texto escrito em toda a sua complexidade.

Na situação de produção em que os alunos registraram por escrito as histórias lidas com o objetivo de aprender a escrever, vários desafios lhes foram apresentados: organização textual, transformação das palavras dos autores em palavras próprias, ortografia, pontuação etc. Tendo os próprios colegas, conhecedores dos textos-fonte, como destinatários e revisores de suas produções, os alunos puderam contar com o auxílio uns dos outros na verificação de clareza, coesão, repetições, ausências e sugestões de alterações.

Produção inicial e análise dos textos dos alunos

Produção inicial e análise dos textos dos alunos

Ao pedir, logo no início do projeto, que seus alunos escrevessem um dos contos que mais tinham gostado até então, a professora pôde observar questões diversas. Diante da heterogeneidade da turma, e sabendo que seria impossível trabalhar de uma só vez com todas as questões que pediam investimento, ela analisou cada um dos textos a partir de seus aspectos positivos e dos que precisavam de maior atenção. Esse valioso registro serviu como matéria-prima de suas futuras intervenções.

O pequetito 

     Era uma vez um casal que pediam muito um filho. e ai ele mascel [nasceu] mas so que ele munca crescia. um dia a mãe de pequetito decidio que já estava na hora de ele comhecer o mundo. então ele partiu e conheceu uma familia essa familia gostou muito dele e deixou ele morrar com eles um dia ele foi passear com a filha dos anfitriões no caminho encontrou com um ogro e o ogro queria levar a moça mas pequetito não deixou e o ogro o engoliu lá na bariga ele ficou [ilegível, talvez “chutando”] e o ogro o vumitou o ogro foi embora mas deixou um martelo cair. e a moça falou –: e [é] um martelo magico então pequetito disse: – bata na minha cabesa para ver se eu cresco então ele cresceu e virou um sanurai [samurai] alto e logo se casou.

AUTORA: ESTER

Análise do texto

Além de claro, o texto da aluna Ester tem começo, meio e fim, apresentando o conflito inicial e a forma como foi resolvido. Intercalando narração e diálogo, o que é característico do gênero, a aluna se vale dos dois-pontos, seguidos de travessão, para introduzir as falas. Recursos de coesão são bem utilizados – a expressão “um dia”, marcando a passagem do tempo, e conjunções coordenativas – “então” (conclusiva) e “mas” (adversativa). Os tempos verbais estão corretos, algumas irregularidades ortográficas já estão apropriadas (SC, X e SS), também foram incluídas: expressão característica do gênero (“Era uma vez”) e palavra do texto-fonte (“anfitriões”).

Ao lado de tantos aspectos positivos também há os que precisam de ajustes, o texto apresenta questões de concordância (“casal que pediam”), de troca de letras em algumas palavras (M e N, U e O, L e U), de ortografia (quando usar S ou Ç e R ou RR), de pontuação, de acentuação e de uso de maiúsculas. Requer, ainda, busca de substituições para repetições de palavras (“ogro”, por exemplo) e revisão na organização de frases, orações e parágrafos. Além disso, faltam informações que tornariam algumas passagens mais interessantes e compreensíveis ao leitor.

O rouxinol do Imperador 

     Ao saber da existencia do rouxinol o Imperador mandou chama-lo.

     Quando o rouxinol cantava o Imperador sempre chorava, mas um dia o rei do Japão levou um rouxinol mecânico para o Imperador que cantava muito bem.

     E um dia o Imperador ficou tão encantado com o novo rouxinol e o outro rouxinol ficou triste e foi para a mata, o rouxinol mecânico quebrou e não tinha conserto então o Imperador estava doente e os servos dele chamaram o rouxinol antigo.

     Então o Imperador ficou bem e pediu disculpa para o rouxinol. 

AUTOR: ISAC

 

Análise do texto
 

Além de claro, o texto do aluno Isac tem começo, meio e fim, apresentando o conflito inicial e a forma como foi resolvido. “Então” aparece como recurso de coesão bem utilizado e chama a atenção o bom trabalho com diferentes tempos verbais. Regularidades (M antes de P em “Imperadores” e N antes de consoantes diferentes de B e P em “cantava”) e irregularidades ortográficas já estão apropriadas (X e CH em “rouxinol”, “chamá-lo” e “chorava”, X com som de Z em “existência”). O texto é dividido em parágrafos e os pontos finais são seguidos por letras maiúsculas. Uma palavra recebeu acentuação correta (“mecânico”) e outra (“servos”) foi bem adotada do texto-fonte.

Ao lado de tantos aspectos positivos também aparecem questões que pedem atenção: a produção apresenta uma troca de letra (E por I) e faltam acentos em duas palavras. Iniciado de forma abrupta, o texto não oferece ao leitor dados sobre o contexto em que se passa a história. Em sua totalidade, a narrativa, apesar de compreensível, é excessivamente sintética e não apresenta a voz das personagens. O parágrafo que começa com “E um dia” é o que mais pede reorganização e revisão de pontuação – por cinco vezes a conjunção “e” se repete nele. O caso de outras repetições (rouxinol, por exemplo) pede revisão de natureza lexical.

Procedimentos para aperfeiçoar as produções

Procedimentos para aperfeiçoar as produções

O Rouxinol do Imperador

     Há muito tempo atrás havia um rouxinol que cantava músicas melodiosas no meio da mata. Ao saber da existência do rouxinol, o Imperador mandou chamá-lo.

     Quando o rouxinol cantava, o Imperador sempre chorava porque a cantoria dele era doce e acalmava a alma. Mas um dia o rei do Japão levou um rouxinol mecânico para o Imperador que cantava muito melhor que o rouxinol da mata.

     O Imperador ficou tão encantado que foi deixando o outro rouxinol de lado e isso foi entristecendo o rouxinol da mata, que resolveu ir embora.

     De tanto usar o rouxinol mecânico, o pássaro um dia se quebrou e não tinha mais conserto. Então o Imperador começou a ficar doente por falta da música do rouxinol e os servos lembraram do rouxinol da mata e foram chamá-lo de volta.

     Ao retornar, o rouxinol pediu que não o colocasse na gaiola dourada e voltou a cantar as melodias que encantavam tanto o Imperador. Com o passar dos dias, logo o Imperador sarou e pediu desculpas para o rouxinol e disse que nunca mais iria trocá-lo.

     Autor: Isac

A situação de revisão de texto, realizada coletivamente, com o apoio do professor, oportuniza aos alunos a coordenação dos papéis de produtores e de leitores. Após as intervenções do professor, a tarefa deles é pensar em como tornar o texto mais claro, coeso e saboroso ao leitor. Para tal, são feitas negociações sobre o que retirar, acrescentar, deslocar e/ou substituir.

 

 

Exercícios de reflexão e sistematização

Sobre os exercícios

Por meio das três questões apresentadas, os alunos foram desafiados a pensar sobre as diferentes circunstâncias que justificam a mudança de parágrafo num texto:

• na primeira, conforme bem assinalou um aluno, há uma alteração de situação na vida de uma personagem;

• na segunda, há mudança de lugar ou de tempo narrativo;

• na terceira, uma maior complexidade é apresentada – separação entre as vozes do narrador e da personagem, alteração de situação e mudança de tempo.

É importante destacar que nem todos os alunos da turma responderam corretamente, daí a importância da discussão coletiva sobre as respostas encontradas, momento privilegiado para a explicitação de dúvidas, compreensão de determinadas questões e validação dos saberes.

Produção final e publicação

Produção final e publicação

As novas produções da turma continuaram apresentando questões, o que é de se esperar, considerando a complexidade envolvida na escrita e os níveis de conhecimento em que se encontravam os alunos no início do projeto. No entanto, os investimentos feitos pela professora renderam frutos: em seus textos posteriores, os alunos foram colocando mais informações e parágrafos, como veremos no texto do aluno João Victor

Se no produto final, o audiolivro, em vez da leitura dos textos canônicos fosse feita a leitura dos textos reescritos pelos alunos, o aprimoramento das produções receberia maior investimento. Além disso, o trabalho com pontuação seria privilegiado, uma vez que ela é estratégica para se dizer o texto de forma compreensiva a quem o escuta. Porém, é preciso considerar que essa alternativa demanda maior tempo e fôlego.

Quando os alunos sabem que os textos que estão produzindo poderão ser publicados e apreciados por quem está fora das paredes da sala de aula, seu envolvimento com a situação de produção escrita tende a aumentar.

Barba azul 

     Era uma vez um homem muto rico que tinha manções na cidade e no campo so faltava-lhe uma esposa.

     E foi perguntar para uma mulher se uma de suas filhas queriam se casar com ele ambas se recusaram.

     Mas depois que passaram um dia no palacio a casula [caçula] começou a achar que aquela barba azul não era tão feia e logo se casaram.

     No outro dia barba azul deu um molho de chaves e lhe esplicou a funsão de cada uma quando chegou numa chave mais pequena e esplicou a função dela.

     — Esta chave é do fundo da porta da galeria do gabinete mas não abra aquela porta se não tera que encarar aminha [ira] e depois barba azul foi viajar morta de curiosidade abril [abriu] a porta do gabinete e vil [viu] corpos pendurados na parede eram os corpos das esposas de barba azul degoladas uma por uma depois de ver o corpo pindurado perdeu a chave e quando a achou estava manchada de sangue e lavo a chave e não queria sair a mancha de sangue.

     então barba azul voutou para casa e descubril tudo já que você queria abrir tanto aquela porta vai fazer companhia as outra quando barba azul foi matala, as irmãs apareceram e mataram barba azul

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