Contos de fada do mundo inteiro no toque das mãos
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Autora do estudo: Maria Cristina Zelmanovits

O projeto
Ficha técnica | |
Instituição de ensino | Escola Classe 20 |
Localidade | Ceilândia, Distrito Federal |
Classe | 5º ano do Ensino Fundamental |
Professora | Claudeni Amélia do Nascimento Souza |
Duração do projeto | 1 trimestre |
Produto final | Audiolivro com leitura dos contos canônicos preferidos da turma |
Etapas do projeto
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1. Compartilhando o projeto com a turma
Ao conhecer sua turma, a professora Claudeni se deparou com algumas dificuldades: a grande maioria da sala não gostava de ler e resistia ao enfrentamento de textos mais longos que dez linhas; outra singularidade era o fato de ter duas crianças com deficiência visual e uma com baixa visão.
Pensando em como ajudá-los a ter prazer em ler e a encarar leituras mais longas, a professora preferiu partir de um gênero com o qual já tivessem alguma familiaridade, tendo o cuidado de escolher os textos em função de seus enredos envolventes e conteúdos interessantes à faixa etária dos alunos. As diferentes origens das histórias (África, América, Ásia, Europa e Oceania) contribuíram para aumentar o interesse: “Como o aspecto mágico, presente em todas elas, é tratado nas narrativas pelas diferentes culturas?”.
A produção de um audiolivro com a leitura dos contos preferidos da turma, objetivo compartilhado com os alunos desde o início do projeto, contribuiu para que todos se envolvessem ainda mais com cada uma das etapas de trabalho.
2. Lendo contos de várias partes do mundo
Para ampliar o repertório literário e gerar o prazer da leitura nos alunos, a professora foi a primeira leitora dos contos. Dessa forma, pôde oferecer à turma um bom modelo de leitor, respeitando a entonação, a fluência, a pontuação e o ritmo dos textos. Conforme o interesse do grupo foi aumentando, outras possibilidades entraram em cena: leituras silenciosas individuais (em casa e na escola) e em voz alta por subgrupos.
Bibliografia utilizada: PHILIP, Neil. Volta ao mundo em 52 histórias. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998.
3. Identificando as características do gênero
Cada conto lido foi sendo discutido em sala. Além de impressões e opiniões, os alunos começaram a identificar o perfil das diferentes personagens, as situações iniciais, os conflitos e as formas de resolução, as expressões utilizadas no início, marcando tempos longínquos, as diferentes vozes (narrador e personagens), a presença de narração, descrição e diálogos. Convidados a recontarem as histórias que iam aprendendo, puderam transpor para a oralidade algumas dessas características.
4. Escrevendo contos conhecidos
Tendo sido bem alimentados tematicamente, os alunos escreveram, individualmente, seu conto preferido. Essa situação permitiu à professora fazer um mapeamento das dificuldades iniciais mais frequentes. Seguiu-se a essa atividade, a produção coletiva de um roteiro, que favoreceu o trabalho com a organização da sequência de um conto. A partir dela, os alunos ditaram o texto para a professora escrever, situação em que tiveram que negociar suas ideias. Nas novas produções individuais que foram sendo propostas, os alunos puderam contar com o apoio dos colegas para o aprimoramento de seus textos.
5. Ensaiando a leitura em voz alta
Ler de forma a dar vida ao texto, levando os ouvintes a acompanharem a leitura compreensivamente e a se envolverem com os contos não é tarefa fácil. Assim, muitas tentativas (individuais e em subgrupos) foram realizadas e submetidas à análise coletiva.

6. Gravando o audiolivro
A gravação e a regravação (quando necessária) das leituras já ensaiadas dos contos do livro-base também possibilitaram o contato dos alunos com recursos tecnológicos em seus diferentes suportes (CD, MP3) e com os meios de circulação.

Situação de produção
A escolha de um audiolivro como produto final é digna de nota, uma vez que todos os alunos poderiam ler em voz alta, mas a forma de escrever de alguns (braile), caso o produto final fosse um livro em papel, não seria compreendida pela maioria; no entanto, o trabalho com a escrita não foi deixado de lado.
Na prática social, escrevemos com propósitos diversos (para dar instruções, lembrar de algo, expor nossas opiniões e/ou sentimentos, conversar com alguém que está distante etc.). No caso específico da escola, além desses propósitos, é importante lembrar que nela também se escreve para aprender a escrever. Aqui não estamos falando da conquista do sistema alfabético, mas da produção de um texto escrito em toda a sua complexidade.
Na situação de produção em que os alunos registraram por escrito as histórias lidas com o objetivo de aprender a escrever, vários desafios lhes foram apresentados: organização textual, transformação das palavras dos autores em palavras próprias, ortografia, pontuação etc. Tendo os próprios colegas, conhecedores dos textos-fonte, como destinatários e revisores de suas produções, os alunos puderam contar com o auxílio uns dos outros na verificação de clareza, coesão, repetições, ausências e sugestões de alterações.


Produção inicial e análise dos textos dos alunos
Ao pedir, logo no início do projeto, que seus alunos escrevessem um dos contos que mais tinham gostado até então, a professora pôde observar questões diversas. Diante da heterogeneidade da turma, e sabendo que seria impossível trabalhar de uma só vez com todas as questões que pediam investimento, ela analisou cada um dos textos a partir de seus aspectos positivos e dos que precisavam de maior atenção. Esse valioso registro serviu como matéria-prima de suas futuras intervenções.



o pequetito
Era uma vez um casal que pediam muito um filho. e ai ele mascel [nasceu] mas so que ele munca crescia. um dia a mãe de pequetito decidio que já estava na hora de ele comhecer o mundo. então ele partiu e conheceu uma familia essa familia gostou muito dele e deixou ele morrar com eles um dia ele foi passear com a filha dos anfitriões no caminho encontrou com um ogro e o ogro queria levar a moça mas pequetito não deixou e o ogro o engoliu lá na bariga ele ficou [ilegível, talvez “chutando”] e o ogro o vumitou o ogro foi embora mas deixou um martelo cair. e a moça falou –: e [é] um martelo magico então pequetito disse: – bata na minha cabesa para ver se eu cresco então ele cresceu e virou um sanurai [samurai] alto e logo se casou.
AUTORA: ESTER
Análise do texto
Além de claro, o texto da aluna Ester tem começo, meio e fim, apresentando o conflito inicial e a forma como foi resolvido. Intercalando narração e diálogo, o que é característico do gênero, a aluna se vale dos dois-pontos, seguidos de travessão, para introduzir as falas. Recursos de coesão são bem utilizados – a expressão “um dia”, marcando a passagem do tempo, e conjunções coordenativas – “então” (conclusiva) e “mas” (adversativa). Os tempos verbais estão corretos, algumas irregularidades ortográficas já estão apropriadas (SC, X e SS), também foram incluídas: expressão característica do gênero (“Era uma vez”) e palavra do texto-fonte (“anfitriões”).
Ao lado de tantos aspectos positivos também há os que precisam de ajustes, o texto apresenta questões de concordância (“casal que pediam”), de troca de letras em algumas palavras (M e N, U e O, L e U), de ortografia (quando usar S ou Ç e R ou RR), de pontuação, de acentuação e de uso de maiúsculas. Requer, ainda, busca de substituições para repetições de palavras (“ogro”, por exemplo) e revisão na organização de frases, orações e parágrafos. Além disso, faltam informações que tornariam algumas passagens mais interessantes e compreensíveis ao leitor.



O rouxinol do Imperador
Ao saber da existencia do rouxinol o Imperador mandou chama-lo.
Quando o rouxinol cantava o Imperador sempre chorava, mas um dia o rei do Japão levou um rouxinol mecânico para o Imperador que cantava muito bem.
E um dia o Imperador ficou tão encantado com o novo rouxinol e o outro rouxinol ficou triste e foi para a mata, o rouxinol mecânico quebrou e não tinha conserto então o Imperador estava doente e os servos dele chamaram o rouxinol antigo.
Então o Imperador ficou bem e pediu disculpa para o rouxinol.
AUTOR: ISAC

Análise do texto
Além de claro, o texto do aluno Isac tem começo, meio e fim, apresentando o conflito inicial e a forma como foi resolvido. “Então” aparece como recurso de coesão bem utilizado e chama a atenção o bom trabalho com diferentes tempos verbais. Regularidades (M antes de P em “Imperadores” e N antes de consoantes diferentes de B e P em “cantava”) e irregularidades ortográficas já estão apropriadas (X e CH em “rouxinol”, “chamá-lo” e “chorava”, X com som de Z em “existência”). O texto é dividido em parágrafos e os pontos finais são seguidos por letras maiúsculas. Uma palavra recebeu acentuação correta (“mecânico”) e outra (“servos”) foi bem adotada do texto-fonte.
Ao lado de tantos aspectos positivos também aparecem questões que pedem atenção: a produção apresenta uma troca de letra (E por I) e faltam acentos em duas palavras. Iniciado de forma abrupta, o texto não oferece ao leitor dados sobre o contexto em que se passa a história. Em sua totalidade, a narrativa, apesar de compreensível, é excessivamente sintética e não apresenta a voz das personagens. O parágrafo que começa com “E um dia” é o que mais pede reorganização e revisão de pontuação – por cinco vezes a conjunção “e” se repete nele. O caso de outras repetições (rouxinol, por exemplo) pede revisão de natureza lexical.

Procedimentos para aperfeiçoar as produções

O Rouxinol do Imperador
Há muito tempo atrás havia um rouxinol que cantava músicas melodiosas no meio da mata. Ao saber da existência do rouxinol, o Imperador mandou chamá-lo.
Quando o rouxinol cantava, o Imperador sempre chorava porque a cantoria dele era doce e acalmava a alma. Mas um dia o rei do Japão levou um rouxinol mecânico para o Imperador que cantava muito melhor que o rouxinol da mata.
O Imperador ficou tão encantado que foi deixando o outro rouxinol de lado e isso foi entristecendo o rouxinol da mata, que resolveu ir embora.
De tanto usar o rouxinol mecânico, o pássaro um dia se quebrou e não tinha mais conserto. Então o Imperador começou a ficar doente por falta da música do rouxinol e os servos lembraram do rouxinol da mata e foram chamá-lo de volta.
Ao retornar, o rouxinol pediu que não o colocasse na gaiola dourada e voltou a cantar as melodias que encantavam tanto o Imperador. Com o passar dos dias, logo o Imperador sarou e pediu desculpas para o rouxinol e disse que nunca mais iria trocá-lo.
Autor: Isac
A situação de revisão de texto, realizada coletivamente, com o apoio do professor, oportuniza aos alunos a coordenação dos papéis de produtores e de leitores. Após as intervenções do professor, a tarefa deles é pensar em como tornar o texto mais claro, coeso e saboroso ao leitor. Para tal, são feitas negociações sobre o que retirar, acrescentar, deslocar e/ou substituir.

Exercícios de reflexão e sistematização




Sobre os exercícios
Por meio das três questões apresentadas, os alunos foram desafiados a pensar sobre as diferentes circunstâncias que justificam a mudança de parágrafo num texto:
• na primeira, conforme bem assinalou um aluno, há uma alteração de situação na vida de uma personagem;
• na segunda, há mudança de lugar ou de tempo narrativo;
• na terceira, uma maior complexidade é apresentada – separação entre as vozes do narrador e da personagem, alteração de situação e mudança de tempo.
É importante destacar que nem todos os alunos da turma responderam corretamente, daí a importância da discussão coletiva sobre as respostas encontradas, momento privilegiado para a explicitação de dúvidas, compreensão de determinadas questões e validação dos saberes.

Produção final e publicação
As novas produções da turma continuaram apresentando questões, o que é de se esperar, considerando a complexidade envolvida na escrita e os níveis de conhecimento em que se encontravam os alunos no início do projeto. No entanto, os investimentos feitos pela professora renderam frutos: em seus textos posteriores, os alunos foram colocando mais informações e parágrafos, como veremos no texto do aluno João Victor.
Se no produto final, o audiolivro, em vez da leitura dos textos canônicos fosse feita a leitura dos textos reescritos pelos alunos, o aprimoramento das produções receberia maior investimento. Além disso, o trabalho com pontuação seria privilegiado, uma vez que ela é estratégica para se dizer o texto de forma compreensiva a quem o escuta. Porém, é preciso considerar que essa alternativa demanda maior tempo e fôlego.
Quando os alunos sabem que os textos que estão produzindo poderão ser publicados e apreciados por quem está fora das paredes da sala de aula, seu envolvimento com a situação de produção escrita tende a aumentar.





Barba azul
Era uma vez um homem muto rico que tinha manções na cidade e no campo so faltava-lhe uma esposa.
E foi perguntar para uma mulher se uma de suas filhas queriam se casar com ele ambas se recusaram.
Mas depois que passaram um dia no palacio a casula [caçula] começou a achar que aquela barba azul não era tão feia e logo se casaram.
No outro dia barba azul deu um molho de chaves e lhe esplicou a funsão de cada uma quando chegou numa chave mais pequena e esplicou a função dela.
— Esta chave é do fundo da porta da galeria do gabinete mas não abra aquela porta se não tera que encarar aminha [ira] e depois barba azul foi viajar morta de curiosidade abril [abriu] a porta do gabinete e vil [viu] corpos pendurados na parede eram os corpos das esposas de barba azul degoladas uma por uma depois de ver o corpo pindurado perdeu a chave e quando a achou estava manchada de sangue e lavo a chave e não queria sair a mancha de sangue.
então barba azul voutou para casa e descubril tudo já que você queria abrir tanto aquela porta vai fazer companhia as outra quando barba azul foi matala, as irmãs apareceram e mataram barba azul