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biblioteca / educação e cultura

Não me leve a mal, chegou o Carnaval

Luiz Henrique Gurgel

07 de agosto de 2023

Calendários variam conforme países e culturas. No Brasil, é comum dizer que o ano só começa depois do Carnaval. Não deixa de ser uma forma original de marcar o tempo, como se o país parasse para recomeçar tudo de novo. Se os norte-americanos param no feriado do dia do Presidente (17 de fevereiro), nós preferimos os dias do Rei Momo. É nosso jeito de ser. E se hoje o samba é sinônimo de Carnaval na maior parte do país, desde meados do século 19 os gêneros eram outros e bem variados. O ritmo que surgiu na Bahia e se sedimentou no Rio de Janeiro espalhou-se Brasil afora e só não tomou conta do Carnaval pernambucano, baiano e de alguns lugares do interior do país. Mas é verdade que o samba tornou-se o gênero símbolo do Carnaval brasileiro.


Entrudo, o avô da nossa folia


A tradição de sair pelas ruas molhando e lambuzando as pessoas é das mais antigas no Carnaval do Brasil. Brincadeira dos tempos coloniais que precedeu a atual folia, o Entrudo ocorria entre o Sábado gordo e a Quarta-feira de cinzas, envolvendo famílias amigas, em combates com água, farinha e até lama. Incautos estrangeiros que passassem sob o balcão de sorridentes donzelas, podiam ser surpreendidos por jarros entornando água sobre suas cabeças. No início do século 19 houve um refinamento nas práticas do Entrudo. Limõezinhos de cera com água perfumada substituíram os baldes d’água como munição utilizada nas ruas. Apesar de diversas vezes proibida, a brincadeira persiste e chegou aos dias de hoje. Em muitos lugares tem o sugestivo nome de “Mela-mela”.   

Entre as figuras ilustres que caíam na farra, está Sua Majestade, o Imperador Pedro II. Ele gostava de molhar suas irmãs com limõezinhos de cera perfumados. Mas a brincadeira devia ficar restrita aos íntimos da família imperial, já que molhar um membro da alta nobreza podia dar cadeia, como aconteceu com a atriz portuguesa Estrela Sezefredo, em 1825. A moça, então com 15 anos, atirou um limão de cheiro num dos membros do cortejo de Pedro I, que também gostava de participar do Entrudo, sendo por isso presa e registrada.


Ao ritmo da marcha, da ópera e do lundu


No início do século 20, nas principais cidades brasileiras, a festa se dividia entre o Carnaval de elite e o popular. No primeiro havia corsos e desfiles das sociedades carnavalescas, com carros alegóricos e bandas que tocavam marchas e até trechos de ópera. No outro predominavam blocos, cordões e ranchos, onde se ouvia chulas e lundus, ritmos populares que deram origem ao maxixe e ao samba.

O corso reunia famílias mais abastadas que saíam com amigos e convidados em desfile com seus carros, fantasiados de pierrôs, colombinas ou marinheiros, travando batalhas de confete e serpentina. Muitas vezes iam acompanhados de bandas tocando marchas. Ainda na metade do século 19 surgiram no Rio de Janeiro as sociedades carnavalescas, formadas por brancos da classe média e aristocratas que se reuniam para discutir negócios, jogar cartas, beber e organizar o carnaval.

Nem por isso gente humilde não tinha o seu próprio jeito de brincar o Carnaval. Também no Rio de Janeiro, no início do século 20, eram comuns os ranchos em que operários e descendentes de escravos faziam sua própria festa. Tia Ciata, descendente de escravos e uma das mais famosas líderes da comunidade baiana no Rio de Janeiro, no início do século 20, foi uma das principais responsáveis pela difusão do maxixe, do choro e do samba na época do Carnaval carioca.


A hora e a vez do samba


Ao lado das marchinhas, o samba fixou-se no final dos anos de 1920, como principal ritmo do Carnaval do Rio de Janeiro. Nessa época nascem as primeiras escolas de samba. As mais famosas e tradicionais, Mangueira e Portela, surgiram da união de grupos e blocos do morro de Mangueira e do subúrbio de Madureira que queriam se divertir com samba. Na era do rádio, a partir dos anos de 1930, e com o disco, o ritmo se espalharia pelo Brasil, predominando como gênero de Carnaval.


Em Pernambuco, a festa “freve”

Em Recife e Olinda uma música e uma dança fazem, há mais de 100 anos, o povo ferver na rua, durante o Carnaval. De “ferver” e “fervo” acabou surgindo o frevo, ritmo que exige muita energia e fôlego para trançar as pernas, abaixar, levantar e balançar. O nome apareceu publicado pela primeira vez em fevereiro de 1907,  num jornal de Recife. Mas muito antes, no antigo bairro de São José, grupos de capoeiristas costumavam ir à frente de bandas militares que desfilavam e tocavam durante o Carnaval. Os conflitos e as rixas entre as bandas eram comuns, a ponto que em 1856 a polícia proibiu a participação dos capoeiras. Para não perder a festa, os grupos se organizaram em clubes e misturavam os movimentos da capoeira com passos de dança. Também levavam guarda-chuvas – que viraram sombrinhas na festa atual – para a defesa pessoal. Ao longo da folia, as bandas aceleravam e diminuíam o ritmo. Os dançarinos acompanhavam e pareciam “ferver” nas ruas. Conta-se, atualmente, mais de 100 passos diferentes para dançar o frevo.


Em Salvador, dois criaram um trio


O carnaval de Salvador não seria mais o mesmo depois de 1950, quando os amigos, Eduardo Peres e Osmar Macedo – Dodô e Osmar -, cada um com seu “pau-elétrico”, precursor da guitarra elétrica, resolveram sair à rua tocando frevo em cima de um velho Ford Bigode 1929 com dois alto-falantes. Eles não imaginavam que aquilo – o trio elétrico - ia virar o maior símbolo do carnaval baiano. Na verdade, apenas uma vez o “trio” saiu com três. Mas foi o suficiente para que o povo começasse a chamar qualquer conjunto tocando instrumentos elétricos em cima de um caminhão, de trio elétrico. Da velha “fobica” até as gigantescas carretas com luzes de neon e milhares de watts de potência sonora, os dedos da eletrizada dupla estavam presentes. Construíram trios na Europa, arrastando multidões pelas ruas. A tradição é mantida pelos filhos de Osmar, que todo ano saem com o trio de “Armandinho, Dodô e Osmar”. 

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