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biblioteca / indicações: ler, ver e ouvir

Ensino de oralidade

Heloisa Amaral

20 de abril de 2006

Onde encontrar: Scielo

Se olharmos para nosso passado de aluno, deste lugar de professores que agora ocupamos, vamos lembrar que o ensino de oralidade sempre esteve presente na sala de aula. A forma mais comum era (e talvez ainda seja hoje) a correção quase que automática dos falares regionais e cotidianos, do tipo "não é pra mim fazer, é pra eu fazer", "não se diz mais bom, se diz melhor" etc.

Outra forma conhecida de trabalhar com o oral em outros tempos era a memorização de poemas. Ocasiões muito difíceis para o aluno! Eu lembro ainda hoje da sensação de frio na barriga que dava ter que declamar, de memória, um poema para uma sala cheia de colegas prontos para zombar de qualquer erro que eu cometesse. Essa situação era própria para você desgostar da poesia para sempre.

Outra situação que lembro do meu lugar de professora: o ensino de leitura em voz alta. Muito importante esse ensino, tanto que me obrigava a fazer o Chiquinho, gago, ler em voz alta numa sala silenciosa, os risos aflitos nascendo nos cantos das bocas, a professora olhando firme para segurá-los, seu olhar costurando as bocas trementes dos alunos. É claro que os resultados não foram ruins, os alunos foram aprendendo a respeitar diferenças, o Chiquinho foi ganhando coragem para superar seus limites.

Eram coisas assim que se fazia para ensinar oralidade. Hoje, porém, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs - enfatizam que o ensino de Língua Portuguesa na escola deve explorar todos os modos em que a língua ocorre nas situações de comunicação, ou seja, a oralidade, a escrita, a leitura e a escuta. A oralidade, ressalta o documento, assume formas nas situações de comunicação que não são espontâneas nem estão restritas à declamação e à leitura em voz alta, muito menos à correção dos modos de falar. É preciso que elas sejam ensinadas e aprendidas, porque são manifestações culturais presentes nas relações sociais que exigem planejamento e organização prévios. Uma outra coisa importante quando trazemos o assunto ensino de oralidade para a conversa é lembrar que ele não precisa nem pode ser feito de forma isolada dos outros aspectos do ensino de língua.

Embora essas orientações tenham se tornado conhecidas com o passar do tempo (afinal, neste ano a LDB, origem dos PCNs, completa 10 anos) e as reflexões sobre ensino de língua tenham se aprofundado e se espalhado de uma forma ou de outra pelo país, as práticas de ensino de oralidade realmente planejadas estão pouco presentes na sala de aula. Se nos perguntarmos por que isso acontece, encontraremos muitas respostas, das quais pelo menos três nos ocorrem facilmente: o tempo para compreender e aplicar novas práticas de ensino de leitura e escrita é pequeno, não sobra tempo para a oralidade; a oralidade, enquanto objeto de ensino, não é suficientemente conhecida; as capacidades de uso da oralidade são consideradas de aquisição espontânea, ao contrário das capacidades de leitura e escrita, consideradas difíceis de serem construídas, mesmo com práticas de ensino cuidadosamente planejadas.

A leitura do artigo de Claudemir Belintane, da Universidade de São Paulo, amplia a compreensão do ensino de oralidade e favorece o esclarecimento das respostas imediatas que podem nos vir à mente quando pensamos sobre o assunto. Logo de início ele declara suas intenções:

"O presente artigo pretende, a partir de nossas pesquisas teóricas, de nossos cursos e incursões na escola pública, não apenas refletir sobre essas questões, como também propor um eixo de abordagem da língua oral e fornecer algumas referências para elaborações curriculares."

Mais à frente, declara por que considera os gêneros orais importantes objetos de ensino:

"A relevância e a produtividade pragmática da língua oral no mundo contemporâneo pode ser facilmente percebida nas mídias, nas demandas postas por uma vasta gama de profissões, no uso político da fala e até mesmo nos jogos, brincadeiras e interações cotidianas (piadas, jogos de palavras, chistes), nas quais os desejos de jovens e de adultos tecem e entretecem suas subjetividades e, por meio delas, fortalecem ou enfraquecem suas possibilidades de participação social. Sua importância é tão evidente que constitui um desafio enumerar ou mesmo classificar a infinidade de gêneros dos quais o trabalho, as diversões e as artes contemporâneas lançam mão."

Vamos tomar para uma pequena reflexão o final desse parágrafo: "sua importância é tão evidente que constitui um desafio enumerar ou mesmo classificar a infinidade de gêneros dos quais o trabalho, as diversões e as artes contemporâneas lançam mão." É muita coisa mesmo, não? Todos os gêneros orais usados no trabalho, nas diversões e nas artes! É só olhar a mais comum das mídias, a TV, e ver a quantidade de coisas que podem ser trabalhadas em sala de aula.

Logo em seguida, Belintane retoma os PCNs para dar as referências para esse trabalho:

"Na concepção dos atuais PCNs, o ensino de língua oral deve ir além da interação dialogal de sala de aula. Reconhece-se que o aluno em idade escolar já dispõe de competência discursiva e lingüística para uso cotidiano, no entanto, assume que essas interações não dão conta do amplo espectro de usos lingüísticos que as situações sociais do cidadão contemporâneo demandam do campo da língua oral, ou seja, não dão conta da "fala pública" e de seus campos discursivos. Assim, propõem objetivos, estratégias e sugestões de abordagem embasados na diversidade de gêneros do oral e das situações de uso público da fala."

Muita coisa interessante, não? Então, leia o artigo e comente!

Scielo

 

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