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Do lugar do (RE)VIVER A FELICIDADE, a reflexão de uma coordenadora

Do lugar do (RE)VIVER A FELICIDADE, a reflexão de uma coordenadora

texto - Patrícia Calheta; ilustração - Criss de Paulo

15 de agosto de 2023

Palavra de educador(a): viver para contar e contar para viver. Experiências da 7ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa

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É preciso arrumar o peito,
Preservar o jeito de ser feliz.
Difundir o amor que dá rumo à vida,
e plantar no coração do homem
felicidades sem desespero.
Geni Guimarães. “Reforma”,
in: Poemas do regresso. Rio de Janeiro:
Malê, 2020, pp. 27-28.

As semifinais da Olimpíada de Língua Portuguesa sempre foram um momento particularmente feliz e inspirador na minha jornada como colaboradora do Programa Escrevendo o Futuro.

As oportunidades de me ver diante de tantos professores, professoras e estudantes, podendo trocar saberes, olhares, sorrisos e carinhosos abraços; de sentar pertinho na hora do café da manhã, do almoço ou do jantar ou, ainda, de prosear nos intervalos de cada encontro formativo ou mesmo durante os passeios culturais (para além do inigualável aprendizado como formadora em grupos de docentes semifinalistas de diferentes categorias, em distintas edições), sempre foram vividas com grande dedicação, alegria e celebração.

Diante do cenário de 2021, parecia impossível aventar a realização da 7ª- edição da Olimpíada. No início do ano, ao ser chamada para as reuniões virtuais de planejamento de textos para o Portal e webinários, senti-me rapidamente capturada pelo entusiasmo de toda a equipe. Não poderíamos deixar de caminhar ao lado das escolas diante de um cenário tão atípico; ao contrário, tínhamos de reverenciar o protagonismo de nossos(as) professores(as) olímpicos(as), incansáveis no exercício de apostar na aprendizagem de seus(suas) estudantes. Então, dito de outro modo, era hora de escutar Geni: “É preciso arrumar o peito / Preservar o jeito de ser feliz”.

Das numerosas perguntas, dúvidas e inquietações, aos poucos, foram surgindo desenhos e contornos mais precisos do percurso a ser trilhado. Permanecia a intrigante pergunta sobre como fazer acontecer o abraço tão característico do nosso modo de estar com o outro nas ações do Programa Escrevendo o Futuro e, particularmente, na celebração de cada Olimpíada. Entendo que, como tudo que acontece no Programa, fomos construindo coletivamente a possibilidade de fazer chegar o abraço a cada um, a cada uma que integrou as semifinais.

Assim, convicta de que poderíamos (con)seguir, aceitei o honroso convite para a coordenação pedagógica de formadores(as) de professores( as) e de parte das equipes de formadores(as) de estudantes – essa última, compartilhada com a competente Shirlei Marly Alves, docente integrante da rede de ancoragem1 do Piauí. Estar com o outro no contexto virtual foi, sem dúvida, um dos mais importantes desafios para todos(as), e eu, como coordenadora pedagógica, não escapei desse enfrentamento. Não apenas porque tinha o compromisso com a formação e o acompanhamento das equipes do ponto de vista do conteúdo de cada semifinal (nos encontros síncronos e nas atividades assíncronas), mas, sobretudo, porque precisava mostrar para e convocar em cada formador( a) o calor, o encontro, o laço, o abraço e a partilha possíveis pela tela.

Mais uma vez, a voz de Geni me conduzia ao mais precioso enfoque; o de “Difundir o amor que dá rumo à vida”. Afinal, para mim, é disso que se trata: do amor à língua, do amor ao despertar e aprimorar do conhecimento e do amor às pessoas genuinamente entregues aos movimentos de ensinar e aprender, em meio a um cenário de dificuldades, isolamento, privações, dores e perdas.

Nessa tentativa, recorri a estratégias que corroboraram o processo de formação em meus contatos com as equipes, tais como: nas discussões firmadas no fórum de formadores, diante de questões recorrentes observadas nas turmas; na apreciação de sínteses dos fóruns no AVA ou mesmo em pontos essenciais da reflexão com estudantes e docentes que ganhariam densidade e aprofundamento pela socialização da voz dos(as) formadores( as); prosas com as duplas e com cada formador(a) antes do início de cada encontro síncrono e após minhas observações nas salas do Google Meet; devolutivas escritas para cada dupla e para cada formador(a), com pontos de destaque e, quando necessário, pedidos de ajuste de rota; conversas pelo WhatsApp para o tratamento de questões mais delicadas na dinâmica das duplas ou no acompanhamento da turma de docentes; e, ainda, constantes partilhas com toda a equipe de coordenação.

Sob efeito da vivência de todo o processo, amplamente marcado pelo diálogo e pela colaboração, entendo que escolhi apostar, de mãos dadas com cada formador( a), no “esperançar” e na “boniteza” implicados no ensinar e no aprender, como destaca Paulo Freire, somados ao “plantar no coração do homem / felicidades sem desespero”, tal como anuncia Geni Guimarães. Os efeitos dessa aposta coletiva estão espalhados por todos os cantinhos do AVA e registrados por uma multiplicidade de linguagens. Aqui, são tomados como indícios de contribuições, tanto para formadores( as) nos grupos de professores(as) e estudantes quanto para os próprios docentes e suas turmas.

A amostra da voz de formadores(as) de estudantes que integraram diferentes semifinais nessa 7ª- edição evidencia, entre outras belezas, o olhar reflexivo para a realidade educacional do país, a abrangência e a relevância da experiência e, ainda, as potencialidades no dizer dos(as) estudantes:

Ainda estou cheia de emoção, porque percebi que aqui no Sudeste há dificuldades, mas pode ser, infelizmente, bem pior. E olha que trabalho numa escola rural! Deu para ver a pobreza doer, a falta de recursos, as escolas tão precárias. [...] Entretanto, como a experiência para mim também foi renovação, continuarei crendo que apesar das limitações, mesmo que de forma injusta, o florescer pode vir. Prova disso é estudantes chegarem até aqui junto com seus professores!”
Gleiciane Rocha, de Barra Mansa (RJ)

Em resumo, fica a alegria em saber que plantamos sementes! Temos a certeza de que excelentes frutos vão surgir, pois o contato com esses jovens nos fez perceber que, apesar do contexto social vigente, ainda temos inúmeras possibilidades pela frente, todas regadas com muita determinação, perseverança e afeto.”
Cátia Maringolo, de São Paulo (SP)

Presenciamos saudades de avôs, da família, o reconhecimento da boa e velha amizade, a cumplicidade com o ‘melhor amigo do homem’, a gratidão à vida, com seus sabores e desafios... Crescemos e nos tornamos melhores, construindo saberes, conhecendo novas pessoas e nos identificando nelas e nos ressignificando. O que construímos e passamos ficará eterno em nossa estrada da vida.”
Luísa Bethônico, de Salvador (BA)

Tomando como referência os dizeres de nossos formadores(as) de professores(as), as contribuições voltam-se, essencialmente, ao cuidadoso olhar analítico de duas formadoras para os ganhos da experiência diante de numerosos desafios e as consequentes conquistas de quem “ensina aprendendo”:

Durante a formação, a turma toda evidenciou uma ressignificação pessoal e profissional. Foram dias de reflexão sobre si mesmos, sobre sua prática pedagógica e sobre o registro escrito por meio do relato de prática. Foi perceptível a ampliação dos dizeres e saberes da turma, especialmente no que tange ao relato de prática, concebendo-o não apenas como um gênero descritivo, mas carregado de sentimentos que possam suscitar emoções que inspirem os colegas-leitores. [...] As trocas de experiências, os relatos de trabalhos desenvolvidos em diversas escolas das diferentes regiões do país, as histórias distintas, mas que se assemelham na dedicação e no amor com que foram construídas constituem-se em dados riquíssimos para meu trabalho como formadora de professores na graduação e na pós-graduação em Letras.”
Márcia Ohuschi, de Belém (PA)

Trabalhar com a Olimpíada é compreender porque se faz educação, é saber que língua é poder, é empoderar nossos meninos e meninas, a partir do domínio da palavra, é construir pontes para a transformação que tanto desejamos. Participar da Olimpíada é também saber que muitos serão os desafios impostos pelo trabalho minucioso – e tão necessário – de aprimoramento textual, e na condição de trabalho desenvolvido remotamente é revelador se deparar com o protagonismo dos nossos estudantes, suas histórias e potencialidades. Cada narrativa que ouvimos e lemos revelada nesses dias de oficina é repleta da experiência e do saber da própria prática docente, reflete a crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer.”
Maria José Pereira de Jesus Silva, de Ribeira do Pombal (BA)

Como coordenadora pedagógica de formadores(as), passados os encontros, sinto renovada minha esperança na Educação, na escola pública e em seus múltiplos atores e, finalmente, na potência dos encontros virtuais – qualificados, afetivos, reflexivos e propositivos – como espaços e tempos de escuta, de acolhimento, de valorização e de ampliação de vínculos com as pessoas, suas histórias e seus saberes. No final, revivi a felicidade dos encontros presenciais e, seguramente, fui abraçada muito mais do que abracei!  

 


Patrícia Calheta foi responsável pela coordenação dos(as) formadores(as) de professores(as) e dos formadores(as) de estudantes na 7ª- edição da Olimpíada. O trabalho com os(as) formadores(as) de estudantes foi compartilhado com sua parceira Shirlei Marly Alves, que também colaborou com este volume da revista (pp. 42-43). Patrícia já atuou em outras edições da Olimpíada como formadora do Programa Escrevendo o Futuro e coordenadora pedagógica de mediadores(as) do curso virtual “Sequência Didática: aprendendo por meio de resenhas”. É mestre em Linguística Aplicada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), especialista em Ensino de Língua Mediado pelo Computador pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em Gestão Escolar pelo Senac-SP.


Notas de rodapé

1. A Rede de Ancoragem é composta por um representante da UNDIME (indicado pela Secretaria Municipal de Educação), um representante do CONSED (indicado pela Secretaria Estadual de Educação), e um docente de universidade federal ou estadual em cada Unidade Federativa e no Distrito Federal, totalizando 80 membros. Essa rede tem papel essencial nas parcerias com Estados e municípios, tanto nas ações formativas quanto no concurso, constituindo um braço do Programa nas secretarias de Educação, bem como nas universidades públicas, facilitando assim a comunicação, a mobilização e a difusão das ações do Programa.

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