Som e sentido

Atividades

  1. Projete, por meio de datashow, os poemas “Pássaro livre”, de Sidônio Muralha, e “Haicai”, de Guilherme de Almeida.
  2. Pássaro livre

    Gaiola aberta.
    Aberta a janela.
    O pássaro desperta,
    A vida é bela.

    A vida é bela
    A vida é boa.

    Voa, pássaro, voa.

    Sidônio Muralha. A dança dos pica-paus. Rio de Janeiro: Nórdica, 1985.
    Saiba mais sobre Sidônio Muralha.

    Haicai

    Um gosto de amora
    comida com sol. A vida
    chamava-se “Agora”.

    Guilherme de Almeida, in: Frederico Ozanam Pessoa de Barros. Guilherme de Almeida. São Paulo: Abril Educação, 1982.
    Para conhecer outros haicais, acesse o site de Alice Ruiz e de Carlos Seabra.

  3. Leia os textos em voz alta e depois comente-os com os alunos. Eles devem notar as repetições – de palavras, de versos, de letras. Caso isso não ocorra, proponha questões que os levem a essa percepção.
  4. Aliteração

    a) No primeiro poema, além de várias repetições de palavras e de rimas, ocorre também a aliteração, isto é, repetição da mesma consoante. Peça aos alunos que localizem essas recorrências: repetição de palavras, rimas e aliteração. Sugira-lhes que debatam com os colegas como interpretar esse recurso, verificando que efeitos de sentido ele sugere no poema:

    • Repetem-se os termos “pássaro”, “aberta”, “vida”, “bela”; e os versos quatro e cinco “A vida é bela”.
    • Ocorrem aliterações de “b”: aberta, bela, boa; e de “v”: vida, voa.
    • Aparecem três rimas: aberta / desperta; janela / bela; boa / voa. A mesma vogal “e” está presente em duas rimas, prolongando o eco sonoro e propondo associar o sentido das palavras em que está presente.
    • Esses recursos criam elos entre as partes do poema, associando o voo e a abertura de portas e janelas, isto é, a liberdade que a abertura representa. A vida seria bela e boa, com liberdade de voar – seja por meio de asas, seja por meio do pensamento e da imaginação.

    b) No segundo poema, além das rimas externas e da rima interna (comida / vida), ocorre outro tipo de repetição ou recurso de sonoridade: sons recorrentes. Localize a aliteração ou repetição da(s) mesma(s) consoante(s) e comente de que modo ela complementa o sentido do texto:

    Gosto – aGora; aMora – coMida – chaMava; Comida – Com.

    Esses sons coincidentes estendem o “gosto” ao “agora”; a “amora” à “comida” e à nomeação (“chamava”); a “comida” à preposição “com” e ao seu complemento (sol). Associa-se, desse modo, o sentido do “gosto” que é algo experimentado pelos sentidos à fruta “amora” e ao momento presente, vivido pelo poeta.

    Ritmo irregular

    a) A maioria dos exemplos lidos até aqui apresenta ritmo regular. No entanto, há casos em que o ritmo é irregular, assim como o tamanho dos versos: ora longos, ora curtos. Veja dois exemplos: um trecho do poema de João Cabral de Melo Neto (“O trem de ferro”) e alguns versos de Cora Coralina (“Coisas do reino da minha cidade”).

    O trem de ferro

    […]
    Agora vou deixando
    o município de Limoeiro.
    Lá dentro da cidade
    havia encontrado o trem de ferro.
    Faz a viagem do mar,
    mas não será meu companheiro,
    apesar dos caminhos
    que quase sempre vão paralelos.
    Sobre seu leito liso,
    com seu fôlego de ferro,
    lá no mar do Arrecife
    ele chegará muito primeiro.
    Sou um rio de várzea,
    não posso ir tão ligeiro.
    Mesmo que o mar os chame,
    os rios, como os bois, são ronceiros.
    […]

    “O trem de ferro”, in: João Cabral de Melo Neto. Poesias completas. RJ: José Olympio, 1986.

    Coisas do reino da minha cidade

    Olho e vejo por cima dos telhados patinados pelo tempo
    copadas mangueiras de quintais vizinhos.
    […]
    As mangueiras estão convidando todos os turistas,
    para a festa das suas frutas maduras, nos reinos da minha cidade.
    […]
    Estas coisas nos reinos de Goiás.

    “Coisas do reino da minha cidade”, in: Cora Coralina. Vintém de cobre – Meias confissões de Aninha. 9ª ed. São Paulo: Global, 2007.

    b) Ao compor um poema, o autor escolhe o ritmo mais adequado para favorecer o sentido do texto. O ritmo – regular ou irregular – e as repetições estão presentes não só nos poemas, mas também em cantigas- e brincadeiras infantis.

  5. Para trabalhar ludicamente a questão do ritmo com os alunos, experimente com eles a etapa Triângulo das quadrinhas do jogo Arquipélago poético, disponível neste Caderno Virtual.