Início, meio e fim

A importância de planejar

Para explorar o “desenho” de um texto de memórias literárias é necessário que os alunos e alunas tenham contato com livros desse gênero. Este Caderno contém trechos de livros; as exceções são: Como num filme e Doces memórias, que não fazem parte de livros.

Atividades

  1. Imprima cópias do texto Doces memórias para a turma. Recorte as cópias seguindo as linhas pontilhadas, distribua os trechos recortados entre os grupos de alunos. Explique-lhes que se trata de um texto de memórias literárias escrito pela aluna Adrielle Vieira de Oliveira, participante da Olimpíada de Língua Portuguesa. Peça que leiam os trechos e procurem organizar o texto, colocando os parágrafos em uma ordem com início, meio e fim.
  2. Converse com eles, comparando a forma como o texto foi organizado pela estudante com o modo que cada grupo o ordenou.
  3. Solicite aos estudantes que, nos grupos, encontrem o trecho do texto que situa o(a) leitor(a) no tempo e no espaço em que as lembranças se desenrolam. Veja se conseguem distinguir os parágrafos em que a autora descreve a cidadezinha de outrora e também a zona rural em que vivia. Para ajudá-los no reconhecimento dos trechos, um bom recurso é fazer grifos, utilizando o projetor.
  4. Peça-lhes que escrevam, com palavras deles, quais são os principais fatos lembrados pela entrevistada de Adrielle.
  5. Coloque em evidência os trechos em que a narradora se coloca criticamente em relação ao passado: O que ela fala da vida na lavoura? Como se sente em relação à vida religiosa da época? Quais eram as carências daquele período e do que ela gostava? Como isso aparece materialmente no texto?
  6. Atente-se também às expressões hoje pouco usuais que aparecem no texto - como “de arracar picapau do oco” - e também a metáforas como “cartão de crédito era a palavra do freguês”.
  7. Memórias literárias

    Doces memórias

    Parte 1

    Percorro em sonhos a cidadezinha de minha infância. Um largo e caudaloso rio serpenteando a várzea fértil. A ponte de ferro da charqueada já se encontrava lá toda imponente. A luz elétrica ali produzida iluminava o centro da cidade. Poucos casarões de pau a pique ao longo da pacata rua Belo Horizonte, hoje a movimentada avenida Abílio Machado. Impossível esquecer-me da igrejinha do Rosário com sua torre norte sineira. Às quinze horas, começava um movimento pelas vielas. Lá se iam as senhoras atraídas pelo tocar do sino. Hora do terço, muito me admirava a fé daquelas pessoas! Mamãe, com apenas um olhar, recomendava-me silêncio e puxava a turma de carolas com cantos e orações. Rezávamos até para chover se a seca ameaçasse a plantação. Mas o que mais me encantava nesta igreja eram as missas das manhãs de domingo. Depois de uma longa homilia, saíamos a apreciar os poucos carros tipo "Ford Bigode" que circulavam em torno da praça. Ora, assentávamos nos banquinhos para uma boa prosa. Havia umas prosas de "arrancar picapau do oco". Enquanto isso, exalava dos casarões um cheirinho de macarronada com galinha caipira que dava água na boca. Só mesmo atraídos por estes aromas e pelo apito do trem das onze, assinalando o horário do almoço, é que deixávamos a pracinha do chafariz.


    Parte 2

    Quando o inverno chegava, minhas tristezas e alegrias contrastavam. Cortava-me o coração ver meu pai e mais seis irmãos saírem debaixo de um frio congelante para irem trabalhar arduamente na lavoura. Eu ficava em casa ajudando mamãe com os afazeres domésticos. Carregar pote de água na cabeça não era nada divertido. Pelo caminho, sonhava mesmo era carregar minha cartilha e ir para o Grupo Escolar. Como foi dolorido sair no segundo ano! Mas já sabia ler e isto bastava para as famílias pobres. Para esvair minha dor, só mesmo o canto e os mexericos das lavadeiras na mina. Sábias, ludibriavam bem quando eu estava por perto. Jamais envolviam crianças em assuntos de adultos.


    Parte 3

    Já as alegrias, vinham com as festas de São João. Fogueira gigante, noite estrelada e não poderia faltar aquelas broas de fubá com canela, de sabor jamais degustado igual, como aquelas que só vovó Conceição sabia fazer. Dezembro era pura magia! As chuvas e nossas brincadeiras no lamaçal. Quanta farra e criatividade! Os meninos abandonavam os carrinhos de lobeira - pequeno arbusto - e eu as minhas bonecas de retalhos. Como a rua era bem mais atrativa! Tudo ali se tornava fantástico. Construíamos castelos de barro e imaginávamos uma fábrica de chocolates. Ah chocolate! Só na imaginação mesmo, pois no empório da dona Gilda, onde se vendia do urinol ao chocolate, tudo era caríssimo. Comerciante boa era ela! Cartão de crédito era a palavra do freguês.


    Parte 4

    Inesquecíveis foram os saraus de fim de ano do Sr. Abner, ali a cultura, a arte e romance se misturavam. Quantos poemas ouvi, quanto me emocionei! Muitos casamentos saíram dali. Hoje, recordo-me de tudo com lágrimas quentes descendo dos meus olhos e salgando a boca. Porém o que permanece em minha memória adocica essa solitária velhice.

Memória nas estantes

A visita a uma biblioteca pode ampliar ainda mais o repertório de seus alunos. Se na cidade em que você mora ou na escola em que você leciona há uma biblioteca, leve sua turma para descobrir textos de memórias.

Aproveite a oportunidade para ensiná-los(las) a localizar e fazer consultas na biblioteca por: título, autor, assunto, gênero.

Você pode incentivá-los(las) a se cadastrarem e retirar alguns livros para leitura em casa.