Conversando sobre crônica

Atividades

  1. Apresente o título do texto: “Cobrança”. Faça um jogo de livre associação pedindo aos alunos que digam rapidamente, um depois do outro, tudo o que lhes vem à cabeça ao ouvir a palavra “cobrança”.
  2. Divida os alunos em trios e leia com eles o texto “Cobrança”. A leitura deve começar pela exploração do título.
  3. Fale sobre a situação de comunicação em que a crônica “Cobrança” foi produzida: o veículo inicial foi o jornal, só depois foi publicada no livro O imaginário cotidiano.
  4. Após a leitura, com a ajuda do datashow, projete o texto e ressalte os elementos desse gênero e os recursos linguísticos utilizados pelo autor, grifando-os com cores e da seguinte forma:

Para saber mais

Sobre “Cobrança”

Observe que o cronista escreve num tom jocoso. Como narrador, não faz rodeios; logo no título vai direto ao tema: trata-se de uma cobrança.

No primeiro parágrafo, de forma também concisa e direta, introduz as personagens: cobrador e devedora inadimplente. Não as caracteriza, não diz nada a respeito delas. Indica algumas ações e onde elas ocorrem – o essencial para que o leitor visualize a cena. Ele também estabelece um diálogo entre ambas, explicitando ligeiramente a situação.

Em seguida o cronista introduz um elemento surpresa: o leitor, agora, já não está na frente de um cobrador, mas de um marido cobrador, o Aristides. A mulher, que não ganha um nome, já não é uma mulher qualquer, mas a mulher do cobrador! Essa revelação altera as previsões do leitor e, por isso mesmo, o surpreende; o leitor está perante uma situação aparentemente inusitada. Isso o obriga a mudar o curso de seu pensamento.

Utilizando-se do recurso do desdobramento dos papéis (marido/mulher; cobrador/devedora), o cronista surpreende o leitor e o conduz à reflexão esperada, ou seja, o cronista viabiliza uma reflexão quando apresenta ao leitor os diferentes papéis que o sujeito social exerce, que muitas vezes são conflitantes. Com isso, o inédito da situação fica mais acentuado e a narrativa pode continuar, agora enriquecida de um novo aspecto.

Neste momento, entra com maior força o cotidiano – elemento tão fundamental e caracterizador do gênero. O autor do texto apresenta ao leitor o cerne da questão que a crônica aborda: mulher gastadeira, marido que adverte, mulher que não liga para a advertência e as possíveis consequências disso. Quantos dos leitores não ouviram falar disso ou mesmo já não viveram situação parecida? O diálogo é pontuado por um narrador lacônico que constrói a cena e indica o essencial do estado psicológico da personagem, por exemplo, irritada. Ele interrompe duas vezes o diálogo somente para indicar dados essenciais para que o leitor visualize a cena e compreenda a história, e fecha o texto, concisamente, no último parágrafo, retomando o texto inicial.

Assim, essa crônica, como muitas outras, refere-se a um tipo de comportamento humano, um comportamento atemporal, o que, por um lado, facilita a identificação do leitor e, por outro, estabelece a atualidade do assunto. Além disso, o cronista a escreve com recursos bastante interessantes, de forma que a crônica deixa de ser “descartável”, adquirindo um sabor literário.