As mudanças

Atividades

  1. Pergunte à classe como acham que Antonio Gil transformou essa entrevista num texto de memórias literárias. O que será que ele fez primeiro? É possível que eles proponham:
    • apagar as perguntas, deixando só as respostas;
    • o registro de alguma informação essencial para que o(a) leitor(a) compreenda o texto que será produzido;
    • a seleção dos trechos mais importantes de acordo com o tema escolhido etc.
  2. Diga-lhes que vão fazer coletivamente a passagem de um fragmento da entrevista que Antonio Gil realizou com o sr. Amalfi para um registro escrito. Peça que prestem bastante atenção e documentem o processo desenvolvido, pois em seguida vão realizar esse mesmo trabalho com as entrevistas que fizeram.
  3. Retome as Oficinas 5 e 8, que tratam do planejamento dos textos de memórias literárias e dos recursos utilizados para narrar os fatos vividos e lembrados pelo(a) entrevistado(a). Destaque que a contextualização, bem como as descrições de lugares e de aspectos referentes ao tempo passado, estão presentes na fala dele. Peça ao grupo que observem também se, ao narrar os fatos, o entrevistado ou a entrevistava já confere um colorido especial, marcado pela emoção, pela saudade. E os alunos e alunas, como autores e autoras do novo texto, podem também lançar mão de outros recursos para deixá-lo ainda mais atraente. Lembre também a turma sobre o uso da primeira pessoa.
  4. Chame a atenção para a importância de considerar sempre o contexto não só da entrevista como da escrita final. Para tanto auxilie a turma na observação de alguns itens:
    • Comecem eliminando as perguntas e mantendo apenas as respostas.
    • Releiam o trecho apresentado e registrem as informações que vocês considerarem fundamentais para alguém que não ouviu a entrevista e não conheceu o entrevistado ou a entrevistada. Essa etapa corresponde à seleção das informações.
    • É importante compreender bem os fatos narrados. Se houver termos desconhecidos, consultem o dicionário, que pode ser físico ou virtual.
    • Uma vez feita essa primeira escrita, identifiquem se há no texto repetições de palavras ou expressões muito próximas e avaliem a possibilidade de eliminar essas informações ou substituir termos ou expressões por outras, equivalentes.
    • Fiquem atentos ao uso dos pronomes demonstrativos (esse, esta, aquele, aquela etc.). Enfatize que a forma como são usados na fala nem sempre é adequada ao registro escrito.
    • Verifiquem a adequação da linguagem para a situação proposta. Lembrem-se de que não há um único modo correto de dizer, mas quando um texto é “publicado” é necessário seguir as regras da norma-padrão. A intenção não é descaracterizar a linguagem do entrevistado, como enfatizamos na conversa sobre variedade linguística em uma das oficinas anteriores, mas torná-la adequada a um texto de memórias literárias.
    • Para encerrar o trabalho, verifiquem a grafia das palavras.
  5. Peça que façam uma apreciação do texto produzido, ressaltando o que ficou bom e o que poderia ser melhorado.
  6. Agora, confira uma redação possível do trecho retextualizado. Perceba que nesse exercício foram preservadas apenas as informações fornecidas pelo entrevistado.

    Sinto uma emoção muito forte quando me lembro da minha infância. Eu tenho muita saudade daquele tempo. Meu pai e minha mãe eram italianos; ele era marinheiro e se chamava ngelo Amalfi. Há dois anos eu fui até a Itália e pude conhecer a terra dos meus pais. Foi o melhor passeio que eu fiz até hoje! Mas da minha infância me lembro bem porque a minha mãe me contava: eles vieram casados para São Paulo, em 1918, e já ficaram em Santana. Naquele tempo nem existia a Voluntários da Pátria. Meu pai foi trabalhar na Sorocabana. E então…

  7. Leia para a classe o trecho originalmente produzido por Antonio Gil com base no fragmento da entrevista concedida pelo sr. Amalfi e sua retextualização. Em seguida, peça-lhes que comparem com o texto que produziram, observando as modificações.

    Não foi difícil cair nas graças de seu Amalfi. Direto, sincero, amoroso, foi logo falando de sua vida, com um jeito meio solto, especial, como quem vai montando uma sequência de cenas em nosso pensamento. De início, estáticas e em preto e branco, e, aos poucos, em impulsos coloridos. Depois de uma ou outra pergunta, quase nem precisei falar mais nada. Apenas ouvir, entregar-se à brincadeira da memória era o que bastava.

    Ele foi contando, contando e imagens foram se instalando em mim como quem entra em um filme.

    “Esse cheirinho de café pendurado no vento leve conduz a meu tempo mais antigo.

    Pensei ouvir bem baixinho um fiapo de uma canção napolitana e tudo veio à tona. Logo lembrei-me de minha mãe torrando café, fazendo o pão, a macarronada. Bem que procuro não pensar muito para não marejar os olhos.

    O começo de tudo foi na Itália. De lá vieram meus pais. Fugidos do horror da guerra, acabaram por fazer a vida aqui em São Paulo, onde nasci. É a partir dessas lembranças que minha cabeça parece uma máquina de fabricar filmes.

    Recordo muita coisa. Não só do que minha mãe contava, mais ainda das que eu vivi.”

  8. Observe, com o grupo, que o autor utilizou as observações que fez enquanto conversava e ouvia o entrevistado como material para produzir um texto que reconstrói não apenas o momento da entrevista, mas também as lembranças relatadas pelo entrevistado. Antonio Gil transformou as respostas da entrevista feita com o sr. Amalfi em um texto de memórias literárias; ele se baseou nos fatos contados e nos sentimentos revelados pelo entrevistado para recriar a experiência por ele vivida. Mais que isso, ele mostra o processo por meio do qual foi entrando no passado do sr. Amalfi para narrar suas lembranças como se ele próprio as tivesse vivido.
  9. Leia para os alunos e alunas mais dois trechos da entrevista que resultou no texto de Antonio Gil, observando os quadros abaixo.

    Trechos da entrevista

    É que meu pai veio trabalhar na Companhia Estrada de Ferro Sorocabana. Era a companhia que fazia os trens circularem de São Paulo ao interior.

    A gente tinha uma brincadeira naquela época, que era chocar o trem. E sei que você vai me perguntar o que é isso, não vai?

    Em 1929 minha mãe me matriculou no Grupo Escolar de Santana. Na escola fiz muitos amigos. Tempo bom mesmo… Eu não era um bom aluno, mas era esperto.

    Como ficou no texto de memórias literárias

    Uma brincadeira de que gostávamos muito era “chocar o trem”. Sabe o que é isso? Era subir rapidinho no trem em movimento. Ele andava bem devagar, é claro, levando pedras da Serra da Cantareira para construir a cidade.

    Da escola eu não gostava tanto. Não era um bom aluno, mas era esperto, vivido. Isso sim. O que acabava ajudando em muitas situações…

  10. Enfatize outras soluções que poderiam ter sido encontradas, tanto por eles e elas, na produção coletiva, quanto pelo autor do texto, pois há muitas possibilidades para narrar os mesmos fatos. Diga ainda que na Oficina 14 as alunas e os alunos vão conhecer, na íntegra, a versão final do texto Como num filme. Concluindo, apresente a eles o vídeo “Museu Memorial do Imigrante” para que possam compreender um pouco melhor a realidade de imigrantes como o sr. Amalfi.