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Margarete Schlatter
Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Este plano de aula apresenta sugestões comentadas de atividades para a leitura do texto “Tá com dó do refugiado? Leva pra casa!” , de Leonardo Sakamoto, publicado no blog do autor em 8 de setembro de 2015 e foco da Oficina 11 – “Vozes presentes no artigo de opinião”, do Caderno Pontos de Vista (p. 128-139).

Para criar oportunidades para a formação de leitores proficientes, é importante propor:

  • atividades coerentes com as expectativas de leitura do gênero do discurso;
  • atividades que buscam promover a compreensão dos sentidos do texto;
  • a explicitação da relação entre o que foi compreendido e os recursos linguístico-discursivos do texto;
  • o estudo das referências culturais necessárias para uma compreensão aprofundada do texto;
  • a apreciação do texto após o compartilhamento de diferentes interpretações;
  • dinâmicas variadas (trabalhos em duplas, grupos, professor-turma) para compartilhar e comparar os sentidos atribuídos ao texto.

No caso de um artigo de opinião, por exemplo, faz sentido propor conhecer quem está opinando e em que momento histórico, compreender o ponto de vista do autor sobre o tema e os argumentos utilizados para defendê-lo, entender quais argumentos está refutando. Também é importante organizar dinâmicas de discussão sobre o que foi compreendido por diferentes leitores e sobre outras versões e pontos de vista sobre o fato. Para isso, pode-se planejar várias maneiras de ler: uma aproximação inicial ao texto para sondar do que trata, uma leitura do texto em partes, com pausas para discussão e análise, releituras de trechos e de detalhes, privilegiando, assim, dinâmicas variadas, que alternem a leitura individual com o trabalho em pares, em pequenos grupos e com a turma toda.

O plano de aula a seguir tem como base as seguintes etapas:

  1. Despertar a curiosidade e o desejo de ler e de aprender com a leitura
  2. Acionar conhecimentos prévios sobre o tema e sobre o gênero do discurso
  3. Iniciar a leitura: contato inicial com o texto e levantamento de hipóteses de leitura
  4. Desenvolver a leitura
  5. Aprofundar a leitura
  6. Articular as aprendizagens a partir da leitura
  7. Construir novos textos

As etapas 3, 4 e 5 propõe atividades relacionadas ao texto “Tá com dó do refugiado? Leva pra casa!”. Primeiro há uma caixinha cinza, na qual apresentamos as atividades do jeito que elas podem ser expostas para seus alunos; em seguida, há a explicação dos seus objetivos e a sugestão de alguns procedimentos para o seu desenvolvimento.

O planejamento da aula de leitura requer que o professor estude o texto com antecedência e que reflita sobre possíveis interpretações a partir de suas vivências e pesquisas sobre o tema e o gênero: como leitor mais experiente, que interpretações faço ao ler o texto? Por quê? Como posso mediar a leitura de leitores menos experientes para que compreendam o texto? Que outras leituras seriam possíveis a partir de outros pontos de vista?

Ir para as etapas 1 e 2.

Etapa 1 - Despertar a curiosidade e o desejo de ler e de aprender com a leitura

Etapa 2 - Acionar conhecimentos prévios sobre o tema e sobre o gênero do discurso

As duas primeiras etapas poderão ser desenvolvidas de acordo com o lugar desse texto no programa de ensino. Se o texto fizer parte de uma discussão mais ampla sobre refugiados e do estudo de artigos de opinião, o professor provavelmente já terá o contexto necessário para a leitura. Se este for o primeiro texto do projeto pedagógico em pauta, uma discussão com base em perguntas sobre o tema e o gênero discursivo poderá ser o ponto de partida para o trabalho:

  • O que você conhece sobre a situação dos refugiados na nossa cidade/no nosso país?
  • Você já leu/lê artigos de opinião em jornais/revistas? Pode citar exemplos? Por que e para que você lê esses textos? Quais são algumas características desses textos? Do que tratam? Quem escreve? Para quem? Com que objetivo?
A discussão sobre o tema pode ser provocada, por exemplo, a partir de um conjunto de fotografias e/ou manchetes de jornal que apresentem diferentes situações de refugiados. Para compartilhar o que conhecem sobre o gênero em pauta, o professor e/ou os alunos podem trazer alguns exemplares de artigos de opinião de diferentes articulistas e mídias, para circulação em aula e ilustração da diversidade de temas, posições, formatos. Essas discussões servirão para contextualizar o texto a ser lido e ativar alguns conhecimentos prévios importantes para que o aluno possa se posicionar frente ao texto já como participante, usuário e analista.

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Etapa 3 - Iniciar a leitura: contato inicial com o texto e levantamento de hipóteses de leitura

Atividade I

As aspas usadas no título do artigo indicam que essas linhas são a fala de alguém. Leia a apresentação do autor no blog (você também pode navegar no blog do autor para conhecer outros textos escritos por ele). Você diria que essa fala é do autor? Por que sim/não?

Uma das questões chave para compreender um texto é buscar identificar, desde o início, a interlocução construída, para avaliar que posição tomar, como leitor, em relação ao que está sendo tratado no texto. Todo texto é uma resposta a outros textos e de algum modo sinaliza com quem está dialogando a partir de referências a outros autores, ideias, comentários etc. Um leitor proficiente se pergunta ao longo do texto: por que o autor está dizendo isso aqui e agora e desse modo? Que relações o autor está fazendo com o que está acontecendo no mundo em que ele vive, com os atores que estão construindo esse mundo e tendo em vista o que já foi dito sobre o tema?

Essas perguntas vão possibilitando o levantamento de hipóteses sobre a posição do autor em relação ao tema, que serão confirmadas ou refutadas no decorrer da leitura. Como leitor mais experiente, o professor pode preparar atividades que propiciem essa atitude de participação na leitura, provocando a discussão sobre as expectativas que os estudantes possam ter do que vão encontrar no texto.

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Etapa 4 - Desenvolver a leitura

Clique nas atividades para visualizar.

Atividade II

Vamos ler o texto em duas partes. No primeiro trecho (parágrafos 1 a 4), o autor apresenta diferentes posições em relação ao tema do artigo.

  1. Este tema não é novo por aqui (início do terceiro parágrafo) – a que tema o autor se refere? Como você sabe?
  2. Vamos reconstruir as vozes do texto: organize os termos usados no texto em relação aos referentes. Confira sua organização com a do colega.
  • pessoas com síndrome de pombo-enxadristas
  • clamor (pessoas que clamam)
  • aquela gente pobre, parda, perdida ou violada que habita as frestas das grandes cidades
  • esse pessoal
  • o povo
  • bicho
  • pombo
  • gente
  • refugiados na Europa
  • refugiados não só da Síria, mas da Ásia, África e América Latina
  • deles (eles)
  • os (coloque-os)
  • o leitor do texto: (você) não viu... (você) acha... culpe... que te...
  • bolha cor de rosa
  • o mundo lá fora

Refugiados

Quem apoia posição 1

Quem apoia posição 2

 

 

 

  1. Com base nas anotações que você fez, quais são as posições 1 e 2?
  2. Com base nas posições que você identificou, de que lado o autor se posiciona? Com quem ele está dialogando? De que lado ele posiciona o leitor? Como você sabe?

A partir do título, que introduz o tema e já explicita um posicionamento (instigando o leitor a reagir), até o último parágrafo, em que o autor conclui com uma avaliação de um ponto de vista, pode-se dizer que o texto está construído em duas grandes partes: na primeira (título, parágrafos 1 a 4; conforme analisado na Oficina 11, p. 134), o autor interpela o leitor, trazendo diferentes vozes no texto, chamando o leitor a tomar sua posição em relação à situação retratada. Na segunda parte (parágrafos 5 e 6), o texto muda de tom para explicitar a tese e os argumentos. É importante, para a compreensão do texto, que o leitor menos experiente se dê conta disso. As atividades II a V buscam promover a vivência e a reflexão sobre os movimentos do texto, por meio de uma leitura em partes e comentada (em vez de uma atividade de leitura do texto na íntegra para responder perguntas de compreensão no final).

A questão “a” tem o objetivo de propor uma identificação inicial do tema (isso poderá ser confirmado ou revisto após a leitura dos parágrafos 5 e 6). As questões “b”, “c” e “d” propõem organizar as vozes e posições construídas no texto e identificar a posição do autor. Para isso é importante compreender como isso é construído no texto, por meio de uma cadeia de referentes reiterados pelo uso de pronomes e substituições lexicais.

Atividade III

Explicite as posições que você identificou no quadro a seguir e liste alguns argumentos que poderiam ser usados para defendê-las.

Posição 1: 

Posição 2:

Possíveis argumentos:

 

Possíveis argumentos: 

 

Com base no que vai lendo, o leitor vai confirmando ou reconfigurando as hipóteses sobre o que vai encontrar a seguir. Nesta parte do texto, cabe uma parada para antever possíveis argumentos que poderão surgir, atualizando, assim, coletivamente na turma, a motivação para continuar a leitura com vistas a conferir se é isso mesmo que o autor vai dizer.

Atividade IV

Leia os parágrafos 5 e 6 para ver como o autor defende sua posição e quais argumentos utiliza.

  1. Confira se algum dos argumentos listados também são utilizados pelo autor.
  2. Explicite a posição defendida e os argumentos utilizados pelo autor, observando de que modo respondem a outros posicionamentos.

Posição defendida pelo autor:

Argumentos antagônicos retomados no texto:

 

Argumentos usados pelo autor:

 

  1. Que tipos de argumentos são utilizados pelo autor? Argumentos de autoridade, por evidência, por comparação, por exemplificação, de princípio, por causa e consequência? São convincentes? O que você acrescentaria para torná-los mais convincentes?

Na continuidade da leitura, os alunos confirmam ou não as hipóteses feitas.

Na questão “b”, eles confirmam ou reveem a posição do autor identificada anteriormente e aprofundam a compreensão sobre a relação entre as vozes construída no texto. Conforme dito acima, é importante compreender que, num artigo de opinião, os argumentos respondem a argumentos antagônicos. É desse modo que o texto constrói o interlocutor a quem se destina e busca se tornar convincente. É fundamental, para uma boa compreensão do texto, que o leitor possa se colocar nessa posição e compreender se faz parte ou não do grupo de interlocutores construídos. Essa percepção orientará a reação do leitor ao texto.

A questão “c” promove uma reflexão sobre os tipos de argumentos usados para persuadir o leitor. É importante avaliar a eficácia desses argumentos a partir da perspectiva de diferentes interlocutores. Por exemplo, para alguns, os argumentos poderiam ser mais convincentes se apresentassem alguma informação específica do Projeto de Lei em pauta ou dados sobre refugiados (dificuldades de moradia, trabalho etc.). Como artigo de opinião, a apresentação de uma opinião bem fundamentada é suficiente. Se, no entanto, fizéssemos um debate sobre o tema com vistas à tomada de decisões, seria necessário trazer mais dados para subsidiá-las.

Atividade V

Leia novamente o texto e discuta com colegas.

  1. No último parágrafo, o autor usa a primeira pessoa e retoma o tom da primeira parte do texto. A quem ele se refere quando usa “desse povo”, “nós”, “eles” e “pessoal”? Quais as posições dessas pessoas sobre o tema em pauta?
  2. Compare o título, os parágrafos 1, 2, 3 e 4, e a conclusão do artigo com os parágrafos 5 e 6. Você percebe uma mudança de tom nessas partes do texto? O que muda? Qual é o efeito de sentido que essa mudança provocou em você, como leitor do texto? Que recursos linguístico-discursivos são usados para criar esse efeito de sentido?
  3. Observe o uso de aspas no texto (título, parágrafos 1 e 3). A quem são atribuídas essas falas? Retomando a primeira atividade de leitura do texto, de que modo a interpretação do uso de aspas se relaciona com conhecer quem escreve em que momento histórico?
  4. Observe algumas das referências feitas a outros textos e falas (trechos sublinhados). Se você não conhece as referências feitas, descubra sobre o que tratam. De que modo conhecer essas referências pode contribuir para os sentidos do texto?
  • O mundo lá fora, minha gente, é flicts.
  • O projeto, já aprovado no Senado e que está em análise na Câmara dos Deputados (PL 2516/15), repudia a xenofobia, tendo um caráter mais humanitário que o Estatuto do Estrangeiro atual, um Walking Dead – morto, mas segue aí, atrapalhando.
  • Prova de que uma mentira contada mil vezes vira verdade.
  1. Você conhece outras referências de textos, dados, opiniões sobre o tema em pauta? Conte para os colegas, e discutam de que modo essas informações podem contribuir para a compreensão do texto.

Promover a aprendizagem da leitura pressupõe oportunidades para aguçar o olhar, para relacionar o que se lê com o que já é conhecido e propor desafios que a turma possa enfrentar em parceria para poder avançar gradativamente para novos entendimentos do texto. Leitores proficientes estão atentos aos modos como o texto vai se construindo, às transições entre as partes, aos recursos linguístico-discursivos usados, a novos encaminhamentos dados, a mudanças de tom para construir os sentidos do texto.

As questões “a” e “b” tratam do tom pessoal e impessoal de diferentes partes do texto. Uma das características – historicamente construídas – dos textos argumentativos como o artigo de opinião é a impessoalidade. Por exemplo, o emprego da terceira pessoa do singular ou plural, e também de expressões como “é ótimo que”, “é prova de que”, “devemos/deve-se” – em vez de “considero ótimo que”, “posso concluir que”, “você deve” – pode criar um efeito de racionalidade, consistência e confiabilidade dos argumentos apresentados para defender um ponto de vista, bem como sugerir uma interlocução ampla (e não singular). Isso não quer dizer que seja possível apagar a subjetividade do autor, mas sim que ele está optando por criar esse efeito de sentido no seu texto. Neste texto em particular, o autor alterna partes mais subjetivas, para interpelar o leitor a posicionar-se, e partes com marcas de impessoalidade. Analise com os alunos como o autor constrói essas partes do texto e quais recursos linguístico-discursivos emprega. Na atividade VI, você poderá retomar ou ensinar esses recursos de modo mais sistemático.

Vimos que um mesmo texto pode ser lido de diferentes maneiras, dependendo dos conhecimentos prévios dos leitores – a questão “d” trata dessas diferenças. Como leitores mais experientes e mediadores, podemos acionar e explicar conhecimentos e pressupostos relevantes para a interpretação mais aprofundada do texto. Oportunidades de parceria com colegas (em duplas e em grupos) são maneiras de engajar a participação de todos na construção dos sentidos do texto e no compartilhamento de diferentes entendimentos e aprendizagens que a leitura pode gerar.

Para a discussão em “e”, seria interessante trazer para a aula o Estatuto do Estrangeiro e o Projeto de Lei 2516/15, foco do artigo, entre outros textos sobre o tema.

Ir para a etapa 5.

Etapa 5 - Aprofundar a leitura

Clique nas atividades para visualizar.

Atividade VI

Linguagem: vimos que um dos modos que o autor usou para construir relações na primeira parte do texto foi o uso de uma cadeia de pronomes e substituições lexicais para referir-se a duas posições antagônicas sobre o tema. Veja novamente como isso foi feito no trecho a seguir:

É só falar da necessidade de políticas específicas que garantam qualidade de vida para esse pessoal mas, ao mesmo tempo, respeitem seu direito de ir e vir e ocupar o espaço público que o povo vira bicho. Ou melhor, vira pombo.

Este tema não é novo por aqui, mas vi que a frase passou a ser usada diante da última crise de refugiados na Europa. Gente empregando-a para negar a necessidade de acolher refugiados, não só da Síria, mas da Ásia, África e América Latina.

Outro modo de estabelecer conexões entre ideias em um texto é por meio do uso de conectores.

Conectores são palavras ou expressões que usamos para relacionar partes de uma oração, orações ou partes do texto, para tomar posição, indicar certeza, probabilidade ou restrição, comparar, opor, contrastar, acrescentar ou organizar argumentos, indicar causa e consequência, preparar conclusão.

  1. Em grupos, vamos analisar os trechos a seguir do texto de Leonardo Sakamoto. Discutam quais outros conectores poderiam ser usados para expressar a mesma relação. Vocês podem fazer as alterações que acharem necessárias para manter o sentido do texto.

Tanto na Europa quanto por aqui, ações individuais ajudam a mitigar o impacto inicial dos refugiados, garantindo apoio a quem perdeu tudo. E é ótimo que seja assim. Mas eles devem ser alvo, principalmente, de uma política pública, com intervenção direta do Estado, única instituição com tamanho e legitimidade para garantir uma ação nacional, transnacional e de escala. Porque isso também inclui a garantia da autonomia econômica e social às famílias. Quem acha que o Estado é um simples entrave, e não a forma que construímos para impedir que nos devoremos, tem dificuldade de entender que o acolhimento de refugiados e migrantes não é caridade individual, mas sim a efetivação de compromissos assumidos internacionalmente por um povo.

Ao mesmo tempo, o Estado é responsável por aprovar o mais rápido possível a nova lei brasileira de migração, que facilita a acolhida de estrangeiros de locais com instabilidade, guerras, violações a direitos humanos. O projeto, já aprovado no Senado e que está em análise na Câmara dos Deputados (PL 2516/15), repudia a xenofobia, tendo um caráter mais humanitário que o Estatuto do Estrangeiro atual, um Walking Dead – morto, mas segue aí, atrapalhando. Não é a panaceia para todos os problemas, mas um passo importante. Migrantes geram riqueza para seus novos países, mas a narrativa é de que são custosos para o poder público. Prova de que uma mentira contada mil vezes vira verdade.

  1. A conexão entre ideias nem sempre é feita de modo explícito no texto. Nesses casos, cabe ao leitor relacionar as ideias apresentadas, prestando atenção a como o autor combina as palavras, ao que diz em outras partes do texto, a ilustrações que acompanham o texto, ao que sabe sobre o assunto, aos seus posicionamentos e crenças sobre o tema. Que conectores você usaria para expressar a relação entre as orações a seguir? Compare suas respostas com as dos colegas: são as mesmas? São diferentes? Poderiam ser outras?

  • ''Tá com dó? Leva para casa!''
  • Culpem o algoritmo de sua rede social que te colocou numa bolha cor de rosa. O mundo lá fora, minha gente, é flicts.
  • Migrantes geram riqueza para seus novos países, mas a narrativa é de que são custosos para o poder público. Prova de que uma mentira contada mil vezes vira verdade.
  • Tenho dó é desse povo que tem medo de tudo e acha que a vida é uma selva, do nós contra eles. Pessoal que pensa assim, na boa, sua vida deve ser ruim demais.
  1. Que efeitos de sentido provoca o uso ou a ausência dos conectores?  Em que textos são usados com maior/menor frequência? Analisem, por exemplo, alguns outros artigos de opinião, peças publicitárias, canções, trechos de conversa cotidiana ou de um debate público. De que modo é construída a coesão nesses textos? A relação entre as ideias é feita de modo explícito ou implícito? Quais são os efeitos de sentido provocados pelos recursos linguístico-discursivos utilizados (uso de pronomes, substituições lexicais, reiteração, elipse, conectores).

O objetivo aqui é compreender a função e os efeitos de sentido de recursos linguístico-discursivos importantes para a construção do artigo de opinião: modos de conectar ideias e diferentes pontos de vista para construir uma argumentação convincente.

Nesta parte, é importante discutir a variedade de estratégias que usamos para relacionar ideias e como isso pode mudar de acordo com o que é mais recorrente em determinados gêneros, como também por conta de efeitos de sentido que se queira provocar. Em uma peça de publicidade, uma canção ou um poema, por exemplo, a relação entre as ideias é muitas vezes sugerida pela combinação de palavras, pela justaposição de orações ou pela relação entre estímulos verbais e não verbais (imagens, ilustrações, fotos, melodia, ritmo). Em artigos de opinião, a explicitação de conectores tende a ser mais frequente, mas, como vimos, a conexão de ideias também é fortemente feita por meio de uma cadeia de referentes que precisa ser reiterada de diversas maneiras ao longo do texto.

Observe os diferentes modos de construir a coesão ao longo do texto em pauta, relacionando-os com o tom pessoal e impessoal das diferentes partes (atividade V). Analise com os alunos os efeitos de sentido das diferentes opções usadas pelo autor, brinque de mudar a forma de fazer essas conexões pensando em diferentes interlocutores e também em diferentes gêneros. Por exemplo:

  • Como seria construir uma tese e um argumento em um artigo de opinião usando as ideias da canção Chuva ácida, de Criolo?
  • Como ficaria a letra de uma canção que usasse as ideias dos parágrafos de Leonardo Sakamoto acima?
  • Como ficaria a conversa com um colega a partir das ideias dos parágrafos de Leonardo Sakamoto acima?

Atividade VII

Recriando tons do texto. Vamos separar a turma em dois grupos. Cada grupo deverá escolher uma das atividades a seguir.

  1. Reescreva os parágrafos 5 e 6 do texto de Leonardo Sakamoto, para manter o tom pessoal do restante do texto. Que mudanças são necessárias?
  2. Reescreva os parágrafos 1, 2, 3 e 4, e a conclusão do texto de Leonardo Sakamoto, para manter o tom impessoal dos parágrafos 5 e 6. Que mudanças são necessárias?

Apresentem os trechos modificados para o outro grupo. Como ficaram os textos? O que perderam ou ganharam em termos de efeitos de sentido? Qual versão seria mais interessante para diferentes leitores? Por quê?

Conhecer e ampliar repertórios de recursos linguístico-discursivos pode ser uma tarefa interessante quando somos desafiados a compreender a diferença que pode fazer o uso de formas alternativas do dizer para criar determinados efeitos de sentido, tendo em vista diferentes interlocutores. Retome a análise feita anteriormente (atividade V) em relação às partes pessoais e impessoais do texto estudado. Analise diferentes alternativas com os alunos, chamando a atenção para possíveis sentidos atribuídos, sempre levando em conta os propósitos do texto e a interlocução projetada e como, ao escolher determinados modos de dizer, construímos essa interlocução. O estudo de recursos linguístico-discursivos para dar um tom mais ou menos pessoal a um texto pode ser aprofundado em outras aulas, ampliando-se o repertório de artigos de opinião e também de outros textos que sejam relevantes para essa reflexão.

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Etapa 6 - Articular as aprendizagens a partir da leitura

Após as atividades de leitura, esta etapa tem o objetivo de criar uma oportunidade de reflexão coletiva sobre o que foi aprendido sobre o tema, o gênero do discurso e sobre leitura e uso da linguagem. Assim, os alunos poderão se dar conta dos objetivos das aulas, do que aprenderam, do que precisam melhorar e do que ainda gostariam de aprender.

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Etapa 7 - Construir novos textos

Nesta etapa, os alunos poderão partir do que leram e organizar novos debates e produções de texto. Tendo em vista o desenvolvimento integrado de leitura e produção textual da Olimpíada, a produção escrita é uma oportunidade de usar o conhecimento aprendido em uma nova situação de comunicação e de sistematizar o conhecimento sobre o gênero discursivo em pauta, contribuindo, de modo cíclico, ao aperfeiçoamento como leitor participante das práticas sociais mediadas por tais textos.

Atividade 7