Volta às aulas: a importância do planejamento docente
gestos didáticos, planejamento de aula, sequência didática, planejamento docente
Olá!
Meu nome é Sebastião, sou professor de Língua Portuguesa e leciono do 6º ao 9º ano. Na minha avaliação diagnóstica deste ano letivo, constatei que um dos meus alunos do 6º ano não sabe ler, nem escrever nada. Não sei como chegou até onde está. Durante um pequeno diálogo, constatei que o mesmo veio da zona rural do município. Sei que isso não vem ao caso agora, o certo é que está sobre mim a responsabilidade de ajudá-lo. É a primeira vez que isso acontece comigo, por isso gostaria de obter sugestões de atividades para trabalhar com esse aluno que, no meio de 35 colegas, carrega tal problemática.
Grato!
Caro professor Sebastião,
Gostei muito de saber que suas turmas já contam com uma avaliação diagnóstica e fiquei curiosa para conhecer o caminho trilhado por você, já que, nas últimas duas semanas, aqui nesta seção, estamos conversando sobre maneiras de realizar essa investigação.
Bem, mas enquanto aguardo seus comentários, vamos focar nossa atenção em um de seus achados que, seguramente, preocupa muitos professores, em vários cantos do nosso país: alunos de 6o ano, que não sabem ler e escrever.
Em 2013, publiquei uma reflexão sobre o assunto, chamada “Trabalho com alfabetização em séries avançadas”. Nesse texto, tentei chamar a atenção para a importância de analisarmos, bem de perto, o repertório de conhecimentos de cada aluno, envolvendo não apenas o sistema de escrita, mas também os saberes sobre os gêneros do discurso, fruto de interações em distintos contextos, como o escolar e o familiar.
Continuo acreditando que esse aspecto mereça destaque, pois ainda que um aluno não tenha apreendido as relações entre sons e letras, há sempre conhecimentos já internalizados sobre diferentes gêneros, pois, afinal, ele está inserido em um universo letrado (como a escola) e participando de eventos orais e escritos há vários anos, não é mesmo?
Pensando nisso, nosso primeiro passo será conversar com esse aluno, no sentido de descobrir o que ele sabe, o que lembra e pode contar sobre: eventos de leitura e escrita que já participou, livros e outros materiais escritos com os quais teve contato - como folhetos, textos jornalísticos sobre o esporte preferido, cartazes - e atividades em salas de aula, com suas tentativas de pensar sobre o sistema de escrita e decifrar palavras em um texto. Essas “pistas” serão fundamentais para iniciarmos o planejamento, nosso segundo passo, uma vez que será preciso estabelecer expectativas de aprendizagem bem objetivas e centradas no aprendizado do sistema de escrita, ou seja, será preciso traçar o que se espera que o aluno seja capaz de fazer, ao longo do processo de aprendizagem.
Nesse momento de reflexão sobre propostas ajustadas aos saberes desse aluno, algumas dúvidas costumam aparecer, tais como: quais textos devo eleger para esse trabalho? Será melhor recorrer a gêneros comumente ensinados nos anos iniciais (como os da tradição oral - parlendas, cantigas e adivinhas e outros talvez conhecidos pelo aluno, como letras de música) ou devo considerar aqueles que todos os alunos do 6o ano estudarão, adaptando as atividades aos desafios próprios de quem ainda precisa aprender a decodificar (ler) e codificar (escrever) informações?
Sem a pretensão de encerrar a discussão, penso ser importante oferecer uma possível resposta para, assim, podermos contar com a contribuição de leitores dessa seção, seja para concordar, seja para criticar e oferecer outro ponto de vista.
Entendo que o trabalho voltado ao aprendizado do sistema de escrita deva ser iniciado por gêneros conhecidos pelo aluno em questão, a fim de que possa utilizar esses saberes para a alfabetização, mas isso não pode significar isolar o estudante das situações de produção dos gêneros orais e escritos previamente definidos para o 6o ano. Em outras palavras, você poderá promover momentos em que ele fique responsável por, por exemplo, apresentar oralmente uma resposta elaborada em grupo, após leitura de um texto por um dos colegas, a outras situações nas quais a tarefa de todos esteja centrada na análise de um texto, sendo que ele precisará contar com um outro aluno (ou mesmo o professor) para a função de escriba. Aliado a isso, outras atividades com alguns desafios, condizentes à exploração de palavras desse mesmo texto, deverão ser oferecidas, visando ao aprendizado da escrita alfabética. Assim, ele participará de todas as propostas, quer no momento mais individualizado, quer no coletivo.
Penso ser igualmente importante que esse aluno possa ter acesso a materiais voltados à reflexão sobre o aprendizado da escrita também fora da escola, para um aprendizado mais efetivo. São atividades que ele poderá fazer em sala e levar para casa, contando com a sua constante leitura e análise, a fim de sanar dúvidas e favorecer o acompanhamento do processo, com vistas ao replanejamento, se necessário (no texto citado acima, há indicação de um caderno já pronto e repleto de propostas). Também vale a pena consultar o material do Programa Pró-Letramento, com destaque ao caderno “Alfabetização e Linguagem” e o jogo virtual da Olimpíada chamado “Arquipélago Poético”, especialmente o “Porto das Rimas”, que ajudará na reflexão sobre as relações entre falar e escrever, envolvendo poemas. Lembre-se sempre de que a resposta do aluno sobre os gêneros conhecidos e que fazem parte do seu cotidiano será essencial, pois com base nesses textos o trabalho será mais significativo, certo?
Pra terminar, gostaria que soubesse que entendo ser esse um enorme desafio, para você e para o aluno! De todo modo, fico feliz por ele ter encontrado um professor que não apenas analisou sua questão, mas se envolveu com ela, a ponto de se propor a buscar parcerias para promover o tão almejado aprendizado! Parabéns pela dedicação e conte comigo para novas conversas sobre esse e outros assuntos, combinado?
Obrigada pelo envio de sua pergunta. Desejo muito sucesso!
Um abraço e até já,
Olímpia
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