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O que podem revelar as dificuldades na produção escrita dos alunos?

Portal Escrevendo o futuro

01 de agosto de 2023

O que podem revelar as dificuldades na produção escrita dos alunos?

O que podem revelar as dificuldades na produção escrita dos alunos?

Boa noite, Olímpia.

Gostaria de obter ajuda em relação à correção de caderno de redação dos meus alunos. Alguns deles do 8°ano encontram dificuldades para expor suas ideias na escrita. Conversamos sobre o assunto sugerido, mas, no papel, a realidade é outra. Muitos desses alunos sentem vergonha por escrever errado. Fazem atividades pela metade. Eles adoram a leitura já impressa, música, contos, relatos diferentes. Dialogamos, abordamos o assunto, há uma participação de todos. Mas, para desenvolverem no caderno, identifico suas dificuldades.

Obrigada,

Ana Cristina A. Santos

Cara professora Ana Cristina,

Saber que seus alunos apreciam a leitura de textos diversos já é uma excelente notícia! Afinal, as portas abertas pela leitura favorecem a escolha diante de uma vasta gama de possibilidades, quando a questão é escrever, não é mesmo?

Bem, mas pelo que você comentou, seus alunos do 8o ano participam de maneira efetiva das atividades de leitura e discussão oral, mas quando chega a hora de escrever, tudo parece mais difícil... Diante desse cenário, penso ser importante refletirmos juntas sobre uma hipótese, que pode explicar a diferença no desempenho da turma: a necessidade de se considerar as operações envolvidas na produção textual.

Explico melhor: essa discrepância, observada em sala de aula, pode estar voltada a todo o movimento reflexivo exigido na produção do texto escrito. Digo isso pois, muitas vezes, os alunos leem e falam sobre o assunto em questão, conseguem estabelecer relações entre os textos lidos previamente e os conhecimentos já internalizados, assumem a fala do colega como referência para outros comentários orais, mas, no momento da escrita, parece que as ideias voam e não há quem consiga fazê-las habitar o papel...

Então, ainda antes de falarmos sobre a sua correção, é preciso destacar o fato de que ao tomarem o lápis e o papel para a escrita, os alunos precisam seguir alguns passos, entendidos como “operações da produção textual”. Isso porque escrever não se limita a utilizar informações anteriormente apresentadas, em uma situação de produção oral, como uma roda de conversa, ou mesmo de uma leitura coletiva. Essas situações são bem-vindas como um trabalho de contextualização da proposta, mas não são suficientes para que os meninos possam escrever com autonomia e aderência às características do gênero em destaque.

Assim, para que você possa se deparar com um panorama mais favorável, acredito ser necessário apostar no trabalho de produção escrita em 5 passos (anteriores às intervenções do professor, do ponto de vista da “correção”): 1. Contextualização; 2. Elaboração e tratamento dos conteúdos temáticos; 3. Planificação; 4. Textualização; e, finalmente, 5. Releitura, revisão e reescrita do texto.

De forma bastante breve, tentarei resgatar a essência de cada etapa, em função dos escritos de Dolz, Gagnon e Decândio, no livro Produção Escrita e Dificuldades de Aprendizagem:

  1. Contextualização: consiste em interpretar a situação de comunicação de modo a produzir um texto coerente, um texto que se adapte a essa situação. Em termos mais simples, significa iniciar o processo de escrita pela análise da situação de produção do texto, ou seja, os papéis assumidos pelos enunciadores, o objetivo e o meio de circulação da informação. Assim procedendo, as perguntas-chave de um texto (O quê? Para quê? Para quem? Onde circula?) serão respondidas, de forma que o aluno possa selecionar o gênero que melhor corresponda à já definida situação. Aqui, todo o conhecimento prévio sobre o assunto e o gênero estarão em cena; daí a importância de desenvolver atividades orais e de leitura, como as destacadas por você;
  2. Desenvolvimento dos conteúdos temáticos em função do gênero: refere-se à adaptação aos diferentes elementos da situação de produção previamente presentes. De forma sucinta, o investimento está no levantamento de ideias sobre o assunto, considerando a situação de produção, com vistas a favorecer o trabalho na etapa seguinte, a planificação;
  3. Planificação em partes: o texto é uma sequência que apresenta uma organização. As partes são, ao mesmo tempo, separadas e articuladas. Nessa etapa, o trabalho do aluno, ainda antes da produção final, é organizar as ideias já presentes, pensando na ordenação e seleção de informações, de modo a compor a produção, levando em conta a apresentação coesa e coerente das ideias que integrarão o texto, já na etapa de textualização;
  4. Textualização: processo de aplicação e de linearização do conjunto de marcas linguísticas que constituirão o texto, sendo exemplos dessas marcas: sinais de pontuação, os parágrafos, os organizadores textuais e marcadores coesivos (pronomes e tempos verbais). Nesse sentido, essa etapa prevê a apresentação e organização de todas as ideias, com foco no emprego de marcas linguísticas próprias do gênero em questão;
  5. Releitura, revisão e reescrita: essa quinta operação implica retorno do produtor a seu texto e/ou a formas pontuais de intervenção para melhorá-lo. Por fim, chega-se ao trabalho final, que tem a releitura como foco de apreciação, por parte do produtor, o que favorecerá a revisão. Nesse sentido, o professor poderá intervir, colocando em prática o trabalho consistente com a reescrita, em função da leitura atenta e encaminhamentos para aprimoramento, por parte do aluno.

Agora sim! Depois de todo esse trabalho, você terá condições de avaliar em qual dessas etapas cada aluno apresentou maior dificuldade, assim como pensar em estratégias para favorecer a efetiva produção escrita.

Em síntese: as dificuldades observadas na produção final dos alunos podem, na realidade, ser retratos de dificuldades vividas em momentos anteriores. Então, para que sua correção seja cada vez mais “certeira”, aposte na vivência de cada etapa e na possibilidade de os alunos conseguirem compor as informações, de forma mais organizada e consistente.

Ainda, vale a pena planejar situações de aprendizagem de um determinado gênero, em função de uma sequência didática (SD), a fim de que a turma possa refletir sobre cada uma das dimensões implicadas na produção de um gênero: discursiva, textual e linguística. Assim, os escritos dos estudantes evidenciarão os efeitos tanto da ação cuidadosa e objetiva de investigação e análise, explorada nas oficinas que compõem a SD, quanto das vivências atreladas a cada operação do processo de produção, certo?

Para terminar, seguem algumas dicas de leitura:

Obrigada pelo envio de sua pergunta, um abraço e até já,

Olímpia

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