Caros professores M. Augusta e Isac,

Quando falamos sobre artigo de opinião, muitas questões parecem saltar aos olhos, não é mesmo? Uma delas, como vocês bem mencionaram, é a relação estabelecida entre a questão polêmica e as vozes presentes no texto.

Nesse sentido, vale enfatizar a ideia de que o texto dos nossos alunos deve ser alimentado por outros e variados dizeres, que se articulam à polêmica anunciada, sejam eles favoráveis ou contrários ao que se deseja defender.

Essas vozes, anunciadas e “ouvidas” em um artigo de opinião, apresentam-se nos textos da turma como consequência de um vigoroso trabalho de pesquisa de diferentes gêneros, como editorial, notícia, reportagem, artigos de lei, pesquisas, documentos históricos, entre tantos outros. Isso significa que, quando falamos em artigo de opinião, outros gêneros, como muitos da esfera jornalística, são eleitos para leitura e contribuem para a sustentação da tese.

Então, entendo que quando vocês fazem menção à utilização de “linguagem literária”, querem enfatizar esse “passeio” comumente realizado pelos textos, certo? Mas vale lembrar que os “gêneros literários” não são a referência central no processo de seleção de textos para a construção do artigo de opinião, especialmente pelo fato de que nossos alunos precisam sustentar uma tese, que “nasce” da análise crítica da realidade, do estudo de questões polêmicas reais e próprias do lugar onde vivem, gerando, por consequência, o movimento de recorte de pequenos fragmentos desses textos lidos para a composição da produção do aluno-autor.

Seguindo essa direção do processo de escrita, esses recortes de textos são utilizados para convencer os leitores, compondo variados tipos de argumentos, como os de autoridade (que evidenciam a “voz especialista” no assunto tratado) e de analogia (comparação entre situações semelhantes), por exemplo.

Mas como essa diversidade de vozes deverá aparecer no texto? Conforme anunciado na Oficina 9 do Caderno Virtual Pontos de Vista, os textos selecionados na pesquisa são parte fundamental da produção escrita do aluno e aparecem, por exemplo, nos trechos a seguir:

- Argumento de autoridade

No livro didático X, as personagens que praticam boas ações são sempre ilustradas como loiras de olhos azuis, enquanto as más são sempre morenas ou negras. Podemos dizer que o livro X é racista, pois, segundo o antropólogo Kabengele Munanga, do Museu de Antropologia da USP, ilustrações que associam traços positivos apenas a determinados tipos raciais são racistas.

- Argumento por comparação

A quebra de sigilo nas provas do Enem 2009, denunciada pela imprensa, nos faz indagar quem seriam os responsáveis. O sigilo de uma prova do Enem deve pertencer ao âmbito das autoridades educacionais – e não da imprensa. Assim como a imprensa é responsável por seus próprios sigilos, as autoridades educacionais devem ser responsáveis pelo sigilo do Enem.

Fica claro que esses trechos foram escritos em função da leitura de textos do antropólogo Kabengele Munanga (citado no primeiro caso) e de outros, divulgados na imprensa sobre a quebra de sigilo no Enem (no segundo caso)? Percebem como essas vozes são citadas no artigo de opinião?

Para terminar, não deixem de consultar o esclarecedor texto de Garcia e Rangel, intitulado “No limiar da persuasão: o movimento argumentativo na escrita de artigos de opinião por estudantes brasileiros”. Clique aqui.

Obrigada pelo envio da pergunta e muito sucesso!

Um abraço e até já,

Olímpia