Olá, professor e professora!
Meu nome é Olímpia e também sou educadora. Neste espaço, quero conversar com você sobre as práticas de ensino da leitura e da escrita. A cada mês, eu enfoco um novo tema em minhas colunas.
A proposta é que essa prosa virtual aconteça a partir das suas dúvidas, que podem ser deixadas no espaço reservado para comentários de cada texto. Lembre-se de incluir seu nome, cidade e UF, bem como seu contexto de trabalho, o ano escolar da sua turma, a dificuldade apresentada e, por fim, sua dúvida. Assim, terei mais elementos para sugerir possibilidades de trabalho.
A sua questão pode ser a minha, que já se torna nossa e de tantos outros(as) internautas conectados(as). É dessa forma que a construção do conhecimento em rede se estabelece!
Confira, abaixo, as colunas já escritas e aproveite para deixar sua dúvida! Ela pode ser o tema de minha próxima coluna!
Um abraço carinhoso, muito obrigada e até já,
Olímpia
Para trabalhar a Literatura Negra ou Afro-brasileira, Olímpia indica algumas sugestões de recursos que podem ampliar tanto o repertório teórico docente quanto o repertório literário de professoras(es) e estudantes.
Recentemente, li Malungos na escola: questões sobre culturas afrodescendentes e educação, de autoria do brilhante professor, poeta, pesquisador e ensaísta Edimilson de Almeida Pereira.
Há obras que chegam até nós pelos ouvidos e provocam uma imediata inquietação: ao escutar a também competente poeta, professora e pesquisadora Neide Almeida falando sobre a relevância, a abrangência e a densidade da discussão ali proposta, foi inevitável perguntar sobre o título; afinal, o que são malungos?
A profa. Neide explicou que malungos “são companheiros que se fazem durante a viagem em navios negreiros; pessoas que tinham travessias comuns e que, por vezes, nem sequer a língua tinham em comum”. No citado livro, em suas primeiras páginas, encontrei a ideia de que “segundo historiadores, malungo era o termo usado pelos cativos para nomear um companheiro durante a desafortunada viagem dos navios negreiros”.
Não demorou nada para a segunda pergunta surgir: então, como compreender os desdobramentos dessa noção no contexto escolar? São muitos, mas aqui cabe, particularmente, a dimensão da discussão da Literatura Negra ou Afro-brasileira nos currículos e, portanto, na “vida na escola”.
Claro que meu intuito não é dar conta de questões de natureza tão complexa, mas provocar uma reflexão que passa, necessariamente, pela compreensão do que o prof. Edimilson chama de uma “tradição fraturada” aliada à Literatura Brasileira (2007, p.187-188):
Do ponto de vista da História da Literatura é oportuno delinear o percurso responsável pela fundamentação daquilo que se convencionou chamar de tradição literária. A tradição, por um lado, institui posições conservadoras que fazem do passado a referência para as atitudes posteriores. Por outro lado, no entanto, a tradição apresenta traços dinâmicos, quando as perspectivas de negá-la ou de reinterpretá-la a situam como fonte de mudanças que apontam em direção ao futuro. A identidade da Literatura Brasileira está ligada a uma tradição fraturada, característica das áreas que passaram pelo processo de colonização. Os primeiros autores que pensaram e escreveram sobre o Brasil possuíam formação europeia; e mesmo aqueles que se esforçaram por exprimir uma visão de mundo a partir das experiências locais tiveram de fazê-lo na língua herdada do colonizador.
[...]
A Literatura Negra ou Afro-brasileira integra a tradição fraturada da Literatura Brasileira. Por isso, ela apresenta um momento de afirmação da especificidade afro-brasileira (em termos étnicos, psicológicos, históricos e sociais); ao mesmo tempo, aborda temas e explicita linhas de pesquisa que se inserem no quadro geral da Literatura Brasileira (...). A Literatura Negra ou Afro-brasileira escrita nesse sistema é, também, Literatura Brasileira, e na medida em que essas linhagens literárias dialogam ou entram em conflito, permitem a expressão das múltiplas vozes que constituem nossa sociedade.
Para dar lugar de destaque a essa reflexão e favorecer a aproximação e o interesse de leitoras(es) pelos temas da Literatura Negra ou Afro-brasileira, o autor passa a dialogar com escritoras e escritores que, em diferentes tempos e escritos, convocam um olhar crítico e amplamente reflexivo sobre questões e obras fundamentais, provocando uma análise primorosa e bastante inspiradora para pensarmos currículos, práticas pedagógicas e a formação de nossas(os) estudantes no campo literário.
Do diálogo entre Edimilson de Almeida Pereira e Luís Silva (Cuti), destaco a pergunta sobre a contribuição da escola no trabalho com a literatura (2007, p.298):
Edimilson - Como a escola pode contribuir para um melhor conhecimento da literatura feita pelos afrodescendentes?
Cuti - Promovendo a leitura. Só a leitura dos textos será capaz de trazer o conhecimento da nossa literatura e, por sua vez, o aprofundamento da própria compreensão e incentivo para a transformação do Brasil em um país mais solidário e com menor índice de crise de identidade nacional. A escola pode, em primeiro lugar, constituir o seu acervo de Literatura Negro-brasileira e disponibilizá-lo às(aos) alunas(os) através da divulgação e da exigência de que essa literatura entre no currículo escolar, faça parte do conteúdo a ser estudado, como manda a Lei 10.639/2003, pois o ensino da Cultura Afro-brasileira inclui o texto literário. Esse é um trabalho que, sobretudo, fará com que as escolas deixem de ser instrumentos do racismo.
Distante de correr o risco de indicar obras e autoras(es) relevantes para promover a leitura ampla anunciada por Cuti – o que, seguramente, deixaria referências essenciais de fora! -, encerro nossa prosa com a indicação de recursos incríveis, capazes de gerar diversificados efeitos formativos, pensando tanto no repertório teórico para estudo docente quanto no repertório literário para professoras(es) e estudantes:
Literafro – Portal da Literatura Afro-brasileira
Revista Na Ponta do Lápis - edição nº 37 e edição nº 39
Afroteca - livros de literatura infantil
Ação Educativa - Indicadores da Qualidade na Educação: relações raciais na escola
Um abraço carinhoso, obrigada e até já,
Olímpia
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