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Inquietações de uma formadora de professores

Portal Escrevendo o futuro

01 de agosto de 2023

Inquietações de uma formadora de professores

Inquietações de uma formadora de professores

Olá, professora Olímpia!

Sou professora formadora de Língua Portuguesa no Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica (CEFAPRO) - polo de Pontes e Lacerda, no Mato Grosso. O objetivo do CEFAPRO é subsidiar a formação continuada de professores e professoras, auxiliando nas reflexões sobre o ensino e aprendizagem dos alunos. Venho trabalhando com uma formação sobre os usos sociais da língua, no sentido de propor ações pedagógicas com os gêneros textuais de circulação social. No entanto, algumas questões me inquietam:

 

Mesmo com as Orientações Curriculares, Parâmetros Nacionais e o próprio programa Escrevendo o Futuro propondo o trabalho com o texto e, particularmente, com os gêneros discursivos, por que ainda há tanta resistência de alguns educadores, persistindo velhas práticas de ensino da língua?

 

Ao procurar discutir com os professores e professoras, nas turmas de formação, o Modelo Didático de Gênero, percebi que há muitas dúvidas sobre os modos de organização dos gêneros. Como subsidiar estratégias de estudo de gêneros específicos para que o trabalho em sala de aula seja realmente efetivo?

 

Como articular o trabalho com a gramática, de modo que este seja uma análise de uso da língua, e até mesmo sensibilizá-los da importância de uma aprendizagem significativa desse funcionamento da língua em uso?

 

Ufa! Sei que são questões profundas, mas espero que você possa me dar uma luz, mesmo porque temos alguns encontros ainda e penso em explorar melhor o Modelo Didático de Gênero, dos pesquisadores Joaquim Dolz e Bernard Schneuwly.

Abraços,

Maria Rosalina Alves Arantes

Cara formadora Maria Rosalina,

Muito bom receber seu texto e perceber que “estamos no mesmo barco”, batalhando pela formação continuada de professores, visando à aprendizagem dos alunos, com base na metodologia de sequências didáticas (SD) para o ensino de gêneros do discurso! Melhor ainda é poder falar também com formadores de professores, por meio dos escritos dessa seção; obrigada pela oportunidade!

Bem, como você mencionou, de fato, suas inquietações são amplas e profundas e, certamente, demandariam muitas horas de prosa... Mas, pensando na possibilidade de colaborar, ainda que sinteticamente, elencarei alguns aspectos que entendo intimamente atrelados a suas ações como professora formadora e farei isso retomando suas perguntas; combinado?

Pensando em sua primeira questão, quando você retrata um cenário de resistência ao ensino de gêneros do discurso, entendo que apesar de a noção de gênero e a relevância e pertinência do trabalho já estarem anunciadas desde os PCN’s, há sempre uma distância, que costumo chamar de “o relógio particular da educação”, entre os dizeres atrelados a políticas públicas e a efetiva prática do professor, pensando no processo de apropriação de saberes. Dito de outra forma, para muitos, refletir sobre a ação pedagógica sustentada pelo desenvolvimento de propostas que vinculem diferentes práticas de linguagem, em função da seleção de um gênero discursivo, pode ainda carecer de (in)formações.

Isso não significa que os professores nunca ouviram falar do assunto, mas indica que pode ainda existir uma distância entre ouvir falar, ler sobre o assunto e atuar de forma consistente e aderente aos princípios da SD.

Tendo a pensar na resistência assim: como um convite para nós, formadoras, criarmos condições para que o trabalho com gêneros possa se aproximar dos professores, motivando-os a vivenciar experiências que inspirarão o movimento reflexivo na sala de aula. Afinal, é próprio do ser humano resistir ao que parece novo, menos seguro, não é mesmo?

E é justamente nesse sentido que poderei contemplar sua segunda questão, relacionada às dúvidas dos professores sobre modos de organização dos gêneros e a necessidade de se pensar em estratégias de estudo para exploração com os alunos. Explico melhor: um caminho para favorecer o encontro de professores com o estudo dos gêneros pode ser trilhado ao planejarmos uma SD, elegendo um determinado gênero, que possa ser desenvolvida, ainda que parcialmente (considerando os limites de tempo das formações) com cada um de nossos grupos de educadores.

O próprio Joaquim Dolz, citado por você, tem destacado exatamente essa questão: o exercício de se colocar no lugar do aluno e realizar a tarefa a ele destinada mobiliza o professor a refletir sobre o processo de construção do conhecimento, envolvendo desde questões como, em uma situação de escrita, “o que vai interessar ao meu leitor?”, passando pela pergunta “qual conjunto de informações é esperado pelo leitor diante da produção escrita desse gênero?” até questões como “de que forma devo escrever essa palavra?”. Ou seja, será que o convite ao professor para uma aproximação ao estudo de gêneros não terá mais chances de aceite se partirmos de situações como essa? Será que, ao sentir e viver os efeitos do trabalho com o gênero, o professor não poderá ter mais condições de analisar e compreender os possíveis efeitos e a efetividade desse trabalho com os alunos?    

É claro que essa é apenas uma sugestão de percurso, mas entendo que promover esse “laço reflexivo” poderá gerar condições mais significativas de apropriação por parte dos professores, potencializando a condição de olhar para os saberes de cada aluno para, então, apostar, de fato, na condição de construir um modelo didático voltado ao ensino de um gênero (que, aliás, também é um exercício foco do trabalho de formação). Penso que ao fazermos com eles esse movimento, previsto no modelo didático, de reunir um conjunto de informações escritas que contemple desde a apresentação do gênero e suas características até o planejamento do passo a passo das oficinas de uma SD (articulando as diferentes práticas de linguagem e dimensões do gênero), com sugestões de textos e estratégias para o alcance dos objetivos previstos para cada uma delas, assim como formas de dimensionar a avaliação, poderemos também “olhar bem de pertinho” para as reais facilidades e dificuldades de cada professor, de maneira propositiva. Diante desse cenário de reflexão, tendo a pensar que a resistência diminuirá; pelo menos, assim acontece em minha prática!

Sei que tudo isso depende também das condições objetivas das formações, como tempo, duração, espaço físico, possibilidade de reunir um grupo de professores, entre tantos outros aspectos. Mas, ainda assim, acredito na potência do trabalho em grupo, tanto na formação quanto nas escolas e, por isso, podemos sempre contar com a continuidade das discussões em cada unidade escolar, especialmente se vinculadas a algumas visitas do formador para acompanhamento do processo.

Finalmente, chegamos à terceira e última pergunta, que revela a necessidade de articular “o trabalho com a gramática, de modo que este seja uma análise de uso da língua”. Tomando como norte tudo que conversamos até aqui, penso que essa questão pode já parecer menos complicada... De todo modo, acredito que a essência de nosso trabalho nessa direção seja justamente mostrar que a SD promove, ou melhor, convoca o movimento de olhar para a língua “pelo gênero”, isto é, elegendo o texto como foco de análise, com vistas a chamar a atenção dos alunos para os efeitos de sentido produzidos em cada texto, em função dos recursos estilísticos presentes. Isso está claramente anunciado em materiais, com destaque aos Cadernos da Olimpíada, em diferentes momentos, como os jogos virtuais, os vídeos e, é claro, oficinas planejadas para favorecer essa análise por parte dos alunos.

Como já dito por você, ufa! Há muito que discutir, mas, agora, deixo-a na companhia de outras vozes, que darão continuidade a nossa conversa:

Mais uma vez, agradeço pelo envio de seu texto e desejo muito sucesso em suas formações! Ficarei aguardando novas dúvidas, combinado?

Espero que nossos professores-leitores possam comentar esses escritos! Assim, juntas, poderemos repensar nosso trabalho e melhorá-lo...


Um abraço e até já,

Olímpia

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