Lendo mulheres: a literatura de autoria feminina nas salas de aula
literatura de autoria feminina, literaturas e identidades, ensino de literatura, formação leitora
Foi na página de uma rede social que apareceram as primeiras fotografias. Era uma série com rostos sorridentes num encontro animado, cada pessoa segurando um lápis de onde pendia fita colorida e um pequeno cartão com a frase: “Escrever é ser autor das próprias histórias”. Imagem por imagem, dava para ver que era uma reunião escolar, num auditório com paredes forradas por desenhos e palavras coloridas. Noutras fotos aparecem estudantes em sala de aula e um cartaz com vários papéis colados onde se lê “Memórias de versos da comunidade”, coletados, talvez, pelos próprios alunos entre familiares e vizinhos. As cenas davam sinais de que aquela gente devia gostar de brincar com as palavras e, mais que isso, gostar de ensinar a outros a lida com elas. Eram professoras e professores de língua portuguesa lá de Ribeira do Pombal, interior baiano, caminho histórico do sertão nordestino. Gente feliz, ponderada, tranquila a respeito da própria tarefa. Numa livre e solta associação de ideias, contrastava com o verso famoso de Gregório de Matos -“Triste Bahia, o quão dessemelhante” - tão lindamente musicado por outro baiano ilustre, Caetano Veloso.
Mas são várias as maneiras de se brincar com palavras. Pode-se ir rascunhando na folha em branco, de caneta ou lápis na mão; ou martelar de leve o teclado do computador com os dedos, preenchendo os espaços da tela brilhante com uma mensagem ou ideia que não podem ser esquecidas. Também é possível encher a boca de palavras e soltar a voz, verbalizando símbolos, ofertando significados aos que nos ouvem, desejando entretê-los, emocioná-los, adverti-los.
Ainda dá para brincar com as palavras em silêncio, vagando sem rumo pelas páginas de um dicionário. Ou ficar completamente absorvido e alheio ao mundo, como a penetrar num universo paralelo, concentrado numa história condensada em páginas de livro, horas a fio, escapando por completo da realidade exterior, a ponto de só perceber que as costas doem e a boca está seca quando paramos de ler. Basta achar o livro certo que provoque essa deliciosa sensação de esquecermo-nos de nós mesmos, da realidade física, palpável.
Em Ribeira do Pombal, parece que essa boa mania se espalhou numa rapidez de corisco em dia de tempestade. Quem vai lá pela primeira vez e ouve aluno e professor falar de livros, leituras e escrevinhações, tem a impressão que esses temas sempre fizeram parte da vida escolar por aquelas paragens.
É nítido perceber que as pessoas das fotos na rede social discutiam, com naturalidade, meios e estratégias de trabalhar leitura e escrita. Era, na verdade, um encontro de formação para participar da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Prévia para reunir, semanas depois, uma multidão de gente e celebrar o projeto “200 dias de leitura e escrita na escola”, algo que acontece desde 2006 na rede pública municipal. O corisco de livros e leituras não começou ontem. E havia mesmo – sem exagero - uma multidão de gente: toda a rede municipal, com professores de todas as disciplinas, coordenadores pedagógicos, técnicos, funcionários, auxiliares, diretores e alguns alunos também. Quase 600 pessoas que encheram um ginásio de esportes. Mais um sinal comprovando que naquela cidade leitura e escrita são assuntos de todos os educadores e não apenas dos professores de “português”.
É curioso lembrar que Ribeira do Pombal ganhou esse nome para homenagear o polêmico marquês que, lá de Lisboa, há quase 300 anos, ordenava que a língua portuguesa deveria prevalecer sobre todas as outras línguas indígenas faladas aqui na Terra Brasilis. Será que foi por isso que a cidade quis ser a primeira na Bahia a se inscrever na Olimpíada em 2014? Vai saber se essa história do vetusto Marquês de Pombal não tenha se entranhado no inconsciente coletivo dos professores de língua portuguesa da cidade?
Não é isso. Os sorrisos das fotos, verificados ao vivo, desmentem Gregório de Matos e revelam uma alegria bem maior nos usos da língua, algo que o carrancudo marquês jamais poderia imaginar. O melhor de tudo é saber que os rostos sorridentes são os mesmos que estão nas escolas de Ribeira do Pombal, falando, escrevendo, lendo e sonhando em nossa doce e agreste língua portuguesa.
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