Volta às aulas: a importância do planejamento docente
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Foi a paixão incondicional por crônicas que fez a professora Maira Andréa Leite da Silva, da EMEF Harmonia, em Santa Cruz do Sul (RS) mover montanhas. Suas duas turmas de 9º ano, que no início deixavam bem claro o desinteresse pela leitura e escrita, começaram a observar a rotina com outros olhos e desataram a sugerir temas para novas produções. Maira contagiou os alunos a tal ponto que os três textos que ela planejava receber de cada um durante o projeto “Crônica: essa paixão que desvela o cotidiano” tornaram-se nada menos que sete. Aqui ela nos revela como a fotografia, a música e outras artimanhas foram aliadas nesse verdadeiro jogo de conquista.
“Ah, professora, mas tem que ler? É o livro inteiro? E depois tem que escrever? Isso tudo vai dar muito trabalho. Era o que eu ouvia dos meus alunos ao propor exercícios de leitura e escrita. Livros não fazem parte de sua rotina. A escola, que fica na periferia da cidade, é o único lugar onde eles encontram acesso à cultura. Quando comecei o projeto, sabia que haveria resistência, mas pensei que a crônica conseguiria conquistá-los. São textos curtos, com linguagem acessível, que falam do cotidiano.
Iniciei o trabalho com a leitura, em duplas, das crônicas do Caderno do Professor. Depois, ouvíamos o áudio, que tem no CD do Programa. Fomos entremeando momentos de concentração e de conversa. Aos poucos eles passaram a estar realmente ali, presentes na aula. A guarda deles começou a baixar, foram percebendo que a leitura poderia ser algo prazeroso e identificado com a realidade deles. Em outra atividade, os alunos pegaram livros de crônica na biblioteca. Leram individualmente e depois cada um escolheu a que mais gostou. Levamos as cadeiras para a rua e ali organizamos uma rodinha de conversa sobre o que haviam lido. Essa roda aproximou-os tanto do gênero textual como entre si – prestavam atenção na percepção do outro. A ida para a rua foi uma estratégia para que observassem também o mundo ao redor.
Como gostaram bastante de quebrar a rotina da sala de aula, propus que saíssemos algumas vezes para fotografar, em vez de pedir produções escritas de maneira descontextualizada, como costumava fazer antes de conhecer as práticas da Olimpíada. Fotografar foi a maneira que encontrei para despertar o olhar deles como cronistas, como se fosse mesmo um recorte das cenas com as quais eles estavam acostumados. Lembro que teve uma aluna que registrou uma casinha de joão-de-barro que apareceu no ginásio da escola. Em uma cena que poderia passar despercebida, ela encontrou um bom tema para sua crônica. Eles foram tendo ideias maravilhosas.
Escrevendo conforme a música
Mas começar a produção escrita não foi fácil, não. Ah, mas como eu começo?, Eu não sei escrever uma crônica, Será que isso é uma crônica? Foi quando disse para eles que eu também produziria um texto. O quê? A senhora também? Quando li para eles meu texto, até me aplaudiram! Isso me ajudou a conquistá-los. As rodas também ajudaram bastante. Todas as vezes que eu pedia para escreverem, fazíamos uma rodinha de leitura para que lessem suas crônicas. Os alunos que eram elogiados, não só por mim, mas pelos colegas, se sentiam poderosos, felizes, e incentivavam os outros. Escrever bons textos começou a fazer diferença na sala de aula.
Inicialmente planejei fazer três crônicas, mas houve muita empolgação e eles mesmos começaram a sugerir temas! No final, produziram sete crônicas cada um e acho que essas múltiplas produções, com uma variedade de assuntos, foram o grande diferencial para o desenvolvimento da turma. Mas a melhor aula, a que rendeu os melhores textos, foi Da canção à crônica. Lemos Como nasceu aquela Conversa, de Luiz Henrique Gurgel, baseada na música Conversa de botequim, de Noel Rosa, e depois eles escreveram crônicas em cima de músicas que conheciam. Nunca os tive atentos por tanto tempo! Lembro até que uma das meninas disse para alguém Psiu! Fique quieto que eu quero escutar. E eu achei que o Noel não iria interessá-los! Nesse processo, fiz para cada aluno um bilhete orientador caprichado. Ficaram espantados: O quê? A senhora escreveu um bilhete para mim?!
A participação dos pais também foi um momento muito especial. No lançamento da coletânea, os alunos sabiam que ganhariam um exemplar do livro, mas não imaginavam das mãos de quem iriam receber. Essa surpresa foi uma emoção única, ver ali pais que pouco vão à escola, orgulhosos de seus filhos, entregando os livros e bilhetes de incentivo para cada um. Estavam lá outros professores, a direção, a imprensa e a secretária de educação, que nos ajudou com a impressão. Até eu virei celebridade – os pais pediam para tirar foto comigo e com seus filhos! Realmente acredito que são as paixões que impulsionam as grandes conquistas. É o que move o mundo. Sou uma grande apaixonada pela leitura, pela escrita e pelas crônicas. Tentei fazer com que se encantassem pelo gênero também. É como dizia o meu conterrâneo, o poeta Mário Quintana, no poema Das utopias:
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”
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Assista ao vídeo da mesa que a professora Maira integrou durante o Seminário Nacional Escrevendo o Futuro:
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Clique aqui para ler o relato da professora Maira.
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