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Da Flip às escolas de Paraty

Marina Rara

07 de agosto de 2023

Associação Casa Azul, Fundação Itaú Social e Cenpec realizam oficina sobre Lima Barreto,

homenageado da Flip 2017, em escola no Centro Histórico da cidade

 

Desde 2003 as ruas coloniais da cidade histórica do litoral sul do Rio de Janeiro recebem a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Autores e autoras da literatura brasileira e mundial se reúnem em uma grande tenda às margens do Rio Perequê-Açu para diálogos sobre diferentes temas, como cultura, ciência, tecnologia, cinema, teatro, atualidades e, claro, literatura.

Neste ano a festa acontece de 26 a 30 de julho e traz Lima Barreto (1881-1922) como autor homenageado. Negro e de origem pobre, o escritor produzia crônicas de costumes do Rio de Janeiro e em suas obras tratava sobre o preconceito racial e as injustiças sociais do Brasil. Autor dos clássicos Triste fim de Policarpo Quaresma, Recordações do escrivão Isaías Caminha e Clara dos Anjos, marcou seu trabalho com a denúncia ao racismo, crítica à República, à imprensa e qualquer coisa ligada a estrangeirismos.

Essas questões marcaram a formação desse neto de escravizados e filho de pais livres e trouxeram a sua obra também um sentido autobiográfico. Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1881, mesma data em que sete anos depois a Lei Áurea colocaria um fim na escravidão – ao menos na formalidade. Depois da morte de sua mãe, a professora Amália Augusta, pouco tempo depois o pai, o tipógrafo João Henrique, adoece, situação com que o jovem futuro talento vai conviver da infância à adolescência. A ponto de Lima Barreto deixar a Escola Politécnica para sustentar a família como escrevente do Ministério da Guerra. 

Paralelamente à vida de funcionário público, Barreto colabora regularmente com jornais e revistas. Desenvolve um trabalho pautado sempre na crítica social e política ao Rio de Janeiro e ao Brasil – precursora para a época.

Presente na Flip, toda a reflexão que Lima Barreto traz para a sociedade não deixou de estar presente também na comunidade de Paraty dias antes da festa. 

A Associação Casa Azul, a Fundação Itaú Social e o Cenpec, por meio do Programa Escrevendo o Futuro, realizaram uma oficina literária sobre o autor no Colégio Estadual Engenheiro Mário Moura Brasil do Amaral (Cembra), no centro da cidade. 

O encontro com cerca de 60 alunos do último ano do Magistério, professores e educadores, realizado nos dias 22 e 23 de junho, apresentou o trabalho do homenageado. A partir das obras de Lima Barreto o público foi convidado a exercitar o olhar para sua realidade local, apontando temas de possíveis crônicas inspiradas em Paraty.

Para a coordenadora da Casa Azul, Belita Cermelli, a formação direcionada pela professora Maria Alice Armelin e Esdras Soares, do Cenpec, visa também a aproximar de maneira mais orgânica a comunidade local da grande festa literária.

“Quando a gente organiza um festival literário como a Flip não dá para achar que um evento que aconteça pontualmente em alguns dias do ano vai fazer realmente diferença para a cidade. O que faz diferença são atividades de permanência e que mudem o jeito de a cidade se relacionar com aquele campo, no caso com a literatura, com os autores, com os livros”, defende Belita. “Como a gente trabalha isso de uma maneira que faça diferença para a cidade? A gente acha que por intermédio dos educadores, dos trabalhos com os alunos estando na escola, levando a escola para participar dos eventos. Por isso é importante investir nestas ações educativas permanentes”, explica.

A coordenadora enfatiza a importância da conexão do festival com a cidade. “Acho fundamental, para que a cidade não fique alienada do conteúdo do evento. Paraty não vai se prestar a isso de ser palco da Flip. É dinâmica essa relação Paraty-cidade-festa”. 

Para a professora Maria Alice, o objetivo foi alcançado. Lima Barreto acabou sendo apresentado pela primeira vez a alguns dos alunos e o diálogo com sua obra despertou a importância do olhar para a realidade local. 

Flip 2017

A pluralidade de questões sociais, que atravessaram a obra de Lima Barreto, assim como a diversidade de gêneros em que exerceu o ofício – reportagem, romance, crônica, memória, diário – são a base para a programação desta edição da Flip e perfazem a característica do programa. Pela primeira vez, número de autoras mulheres superior ao de homens e o número de autores negros chegam a 30% da programação, que ainda reúne artistas de fora do centro.

“A busca por autores múltiplos e renovadores da linguagem como Lima Barreto – um moderno antes dos modernistas – foi um dos eixos da curadoria, assim como a própria noção de subúrbio – não apenas o subúrbio literal, registrado pelo olhar do autor sobre o Rio de Janeiro periférico, mas o subúrbio como sinônimo do que não está no centro, na acepção mais ampla possível. Também há um número expressivo de autores que atuam em campos artísticos como a música, o vídeo, o cinema e o teatro”, detalha o evento.

Autores internacionais como o jamaicano Marlon James, o americano Paul Beatty, a chilena Diamela Eltit, a argentina Leila Guerriero, o francês Patrick Deville, a britânica da África do Sul Deborah Levy, a ruandesa Scholastique Mukasonga, o islandês Sjón, o rapper e ativista Luaty Beirão marcam presença em Paraty.
Do Brasil, somam-se o pensador indígena Álvaro Tukano, o romancista Alberto Mussa, os poetas multimídia André Vallias e Ricardo Aleixo, a romancista e poeta Conceição Evaristo, o poeta e ensaísta Edimilson de Almeida Pereira, o historiador e cronista Luiz Antonio Simas, a poeta e tradutora Josely Vianna Baptista.

Na abertura, o ator e escritor Lázaro Ramos deu voz a Lima Barreto em apresentação criada por Lilia Schwarcz, autora da recém lançada biografia de Lima Barreto, Triste Visionário, com direção de cena de Felipe Hirsch.

A obra do autor homenageado estará permeada em toda a programação do evento. “Por muito tempo Lima Barreto ficou na ‘aba’ de literatura social, e sua obra e trajetória possibilitaram muitos debates sobre a sociedade brasileira. O que eu gostaria, mesmo, é que a Flip contribuísse para revelar o grande autor que ele é. Para além das questões importantíssimas sobre o país que ajuda a levantar, tem uma expressão literária inventiva e interessante, à frente de sua época em termos formais, capaz de inspirar toda uma linhagem da literatura em língua portuguesa”, relata Joselia Aguiar, curadora da Flip 2017, na página do evento.

Em 1922, pouco depois da morte do autor, foi publicado “Os Bruzundangas”. Na fictícia República dos Bruzundangas, Barreto fazia um raio X de uma sociedade marcada pelo contraste entre os prazeres de uma elite míope e a miséria humana que começava a proliferar. Na diferença de classes, na exclusão de ordem racial e social, no abismo entre o topo e a base da pirâmide e nos choques de culturas e crenças. Há 95 anos, Lima Barreto descrevia algo muito próximo do Brasil bruzundanga de 2017. Nada mais contemporâneo do que a lembrança e a celebração de sua obra. 

Com informações do site: http://flip.org.br

A Flip acontece de 26 a 30 de julho. Para acompanhar as novidades, clique aqui.

 

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