Lendo mulheres: a literatura de autoria feminina nas salas de aula
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Ao longo de sua história, que começou em 1951, a Bienal de São Paulo sempre teve a preocupação de ser um evento de caráter educativo, além de, claro, ser referência em arte contemporânea. Desde então, a perspectiva e ações educacionais foram se modificando, na busca de reverberar o papel da arte na sociedade como um campo do saber que pode promover reflexões e transformações individuais e coletivas.
Em sua 33ª edição, a maior exposição de arte da América Latina “quer provocar uma tomada de consciência sobre a nossa atenção”, como explica o curador Gabriel Pérez-Barreiro. E justifica: “Algumas das empresas mais bem-sucedidas mundialmente (Facebook, Google, Apple) prosperam com a captura e a revenda de nossa atenção. Talvez seja revelador o fato de que essas empresas compreenderam melhor algo que o mundo da arte ainda tem dificuldade para perceber: que a atenção é nosso bem mais valioso”.
A proposta do Programa Educativo da Bienal e de sua publicação, precisamente chamada “Convite à atenção”, é convidar o público a ampliar os tempos e modos de se relacionar com a arte. A aposta é que, com isso, as pessoas poderão se debruçar sobre uma investigação acerca de suas “Afinidades afetivas” – título da 33ª Bienal – com as obras e ser afetadas positivamente a partir desta experiência, entrando em contato com suas próprias maneiras de prestar atenção e se relacionar com o mundo.
Num contexto de intolerância que permeia nossa sociedade, Lilian L´Abbate Kelian, consultora do projeto educativo, pondera: “Temos vivido com muita dificuldade de dialogar com posições políticas diferentes das nossas. Nós acreditamos que pode ser útil que a gente exercite nossa atenção para compreender como o outro pensa e sente o mundo. A obra também é uma espécie de outro. Um outro que não está lá para responder. Então se você ficar mais tempo com a obra, um diálogo interior pode acontecer: o que significa essa obra? O que o artista estava pensando? Faz-me pensar em quê? Por que tanto amarelo? Será que ele estava alegre? Eu estou como? Os exercícios de atenção nos ajudam a sustentar essa conversa interior, um movimento simultaneamente afetivo e reflexivo”.
Atenção em 4 tempos
“Convite à atenção” foi concebida como um baralho de cartas que propõe o exercício de dedicar a atenção a uma obra em quatro naipes, ou etapas. A primeira delas é “Encontrar uma obra” – aqui, espera-se que as pessoas se deem conta dos critérios que usam para eleger uma obra e que possam buscá-las de diferentes modos, evitando julgamentos mais automáticos, como bonito/feio, gosto/não gosto. A segunda etapa consiste em “Dedicar a atenção” – todas as cartas deste naipe sugerem experiências de 15 minutos, propondo um alargamento do tempo que geralmente dedicamos diante de uma obra. Na terceira etapa, “Registrar a experiência”, são oferecidos diferentes recursos para que as pessoas elaborem e registrem a vivência que tiveram. A última etapa, “Compartilhar”, é um momento de escuta sem julgamentos, que pode ser feito de forma individual ou coletiva e revelar muitas maneiras de se relacionar com as obras.
A afirmação de Rafael Sánchez-Mateos Paniagua, artista convidado da 33ª Bienal, ilustra bem o que se pretende com todos esses exercícios, também chamados de protocolos de atenção: “A atenção não é uma reconexão instantânea, espontânea ou imediata com o objetivo, o real ou o verdadeiro, mas o árduo e generoso gesto de se colocar em suspenso diante da indeterminação para imaginar novos sentidos”.
O intuito é que o próprio educador vivencie essa experiência e perceba como sua atenção se sustenta e flutua, para depois adaptar a uma proposta escolar. As formas de se trabalhar com esse material são inúmeras e cabe ao professor criar o que seja mais aderente à sua realidade.Quem trabalha com gêneros textuais na proposta do Programa Escrevendo o Futuro, por exemplo, pode criar alguma prática pedagógica estabelecendo uma ponte com “Convite à atenção”, que na etapa 3 oferece o texto descritivo, a narração e a memória entre as formas de “Registro da experiência”.
Disponível para download, o material educativo pode ser utilizado tanto na Bienal como em qualquer local, como explica Lilian: “Há objetos artísticos em igrejas, praças públicas, casas. Podemos realizar exercícios com músicas, literatura, audiovisual. Com elementos da arquitetura. Há professores que desenvolveram exercícios de atenção com objetos naturais, como o céu ou uma árvore”.
A consultora ainda deixa aos professores uma problematização válida: “Nós educadores estamos sempre às voltas com o problema da atenção dos estudantes, sempre lhes pedindo concentração”, comentando que não apenas o mundo tecnológico ou a economia são responsáveis por essa questão, mas também “a própria estrutura escolar, que propõe dispersão com uma rotina muito fragmentada. Se olhássemos a escola com um pouco mais de estranhamento, iríamos nos perguntar como alguém pode aprender se a cada 45 minutos um fragmento do conhecimento é oferecido numa lógica disciplinar diferente”. E o pensamento de Rafael arremata: “Que contraditório o fato de sermos nós, os adultos,a diagnosticar o ‘deficit de atenção’ das crianças quando elas não se adaptam bem ao difícil mundo no qual as inserimos! A que queremos que elas estejam atentas?”.
Bienal – Informações úteis
* Mostra – de 07/09 a 09/12/18, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo
* Itinerância – obras serão exibidas em unidades do SESC e outras instituições após o término da Bienal. Acompanhe a agenda.
* Material educativo da 33a Bienal – baixe a publicação Convite à atenção
* Material educativo das bienais anteriores
* Ações da Difusão (grupo que faz laboratório para educadores) -
instituições interessadas em parcerias, entrar em contato: programaeducativo@bienal.org.br
Imagens:
Cartaz da 33a Bienal de São Paulo - Afinidades Afetivas. Cartaz desenhado por Raul Loureiro para a 33a Bienal de São
Paulo. © Arp, Jean / AUTVIS, Brasil, 2017. Formas expressivas (1932). Coleção Museu de Arte Contemporânea da
Universidade de São Paulo. Reprodução: Eduardo Ortega / Fundação Bienal de São Paulo,
© Arp, Jean / AUTVIS, Brasil, 2017. Formas expressivas (1932). Coleção Museu de Arte Contemporânea da Universidade de
São Paulo. Design: Raul Loureiro Reprodução: Eduardo Ortega / Fundação Bienal de São Paulo
Material Educativo da 33a Bienal de São Paulo. 01/03/2018 © Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo
Foto [Photo]: Pedro Ivo Trasferetti / Fundação Bienal de São Paulo
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