Volta às aulas: a importância do planejamento docente
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Numa ONG paulista que trabalha com jovens em projetos de formação profissional e cidadania, um professor de mecânica, com um motor na bancada, ensinava seus alunos a montar e desmontar o equipamento, parando e falando das funções e características de cada peça tirada e depois reposta. O detalhe da aula é que após essa parte prática os alunos tinham que entregar ao professor um texto explicando por escrito tudo aquilo que ele havia ensinado.
Esta e outras experiências foram narradas pela professora Márcia Mendonça, do Departamento de Linguística Aplicada da Unicamp, no dia 22 de junho para o Grupo de Discussão de Letramento do Cenpec. O grupo é formado por técnicos que trabalham nos diversos projetos da instituição envolvidos nesta área, dentre eles a equipe do Programa Escrevendo o Futuro. O chamado GD de Letramento promove estudos e troca de experiências, além de realizar encontros com especialistas no ensino da leitura e escrita.
Márcia veio falar sobre o conceito de letramento e de letramentos em espaços educativos não escolares. A experiência que relatou foi vivida num trabalho com ONGs que realizam ações socioeducativas com jovens. “Minha primeira constatação foi que embora as ONGs não fossem escolas, atuavam como se fossem. Estavam muito perto do que as escolas faziam em relação à leitura e escrita”, afirmou. Por isso, ao descobrir o trabalho do professor de mecânica, propôs criar com ele um manual para os alunos do curso que servisse tanto para o conteúdo “motores” quanto para a ampliação de capacidades de uso da linguagem. “Havia um enorme trabalho de prática de letramento com prática social por meio de um manual didático sobre montagem de motores. Foi um trabalho importante para me ajudar a olhar outros contextos não escolares”, explica.
As experiências de letramento nesse tipo de contexto reforçaram as pesquisas da professora. Para ela, a fronteira entre os “letramentos vernaculares” e os “letramentos dominantes” estão mais fluidas. Por esta razão, diz que é importante levar em conta o potencial pedagógico dos letramentos vernaculares, cotidianos. “Os novos estudos de letramento dizem que as habilidades não são meramente cognitivas e técnicas, mas socialmente adquiridas. E quando se pensa o letramento como prática social, dá para se pensar em outras formas de ensino. Todas as práticas de letramento são atravessadas pela história, pelas questões sociais e com as formas de uso da escrita”, disse Márcia. Mas a professora ressalta que isso não significa que se deva abandonar os aspectos cognitivos do letramento.
Outra ponto abordado pela professora foi a noção de multiletramentos. Por causa da imensa diversidade de discursos e da multiplicidade cultural que circulam em escala mundial, via mídia e novas tecnologias, os letramentos são diversos e as técnicas mudam. Ela cita o hábito, possibilitado pela internet de atualmente se conversar e escrever ao mesmo tempo, em tempo quase real. “Hoje é possível divulgar textos que podem ser lidos por milhares num mesmo dia. O tempo de acesso ao leitor mudou. A publicização em larga escala só foi permitida pelas novas tecnologias”.
Todas essas questões, segundo Márcia, mostram que “as práticas de letramento são as próprias relações sociais”. Ela também destacou que algumas dessas práticas são mais visíveis e dominantes e essa situação está diretamente ligada a instituições da sociedade “que dizem o que é importante e o que não é; estão vinculados às relações de poder”.
Apesar de abordar mais os aspectos de letramentos em espaços não escolares, Márcia também destacou que as escolas podem trabalhar com concepções de letramento localmente elaboradas. Citando a pesquisadora Maria Lúcia Castanheira, afirmou que quando há uma construção conjunta feita por alunos e professores das normas, expectativas, papéis, relações, direitos e deveres que conduzem a vida cotidiana na sala de aula, isso acaba definindo o significado de letramento e de ação letrada nos eventos locais da sala de aula.
Outro ponto que destacou é da importância das escolas estarem atentas às práticas do mundo digital e do mundo juvenil. Ela citou o protagonismo de estudantes nos recentes movimentos de ocupação de escolas. “Eles estão compondo raps e preparando discursos. São formatos que buscam dar sentido às suas ações, que as justificam”.
Mas voltou ao alerta: “Nada disso elimina o fato de se trabalhar com os letramentos dominantes. A escola pode usar o potencial de algumas dessas práticas para os letramentos dominantes”, concluiu a pesquisadora.
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