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sua prática / relatos de prática

Relatos de Prática Vencedor 2012 - Profª Daniela Celi da Silva Ferreira

Escrevendo o Futuro

08 de agosto de 2023

De início, pesquisar coisas passadas pareceu estranho aos alunos. A sedução veio com a proposta da professora de sair livremente às ruas da comunidade para ouvir histórias de outros tempos por meio de lembranças dos mais velhos. E assim foram atrás não apenas de gente conhecida, mas de moradores que nem sabiam o nome. Fisgados pelas histórias e pelo humano contato, a cumplicidade foi imediata. Numa entrevista, foram capazes de surpreender o principal historiador da cidade que – apesar do ofício -  não esperava ter de falar de suas memórias pessoais. 


 

Surpresas de uma Olimpíada

 

Profª Daniela Celi da Silva Ferreira

Escola Municipal Professor Rubem de Lima Barros

Caruaru / PE

 

Ao saber da nova edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, decidi enfrentar todos os obstáculos: escola nova no município – “Escola de Tempo Integral Professor Rubem de Lima Barros" –, alunos novos, comunidade desconhecida.

Já havia participado das edições anteriores, porém essa traria grandes surpresas. A Olimpíada veio como mais um desafio, não só para mim, mas para todos os meus alunos. Nunca imaginei que seria trabalho em vão, pois a experiência dos debates, das oficinas, da seleção interna já valeria a pena.

Como tínhamos pouco tempo de inauguração, eu ainda estava fazendo uma diagnose das competências discursivas dos meninos. Selecionei algumas atividades que pudessem nortear o processo, pensei em oficinas que eram essenciais e fiz um cronograma e uma sequência didática própria, porém fortalecida com a sequência e as coletâneas oficiais, essas sim, essenciais, afinal, Memórias Literárias era um gênero totalmente novo para eles.

A sequência abraçou as turmas 7º ano D, 8º ano A, B, C e D. No início, os alunos agiam com estranhamento diante do passado. Achavam que o passado não tinha nada para lhes oferecer! Iniciei o trabalho com um debate sobre o idoso e seu papel na sociedade. De uma reflexão em sala, surgiu uma pesquisa e a socialização de informações. Desde então, aquela ideia de que o antigo, o velho era pior e por isso não servia mais, foi substituída pelo encanto da descoberta de uma época que eles não conheciam.

As primeiras entrevistas foram decisivas para formar a consciência de que histórias estavam soterradas e precisavam ser descobertas com cuidado e respeito. Os alunos fizeram visitas no bairro: apresentavam-se, explicavam o projeto e marcavam as entrevistas com facilidade, até com pessoas que não conheciam. Ao voltar para sala, todos socializavam as conversas. Nesse momento as produções eram orais, os alunos contavam como havia sido as entrevistas, o que haviam sentido e aprendido, como as pessoas reagiam diante de uma lembrança antiga; a cumplicidade era evidente e eu me emocionei vendo o desenvolvimento de todos.

Estudamos as características do gênero textual e fizemos diversas leituras: silenciosas, dramatizadas. Em várias ocasiões usamos os áudios do CD-ROM, momentos deliciosos de viagem no tempo; conversamos sobre os textos das coletâneas, respondemos as atividades propostas e, em outras oportunidades, eu também fazia minhas perguntas.

Quando meus alunos já sabiam o que era um texto de memória, resolvi começar a alimentação temática. Preparamos uma exposição de fotos e objetos antigos; eles se empenharam e cada um colaborou com aquilo que podia; potencializamos todas as qualidades. A exposição teve o título "Túnel do tempo"; foi muito bom vê-los recebendo os visitantes encantados com o museu montado: máquinas de costura, dinheiro, fotos das décadas de 40, 50, 60,70, rádios, tevê, computadores, fitas e discos de vinil, utensílios domésticos, e tantos outros objetos expostos. Foi simplesmente inesquecível! Algumas realidades do passado estavam sendo instaladas nesses corações jovens. Pensei em alguém que poderia trazer para sala de aula, alguém que conhecesse Caruaru, que amasse essa cidade e trouxesse deslumbramento para meus pesquisadores. Assim surgiu a ideia do convite ao escritor e pesquisador da história de Caruaru, o professor Josué Eusébio. Ele aceitou prontamente falar sobre a cidade e deu uma aula de quase duas horas. Ele sabia de coisas incríveis, mas isso não bastava: perguntei se ele possuía alguma lembrança de Caruaru de sua infância... Seus olhos brilharam e a riqueza foi tanta que pedi permissão para gravar o depoimento, o escritor estava contando pela primeira vez duas próprias histórias.

Em sala, começamos as produções individuais. Eu olhava texto por texto: planejamento, correção, reescrita, e exposição dos critérios de avaliação para que todos soubessem como seriam avaliados.

Durante as produções finais, fiz revisões individuais dos textos, corrigindo a ortografia e questionando possíveis efeitos de sentido, mas o desejo de cada um era preservado; das questões e implicações coletivas, fazia exposições no quadro. Após muitas reescritas, notávamos que alguns alunos eram resistentes – não queriam ter mais trabalho; outros reescreviam quantas vezes fossem necessárias, pois desejavam o melhor. Lemos e socializamos os textos por turma e fizemos uma seleção preliminar onde os autores (alunos) avaliaram seus textos e de seus colegas.

Começamos em abril e as últimas versões só ficaram prontas em agosto. Tanto trabalho valeu a pena; foram produzidos inúmeros textos na escola. De cada turma, escolhemos os três melhores, que foram premiados com medalhas. O melhor de tudo foi vê-los crescer em conhecimento e confiança. Eles avançaram! O que pode ser mais gratificante para "um mestre”?

Os textos selecionados foram entregues à Comissão Escolar e, em seguida, digitados no site da Olimpíada Passamos da Etapa municipal: choro, grito e alegria eram pouco para comemorar esse momento, tão mágico... Passamos da etapa estadual!! E agora estamos aqui, felizes e emocionadas, rumo à regional. Com grande expectativa da viagem, das formações, das experiências que nos envolverão em São Paulo, pela primeira vez visitada. A viagem de avião que nos dá um friozinho na barriga, a grandiosidade de uma Olimpíada tão acolhedora.

Melhor que tudo isso, é representar nossa cidade, a tão querida Caruaru que emocionou os alunos; a história mais que especial do inesquecível Josué Eusébio, agora também será para sempre minha, como bem disse minha aluna Beatriz: "Naquele dia o pequeno menino que subia o morro para ver sua cidade crescer voltou a brilhar nos olhos do professor Josué Eusébio e apareceu em minha lembrança, para sempre". Nos meus olhos também, Bia!

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