Volta às aulas: a importância do planejamento docente
planejamento de aula, sequência didática, planejamento docente, gestos didáticos
EEEF Inácio Schelbauer
Rio Negro/PR
Escrever poemas é um trabalho de reflexão e reelaboração de ideias. Muitos poetas definiram esse gênero como sendo feito não só com lápis e papel, mas com as tintas da alma. É um exercício espiritual, uma libertação interior. A poesia revela outro mundo. Como instigar isso em nossos alunos, crianças tão digitais, antenadas, rodeadas de informações num mundo onde tudo é muito rápido? Como torná-los poetas e despertar neles um novo olhar sobre tudo o que os rodeia? Esse era o meu desafio ao abraçar as oficinas do gênero poema, da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro - 2016.
Ao iniciar as oficinas, apresentei-lhes minha história com a poesia. Li pra eles alguns dos meus poemas preferidos, falei sobre os poetas que mais admiro e expliquei-lhes que iríamos todos participar da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Eles ficaram muito animados, mas quando disse que teriam que escrever poemas, ouvi alguns comentários como "Mas eu não sei escrever poema!" ou " E se a gente não conseguir?". Expliquei-lhes que teríamos ferramentas que nos ajudariam: as oficinas, todo o material da coleção Poetas da Escola e ainda o Portal Escrevendo o Futuro. Estava iniciado o desafio.
Nas primeiras oficinas, os meus pequenos aprendizes de poeta trouxeram poemas que já conheciam ou que outras pessoas lhes deram, e fizemos um pequeno sarau na sala, onde alguns leram os poemas. Percebi que a leitura deles não tinha ainda o ritmo que a leitura do gênero deve ter. Criamos um lindo mural na sala, onde fixamos os textos que eles trouxeram e fomos seguindo com os da coletânea, explorando sua estrutura: rimas, estrofes e versos, levando-os a perceberem a disposição do poema no papel. Além dos poemas da coletânea, apresentei-lhes outros sempre dando atenção aos do mural.
Recém-inseridos no mundo da poesia, surge o primeiro desafio: escrever um poema sobre o lugar onde vivem. Ficaram desesperados. Era de se esperar, pois eram como passarinhos sem plumas, não podiam voar. O aluno Luan perguntou: "Mas o que vou escrever? Nossa cidade não tem nada". Aí percebi que precisavam abrir os olhos, ou seja, observar o lugar onde vivem de outra forma. Comentamos sobre a história da cidade, que já era conhecida deles, falei dos lugares mais bonitos da região. E lá foram meus passarinhos bater as pequenas asas. Os poemas que fizeram apresentavam somente a história da cidade, com versos longos e rimas pobres. Eu sabia que não seria fácil, mas escolhi alguns e fizemos uma análise coletiva no quadro, reescrevendo o que foi possível. Eles gostaram do texto Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz* e se animaram para produzirem o poema deles, abordando o que os deixavam felizes. Foi bom o resultado e eles ficaram mais confiantes.
Outras oficinas se seguiram e pude ir agregando mais ideias à palavra poema. O mais difícil foi fazê-los entender que as palavras podem ter, em um poema, diferentes sentidos, ou seja, as palavras são ilhas cercadas de ideias por todos os lados. Para entender isso, fui alimentando meus passarinhos com poemas de Mario Quintana, Cassiano Ricardo e tantos outros que retrataram em sua obra o escrever poético. Animados, alguns começaram a pegar livros de poemas na biblioteca da escola.
Na oficina sobre figuras de linguagem, a compreensão sobre metáfora foi a mais complicada e exigiu um pouco mais de tempo e atividades extras e, para isso, trouxe trechos de vários poemas que continham metáforas.
Propus aos alunos um "amigo secreto" de poemas. Cada um daria um poema de algum autor para o colega que sorteou. Foi uma animação. Alguns capricharam no envelope e enfeitaram o poema. No dia da revelação, estavam ansiosos para descobrirem de quem receberiam o poema. Ao receberem tinham que ler o poema em voz alta. Assim, eles foram montando sua própria coletânea: poemas copiados do Caderno da Olimpíada, dos livros que emprestavam, dos que ganharam, etc. Mas ainda faltava melhorar aquele olhar diferente, poético, novo e do nosso lugar. Começamos a escrever coletivamente pequenos poemas sobre a sala de aula, a escola, a merenda, a rua, e isso foi fortalecendo as asinhas das minhas pequenas aves.
Pesquisando sobre poetas locais, o aluno Vicenzo contou que tinha participado do lançamento do livro de um senhor que morou na cidade e que agora voltava à terra natal como poeta. Aproveitei e apresentei-lhes também poemas de alguns poetas paranaenses. Para aguçar mais ainda o olhar sobre o lugar, trabalhamos com poemas como "Infância", de Helena Kolody; "Minha Rua”, de Virgílio M. de Oliveira; e os da coletânea "Cidadezinha", de Mario Quintana, e "Milagre no Corcovado", de Angela L. Souza. O estudo poema "O mundo dentro da represa do Frade", da finalista em 2016, Carla Marinho Xavier, levou-os a uma compreensão maior da estrutura de um poema e de como pensar, elaborar e colocar as palavras mais adequadas num texto poético.
Meus passarinhos já estavam empenando suas asas e começando a fazer pequenos poemas. Eu lia cada um e procurava melhorá-los com reescritas individuais, sempre elogiando alguma coisa do texto para incentivá-los. A escrita foi melhorando, passaram a cometer menos erros ortográficos e a usar rimas mais criativas. Mas faltava eles se inserirem no poema, não só como autores, mas como participantes da experiência que escreviam.
O tempo passando, alguns buscavam mais leitura e, com seus biquinhos abertos, ávidos de alimento, apresentei-lhes alguns dos poemas finalistas das edições de 2012 e 2014.
Perceberam que era possível escrever sobre coisas comuns, corriqueiras e simples sobre o lugar que se vive com uma linguagem poética. Bastava "brincar" com as palavras, e foi isso que meus passarinhos fizeram: voaram e escreveram bonitos poemas sobre diversas coisas do lugar onde vivem.
Os poemas finais foram reescritos e aprimorados várias vezes para ficarem melhor. É claro que nem todos se empenharam em reescrever várias vezes o poema. Mas os que tiveram esse empenho apresentaram bons poemas. Por fim, fizemos um livro com todas as produções para a biblioteca da escola.
Então um lindo passarinho, de peninhas louras e olhos azuis, voou mais alto e pousou na fase regional.
Espero que ele faça um ninho.
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*Livro de Otávio Roth.
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