Lendo mulheres: a literatura de autoria feminina nas salas de aula
literatura de autoria feminina, formação leitora, literaturas e identidades, ensino de literatura
Escola Estadual Doutor José Teodoro de Souza
Capetinga/MG
Quando descobri que nossa escola participaria da Olimpíada, fiquei um pouco apreensiva. Era uma responsabilidade muito grande e a inexperiência com o gênero exigiria grande dedicação de minha parte. Já conhecia o projeto e também suas oficinas, mas ministrar as Memórias Literárias seria uma novidade para mim. Como ensinar algo que havia trabalhado pouco? Era preciso planejar. Resolvi pegar o material e estudá-lo. E que surpresa eu tive! Deliciei-me com uma leitura doce e envolvente. O que a princípio seria apenas mais uma "obrigação", em questão de segundos se transformou em extrema vontade de querer saber mais. Folheava o Caderno do Professor em busca de conhecimento, até que, ao chegar à página 17, deparei-me com palavras que mudariam o rumo da minha vida: "[...] Mas as histórias podem durar depois de nós. Basta que sejam postas em folhas de papel e que suas letras mortas sejam ressuscitadas por olhos que saibam ler." (Ilka Brunhilde Laurito).
Foi o ápice! Senti uma grande euforia em projetar as aulas e levá-las aos meus alunos, despertando-os para o prazer de desvendar os mistérios das palavras.
Queria que todos sentissem o mesmo que senti: aquela delicadeza, sentimentalismo e pura nostalgia. Mas como? Resolvi usar essas primeiras páginas como apoio para introduzir o gênero. Transformei aquela fala tão marcante para mim em uma pequena peça teatral. Fiz a história e convidei algumas alunas de outra série para encenar. O intuito era de provocar a catarse, incentivá-los na busca de situações novas, fazê-los entender que os mais velhos têm muito a nos ensinar. E deu certo! Aproveitei para explicar a proposta do concurso, os objetivos e informei as premiações. Todos ficaram radiantes com tamanha oportunidade e mostraram-se atenciosos às minhas falas.
Era apenas o ponto de partida, pois o caminho a ser trilhado ainda era muito longo. Iniciei contando algumas histórias do meu tempo de escola. Todos escutavam atentos meus relatos malucos e ainda me questionavam um pouco perplexos: "Não acredito! A senhora fez isso?". Entre idas e vindas, entre uma história e outra, demos boas risadas. Aproveitando aquele clima caloroso, solicitei a eles que perguntassem a uma pessoa mais velha um fato marcante vivido, para relatar à classe. E assim fizeram. No dia seguinte, cada aluno chegou com sua história: algumas tristes, engraçadas, outras reflexivas, mas todas carregavam em si a essência de cada um.
Outro dia, uma aluna trouxe um livro intitulado "Tempos de Capetinga". Achei-o muito interessante, pois falava de acontecimentos vivenciados em nossa cidade. Eram memórias, mas não literárias; mesmo assim, resolvi compartilhar alguns relatos e foi sensacional! Ainda me lembro de outro momento muito significativo em nosso percurso de aprendizagem. Foi quando convidei o Túlio, professor de Inglês, para contar-nos algumas histórias de sua infância. O encantamento foi geral e ninguém queria deixá-lo ir embora. Certamente, foi uma contribuição única para o nosso momento de relíquias.
Em seguida, discutimos a diferença entre os termos memória/memórias e seguimos com as oficinas. Muitas informações vinham a todo momento, até que chegamos à leitura do texto "Transplante de menina". Coloquei o áudio e deixei-o ocupar o ambiente. Os batuques dos instrumentos, a festa de carnaval, a narração impecável e o "Que que é isso, minha gente?!", foi a marca mais profunda de emoção gravada no coração de todos nós. Estávamos transbordando ideias para produção escrita. Dei várias sugestões e os alunos começaram dar formas às suas memórias nas linhas de papel. Dúvidas não faltaram, mas não desistimos.
Ao corrigir as primeiras produções, percebi que a maioria trazia boas histórias, porém, eram relatos. Faltava a lapidação da palavra, o gosto, o cheiro, o sentimentalismo das lembranças. Então, para ajudá-los, fiz a leitura do texto "Sou parte deste lugar", texto semifinalista da 4ª edição da Olimpíada, de Maria Eduarda Ferreira. Escutei-o pela primeira vez num bate-papo proposto pelo Portal da Olimpíada e fiquei fascinada. Quando o li para os alunos, vi olhares tristes, pensativos e desconsolados. Muitos diziam: "Nunca conseguiremos fazer um texto como este"; já outros enfatizavam: "Capetinga é um buraco! Nunca olharão para nós!". Realmente, as barreiras eram imensas. Para muitos, construir um texto semelhante a uma produção finalista, era tarefa praticamente impossível, mas mesmo rodeada de muito desânimo, tentei não me abater e continuei incentivando a todos, para conseguirmos uma produção que pudesse representar a escola.
Mais uma vez era hora de replanejar. Lembrei-me de uma música que seria perfeita para a ocasião. "Minha Vida", da Rita Lee, foi a escolhida. Chamei o Matheus - um aluno da sala - e pedi para acompanhar-me no violão. Chegando o grande dia, liguei o projetor e apertei o "play". Todos esperavam o áudio vindo do computador, quando repentinamente iniciamos a nossa apresentação. Minha voz estava trêmula e a vergonha tomava conta de mim. Pensei que não conseguiria cantar, mas, em questão de segundos, recuperei minhas forças através dos olhares afetuosos e das palmas que me acolhiam num gesto amoroso e de amizade. Foi lindo! Ao fundo, uma série de imagens que refletiam as mais variadas lembranças e, ao nosso redor, o pequeno palco de grandes emoções. Fiquei extremamente surpresa ao ver que um ato tão pequeno pôde provocar tamanha intimidade com eles. Viajei no tempo e acordei somente com os gritos eufóricos pedindo "bis".
Depois de todo esse "gás", dei mais algumas dicas e, entre tantos choros, alegrias e um misto de emoções, conseguimos chegar às produções finais. Eu nem acreditava! Muitos tentaram e outros desistiram, mas, com muita persistência, conseguimos bons textos. E agora viria o principal: escolher qual deles traria a emoção necessária que pudesse representar não só o gênero, mas também a nossa escola. Depois de algumas horas, recebi a notícia e fiquei imensamente feliz. Acalmei o coração, recarreguei as energias e comuniquei à sala a decisão tomada. Fiquei muito orgulhosa de todo o trabalho realizado.
Enviamos o texto e mais surpresas viriam por aí. Conseguimos passar pelas fases e chegamos à semifinal!
Carregamos nossa querida Capetinga no colo e fizemos com que o Brasil pudesse enxergar um pouquinho de nosso abençoado pedacinho de chão.
Hoje, fazendo uma retrospectiva desse período, só tenho a agradecer. Agradecer a Deus pela oportunidade, às minhas colegas de trabalho que não me deixaram desanimar, aos meus alunos pelo companheirismo e à equipe da Olimpíada de Língua Portuguesa, que me proporcionou um aprendizado tão enriquecedor. Como já dizia Gabriel García Marques, "A vida não é a que a gente viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la." Os próximos capítulos desta história ainda serão escritos e quem sabe terei a alegria de chegarmos à grande final; mas independentemente disso, já me sinto extremamente vitoriosa por termos chegado até aqui e, certamente, estes momentos ficarão para sempre guardados em minha memória.
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