Lendo mulheres: a literatura de autoria feminina nas salas de aula
literatura de autoria feminina, ensino de literatura, literaturas e identidades, formação leitora
Escola Estadual Heitor Villa Lobos
Ariquemes/RO
Difícil descrever em palavras a alegria que sinto em participar de mais uma edição da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, pois, além de proporcionar a melhoria na leitura e na escrita, o concurso desperta nos alunos a consciência crítica acerca dos problemas sociais. Nessa perspectiva, iniciei as oficinas com grande entusiasmo e procurei mostrar as experiências positivas que foram proporcionadas nas duas últimas edições, das quais tive o privilégio de participar.
Já nos primeiros dias do ano letivo, comecei a instigar os alunos a observarem os problemas da nossa cidade. No primeiro momento, julguei interessante promover debates sobre diversos assuntos, dentre eles "A lei da palmada", que foram realizados em conjunto com a disciplina de Sociologia. As turmas debateram entre si, e havia um júri composto por professores de diferentes áreas, os quais escolhiam aquela turma que obtivesse o melhor desempenho. Isso gerou certa rivalidade e impulsionou os alunos a buscarem, cada vez mais, argumentos para defender o seu ponto de vista e vencer o debate.
Ao iniciar as oficinas, propus que os alunos conversassem com seus pais, familiares e amigos a respeito das questões polêmicas do nosso município. Na sequência fizeram enquetes e, em dupla, apresentaram aos colegas de sala de aula as questões que julgavam relevantes. Como foram apresentados diversos assuntos, entramos em acordo que o tema mais votado em cada turma seria escolhido. Foram eles: a falta de segurança no Parque Botânico, as obras inacabadas do Teatro Municipal, a superlotação dos presídios e a situação de abandono dos dependentes químicos nas ruas da cidade.
Após a escolha das questões polêmicas, os alunos começaram as pesquisas e relataram estar surpresos com os dados encontrados. Isso foi um fator importante para o despertar do senso crítico e da observação diante dos problemas. Embora tivessem muitos dados para a produção do texto, percebi que ainda faltava uma "conexão" para que pudessem contextualizar as informações com a realidade vivida.
Após a escolha das questões polêmicas, os alunos começaram as pesquisas e relataram estar surpresos com os dados encontrados
Nessa etapa, convidei profissionais para ministrarem palestras às turmas, de acordo com as questões polêmicas escolhidas. Estiveram presentes o delegado da Polícia Civil, uma advogada criminal, o Procurador Geral do Município, a Psicóloga do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e o representante da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Durante as palestras, os alunos fizeram diversos questionamentos e demonstraram preocupação com os problemas da cidade. Relataram que a explanação feita por esses profissionais muito contribuiu para a fundamentação do texto, assim como para a formulação do contra-argumento.
A partir das palestras e das informações coletadas através de pesquisas, os alunos escreveram e reescreveram seus textos. Confesso que foi um momento difícil, pois muitos não estavam mais dispostos a fazer as adequações necessárias. Então, tive que fazer um trabalho de conscientização, enfatizando a importância da reescrita. Relatei também que o processo muitas vezes é difícil, porém fundamental para o aprimoramento do texto, assim como para a aprendizagem de conceitos sobre o gênero textual.
Neste ano tive uma experiência diferente nas oficinas, pelo fato de ter um aluno com deficiência em sala de aula. Então, surgiu a necessidade de inseri-lo no contexto da Olimpíada, mas, para isso, as atividades deveriam ser adaptadas para que ele pudesse acompanhá-las. Com a ajuda da professora da sala de recursos, realizamos um trabalho através de ilustrações que apresentavam problemas encontrados na cidade e que faziam parte do contexto de vida do aluno. Embora ele não tenha escrito um texto formal, devido às suas limitações, foi muito importante sua participação nas oficinas, pois proporcionou uma integração com os demais colegas da turma, contribuindo para uma aprendizagem significativa.
A Olimpíada traz grandes expectativas para os alunos, e sabemos que é difícil o momento da seleção dos textos. Dessa forma, antes mesmo da comissão julgadora escolher o texto vencedor na escola, pensei em realizar um evento para culminar esse tão importante projeto. Propus, então, que fizéssemos a publicação dos artigos de opinião finalistas na Etapa Escolar e uma "Noite de autógrafos", que contaria também com diversas atrações culturais, apresentadas pelas quatro turmas envolvidas na Olimpíada.
Propus, então, que fizéssemos a publicação dos artigos de opinião finalistas na Etapa Escolar e uma "Noite de autógrafos", que contaria também com diversas atrações culturais, apresentadas pelas quatro turmas envolvidas na Olimpíada
Com essa proposta, os alunos ficaram muito empolgados e participaram ativamente da organização do evento. Inicialmente, doze textos seriam publicados. Para minha alegria, muitos alunos pediram para participar e se dispuseram a reescrever seus textos. Os artigos eram enviados por e-mail; eu fazia as correções e reenviava para que fizessem os devidos ajustes. Penso que essa etapa foi fundamental para a conclusão dos trabalhos, pois, independente do concurso, sentiram-se motivados a continuar escrevendo. Assim, vinte e três artigos foram publicados ao final do trabalho.
Então, chegou o grande dia! Foi um momento marcante para todos, principalmente para os pais dos alunos, os quais ficaram emocionados ao receber a coletânea com a publicação dos artigos de opinião dos seus filhos. Dada a importância do trabalho desenvolvido e principalmente por reproduzir a "voz dos alunos" diante de problemas enfrentados no município, foram entregues exemplares da publicação dos textos ao Governador do Estado de Rondônia, ao deputado estadual representante da cidade de Ariquemes, ao prefeito eleito nas últimas eleições, à Secretária de Educação do Estado e à Coordenadora Regional de Educação. Os alunos escolheram uma frase de Clarice Lispector para traduzir esse momento de grande interação com a escrita e a realidade social vivida: "Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever".
Na ocasião, também foi apresentada em vídeo uma entrevista realizada com os alunos, os quais relatavam que a partir das oficinas começaram a ter uma visão mais crítica em relação aos problemas locais, que até então pareciam distantes do seu cotidiano. Consideraram que o trabalho desenvolvido proporcionou novos horizontes e trouxe uma experiência bastante positiva, pois partiu de questões reais e nesse contexto tornaram-se protagonistas através da escrita.
Consideraram que o trabalho desenvolvido proporcionou novos horizontes e trouxe uma experiência bastante positiva, pois partiu de questões reais e nesse contexto tornaram-se protagonistas através da escrita
Ah! A Olimpíada... Tenho uma enorme admiração por esse projeto, que defino como transformador, pois além de contribuir na formação de alunos e professores, possibilita a descoberta do papel do cidadão na sociedade, como alguém que pensa, participa e busca alternativas de melhoria para o lugar onde vive.
Sempre deixei claro aos meus alunos que o processo de escrita do artigo de opinião poderia ser difícil, porém possível! "Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!"*. Desejo que essa publicação seja a primeira de muitas, e que todos consigam reproduzir através da escrita seus anseios para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
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