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sua prática / relatos de prática

Relatos de Prática Vencedor 2014 - Profª Elaine Ferreira de Matos dos Santos

08 de agosto de 2023

 

Problemas reais inspiram aprendizagens significativas

Elaine Ferreira de Matos dos Santos
Escola Professora Leda Fernandes Lopes
Suzano / SP

 

“Professora, é correto derrubar as casas das pessoas e não oferecer um valor justo pelas moradias?” - Foi com esse questionamento que fui surpreendida no início deste ano letivo. Estava preparada para mais uma aula de Língua Portuguesa, com lições planejadas e conteúdos previamente estudados. Mas, ao adentrar na sala do 3º ano e cumprimentá-los, a aluna me interpelou com a polêmica. A voz dela soou alto entre os alunos e todos pararam para ouvir. Percebi que por trás daquela inquietação havia um grito por justiça. Interrompi meus planos iniciais para ouvir os alunos e quem sabe contribuir com a problemática que os envolvia.

“Não, Ana, não é correto. Vocês querem falar sobre isso?” - Percebi que precisavam expor o que sentiam. Expressar de alguma forma a dor de testemunharem amigos e parentes serem retirados de suas casas, muitos sem receberem a indenização. A construção do trecho leste do Rodoanel desapropriou mais de 140 casas próximas da escola. Observei nos comentários deles a revolta, a tristeza de serem desamparados pelo poder público. Impossível não se comover com um problema como esse. Eu precisava agir, mostrar aos alunos que existe uma forma adequada de expor o que pensamos com competência e fundamentação para conquistar a credibilidade da sociedade. Naquele dia retornei para casa inquieta e antecipei o planejamento dos gêneros argumentativos.

Fiz a inscrição da escola na Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro – já participo dela há três edições. Essa ação primorosa do CENPEC tem contribuído de forma significativa para o aprimoramento da minha prática em sala de aula. No ano passado fiz uma formação online; o curso "Sequência didática: aprendendo por meio de resenhas" contribuiu com a qualidade das oficinas que montei este ano. Utilizei a mesma linha pedagógica mudando de resenha para artigo de opinião.

Minhas oficinas começaram antes da inscrição. Trabalhar os gêneros argumentativos orais e escritos já faz parte da minha rotina; as oficinas da Olimpíada já estão atreladas a minha prática e acontecem todos os anos independente do concurso. A cada ação didática eu registrava no caderno o que e como eu havia trabalhado, os pontos positivos e negativos daquela oficina. Isso foi importante para organizar meu tempo e reavaliar continuamente minha prática.

Selecionei reportagens, artigos, editoriais e vídeos sobre o assunto. Levei-os à biblioteca da escola para lerem jornais e revistas. Na sala de informática propus a leitura de trabalhos acadêmicos sobre a construção do Anel Viário Paulistano. Solicitei que destacassem, parafraseassem e fundamentassem os textos que pesquisavam e montei um quadro comparativo, no qual deveriam anotar as posições de quem era a favor e contra a construção do Rodoanel. Aproveitei-me da curiosidade, da indignação advinda de um problema real para estimular a pesquisa e aprimorar a escrita.

No decorrer dos meses explorei material fornecido pela CENPEC: caderno Pontos de Vista, o Jogo Q.P. Brasil, as revistas Na Ponta do Lápis e os textos dos finalistas. O que mais fez sucesso entre meus alunos foram os jogos de aprendizagem online. Eles se divertiam e aprendiam à medida que exploravam os jogos do artigo de opinião: Lajenga, O foca e Grêmio. A diversão deles aguçava ainda mais minha vontade de fazer melhor.

Com o objetivo de estimular o interesse dos alunos e facilitar a identificação do diferentes tipos de argumento elaborei um projeto chamado "Desafio e Debate" que envolveu todos os estudantes e professores da escola. Meus alunos e eu fizemos uma lista com 30 questões polêmicas interdisciplinares e atuais, dentre elas a que mais os afetou: "O Rodoanel trouxe e trará benefícios à população suzanense?”. Alunos de todo o Ensino Médio se inscreveram.


Durante as aulas que antecediam o debate eu instigava os grupos a selecionarem bons textos, a checarem a autenticidade e qualidade das fontes. Fiquei impressionada quando a professora de Biologia me questionou, no intervalo, a respeito de um dos temas do debate. Animada, disse-me que os alunos interromperam a aula para saber mais a respeito do trabalho com células-tronco. O professor de História também comentou sobre a curiosidade dos alunos em aprender mais sobre a Constituição Federal, o Código Penal brasileiro. Fiquei tão feliz! Afinal, os alunos estavam realmente motivados. No dia do confronto eu era a mediadora, os jurados eram funcionários, coordenadores, professores; até o vice-diretor se envolveu. Quem estava na plateia também participava criando perguntas para os debatedores. O melhor de tudo foi que após o debate e as oficinas, meus alunos melhoraram a arte da argumentação.

Então, chegou décima terceira oficina e meus alunos tiveram que reescrever a primeira versão do artigo sobre o tema “O lugar onde vivo"; a questão polêmica escolhida por eles foi a do Rodoanel. Entre a primeira produção e esta passaram-se cinco oficinas com diferentes intervenções. Usei o recurso do bilhete orientador; fazia questionamentos que motivavam meus alunos a reescrever os trechos e aprimorar suas produções: como adicionar figuras de linguagens, variar o uso dos conectivos, inserir ou aprimorar a proposição e reorganizar os argumentos.

A produção final seria fruto da revisão, da reflexão e de novas informações. Meus alunos queriam e podiam se posicionar de forma crítica e fundamentada em relação a qualquer conflito apresentado porque haviam aprendido o caminho "do aprender a aprender".

Na correção fiquei emocionada com a qualidade dos argumentos. Independente de quem fosse escolhido, o maior prêmio já estava ali. Sim, a maior recompensa eram os textos de qualidade produzidos por meus alunos. Entreguei as produções para a comissão julgadora escolar que teceu muitos elogios aos artigos, o que me deixou orgulhosa. Após horas de leitura os professores escolheram o texto de Juliana, , uma aluna dedicada e sensível que também se comoveu com as desapropriações imobiliárias do bairro e que utilizou seu texto para gritar contra aquilo que achou injusto, para defender o lado de quem não foi ouvido. O artigo da Juliana é o clamor dos meus alunos, da minha escola, da minha comunidade.

É uma honra ter chegado tão longe. Contudo, o que mais me realiza é a tranquilidade de cumprir com meu papel. Pois, o verdadeiro educador é aquele que oportuniza mudanças. Para que estas sejam plenas basta assegurar que o professor mantenha três coisas já descritas pelo imortal Guimarães Rosa "Porque eu só preciso de pés livres, mãos dadas, e de olhos bem abertos".

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