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Ensinar leitura lendo

Ensinar leitura lendo

texto - Magda Soares; ilustração - Criss de Paulo

01 de agosto de 2013

As práticas de leitura e escrita em nosso tempo

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É papel da escola – de acordo com a pesquisadora da área da linguagem Magda Soares – democratizar o acesso e ampliar o convívio com múltiplas situações e intenções de leituras. O leitor é diferente a cada prática leitora. São inúmeros os gestos, os modos de ler, sempre atrelados ao objetivo da leitura. Ler silenciosamente, em voz alta, rapidamente, sublinhar o texto, anotar nas bordas das páginas, deter-se às imagens e apelos visuais, ler nas entrelinhas, aprofundar, reler quando surgem dúvidas.

O desafio é materializar – no cenário da sala de aula – a leitura como construção ativa do aluno: interação do leitor com o que diz o autor sobre determinado assunto, tendo o professor como mediador desse processo.

Nesse espaço de diálogo sobre o ensino de língua relembramos uma estratégia de leitura que pode contribuir para o leitor pouco experiente monitorar sua compreensão: a leitura protocolada, também chamada de “pausa protocolada”. O professor, por meio de uma série de perguntas, provoca o estudante a fazer previsões e checá-las; a articular o repertório prévio – aquilo que já sabe – com as informações do texto; a compreender e refletir sobre o que foi lido. Assim, o jovem leitor atento aos recursos empregados, aos modos de dizer próprios de cada autor, aprende a ler as diversas camadas do texto, ampliando a compreensão do sentido.

Os textos enigmáticos, de suspense e os com finais surpreendentes são os mais indicados para essa estratégia, pois aguçam a curiosidade e fisgam o leitor logo nas primeiras linhas da história.

Convidamos você, professor, a viver essa experiência.

■ Preparo da leitura

É função e obrigação da escola dar amplo e irrestrito acesso ao mundo da leitura, e isto inclui a leitura informativa, mas também a leitura literária; a leitura para fins pragmáticos, mas também a leitura de fruição; a leitura que situações da vida real exigem, mas também a leitura que nos permita escapar por alguns momentos da vida real.

Magda Soares¹

Planeje, com base no conhecimento do ritmo de aprendizagem e do interesse de seus alunos, o número de aulas e os recursos necessários para desenvolver a leitura protocolada. Procure ensaiar o modo de ler com leitura em voz alta, modulação da voz, gestos, expressão facial, interpretação e movimentos, conjunto de ações decisivas na conquista do leitor.

Defina previamente onde serão feitas as pausas, de preferência depois da introdução de algum elemento novo no texto – um lugar, uma personagem, um problema –, ou em trechos que antecedem alguma revelação. No decorrer da leitura, um recurso valioso é o professor ter em mãos o próprio suporte – neste caso, o livro e o dicionário. Exemplares que poderão circular pela sala de aula após a leitura. Explique aos estudantes como será o trabalho, ressaltando a importância dos turnos de fala e escuta para melhor aproveitamento da leitura.

■ Vamos começar

Provoque o interesse apresentando o título do texto. Você pode escrevê-lo na lousa, em uma tira de papel ou na lâmina de PowerPoint, caso sua escola disponha de Datashow.

Pergunte aos alunos:

O que o título do texto sugere?

Lembra alguma imagem?

Qual?

Convida à leitura?

Anote as hipóteses levantadas pela turma. Esquente um pouco mais a conversa lendo a etimologia da palavra catástrofe no dicionário.

Na opinião de vocês, Catástrofe é um bom título?

Para qual gênero de texto?

Onde foi publicado?

Espera-se que os alunos indiquem vários gêneros: crônica, conto, poema, artigo de opinião, editorial, manchete... Boa oportunidade para saber se a turma tem familiaridade com a leitura de diversos gêneros textuais, a finalidade de cada um deles e os suportes em que são veiculados.

Informe o nome do autor do conto: Luiz Junqueira Vilela. Pergunte aos alunos se conhecem o escritor, se já leram algum livro dele?

Conhecer a história de vida, a formação, o trabalho, a obra, o período em que o texto foi escrito traduz a cultura de uma época e ajuda o leitor a compreender o modo de narrar do autor.

Envolva os estudantes no clima da história; informe que o conto “Catástrofe”, de Luiz Junqueira Vilela, foi publicado no livro A cabeça (São Paulo: Cosac & Naify, 2002, pp. 87-92). Aqui, o conto será dividido em seis trechos para o exercício de leitura protocolada. O vídeo abaixo, produzido pela equipe da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, pode ajudar para a realização dessa atividade, a partir da audição de uma leitura dramática do conto Catástrofe. Ao longo do exercício, indicaremos os períodos de tempo do vídeo correspondentes a cada um dos trechos do texto a serem trabalhados.

 

 

■ Esmiuçar a leitura

Leia em voz alta ou ouça o primeiro trecho do conto. No vídeo Catástrofe, entre os períodos 0'00" e 0'37".

Pare a leitura e pergunte aos alunos:

Pelo início do diálogo das personagens, como a conversa continuaria?

Dá para imaginar como são as personagens?

Ouça com atenção as antecipações dos alunos. Verifique se alguma previsão se aproximou do texto do autor. Valorize as respostas plausíveis que evidenciem que o ouvinte-leitor está acompanhando a trama.

Retome a leitura ou a audição. Na sequência o segundo trecho do texto. No vídeo Catástrofe, entre os períodos 0'37" e 1'03".

Outra parada na leitura e novas perguntas:

Quem são Mimi e Artur?

Como o autor caracteriza essas personagens?

Em que cenário se dá esse diálogo?

Qual é o passeio que os meninos tanto precisam?

Quem se arrisca a dizer?

Registre as projeções a respeito do que pode vir a acontecer. Pergunte aos alunos que caminho foi feito para levantar as hipóteses. Confira a compatibilidade das previsões e dê oportunidade para reformulação das previsões apresentadas.

Continue a leitura ou a audição do texto, destacando o terceiro trecho do conto. No vídeo Catástrofe, entre os períodos 1'03" e 2'14".

Mais uma pausa para perguntas:

Neste conto, o que chama a atenção do leitor?

Por que Artur está tenso?

Como é o tom do diálogo entre Mimi e Artur?

O casal está brigando?

Qual o motivo de Mimi sentir dó da Dininha?

Será o número de filhos, os nomes estranhos dos moleques?

À medida que a leitura avança, antes de fazer a suposição, é fundamental retomar as informações contidas no texto para que se possa, neste caso, desvendar o dó que Mimi tem de Dininha.

Depois de acolher e organizar as ideias apresentadas pelos alunos, o professor pode chamar a atenção para a simplicidade, precisão, ironia e humor presentes no diálogo do escritor, antes de prosseguir a leitura ou a audição do que chamamos quarto trecho do conto. No vídeo Catástrofe, entre os períodos 2'14" e 3'10".

Mais uma pausa e outras provocações:

O que tanto preocupa Artur?

Por que Artur usa o substantivo “horda” quando se refere à família de Dininha?

Será que a equação está relacionada com a guarda dos valiosos bens do casal?

Que pistas o conto oferece para você descobrir qual é a equação?

Confira se as antecipações apresentadas são compatíveis com o sentido, a progressão do texto, e se os estudantes buscam outros textos para justificar as previsões.

É comum a dispersão da turma em algumas situações de leitura, como em trechos longos, complexos, polêmicos. Se isso ocorrer, retome a leitura prestando atenção aos modos de ler: entonação, velocidade, expressividade, evitando tom único, monótono.

Lembrete: o foco do trabalho é a leitura;
portanto, explore bem a compreensão
leitora, evitando usar essa atividade como
pretexto para uma proposta de escrita.

Dê continuidade à leitura ou à audição, agora do nosso quinto trecho do conto. No vídeo Catástrofe, entre os períodos 3'10" e 3'56".

Outra parada e mais perguntas:

Dá para imaginar o Artur menino?

Onde vivia?

O que fazia?

Como o texto se aproxima do final, aproveite as inferências apresentadas para rememorar os diálogos curiosos, buscar indícios que apontem como o autor vai encerrar o conto. Desafie o grupo a prever como terminará o diálogo do casal Artur e Mimi, não esquecendo que o título do texto é Catástrofe.

Recupere com os alunos o conteúdo dos diálogos. Peça-lhes que observem se travam embates, se mostram a realidade, o cotidiano do convívio humano. Em seguida, pergunte quais deles têm mais chance de se aproximar do que foi escrito pelo autor.

Leia ou ouça o trecho final do conto. No vídeo Catástrofe, entre os períodos 3'56" e 4'55".

■ Ponto, quase final, da leitura

A leitura não se esgota, continua na voz dos estudantes: O que mais chamou a atenção e surpreendeu você na leitura do conto? Concordam ou discordam da posição do autor? Gostaram do desenrolar da trama? Tudo o que devia ser dito no diálogo foi dito? O que têm a dizer sobre o desfecho?

Impressões, críticas, informações, tomada de posição, avaliação da narrativa lida e da estratégia utilizada são bem-vindas.

1. Magda soares. “introdução: ler, verbo transitivo”, in: Aparecida paiva; Aracy Martins; graça paulino, Zélia Versiani (orgs.). Leituras literárias, discursivos transitivos. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

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