História de pescador – aluno semifinalista

Gean Fabrício de Araújo Motta
EEEFM Senador José Gaudêncio
Serra Branca / PB

De vez em quando vou à praia. Um bom lugar para pensar, ficar em paz longe da parte violenta e lotada do nosso cotidiano. Geralmente vou quando está ficando noite, quando tem menos gente.

De todas as histórias que por ali aconteciam, a única que senti vontade de conhecer foi a do “pescador”, um velhinho que passava todo dia remando em seu barquinho, solitário. Naquele vai e vem incansável, nunca falei com ele.

Numa noite de sexta-feira, fui à praia. Me sentei na areia, ouvindo as ondas. Eu vejo à distância um ponto preto. É ele, o pescador. Procurando inspiração para minha crônica, resolvi falar com ele. Acenei com os braços, ao que ele respondeu com um assovio.

Ele aproximou seu barquinho da praia, deixando-o na areia. Desceu e me mandou subir, após um aperto de mão. Seu nome era Joaquim. Ele falou:

— Sobre o que quer conversar?
— Queria que me falasse sobre você. – respondi — Me conte uma história sua.
— Está bem, vamos lá. Eu sou aposentado há tempos, e venho para o mar todo dia. Eu amo o mar, essa imensidão azul…
— Mas e os peixes? – interrompi — O que o senhor pesca?
— Nada!
— Como assim, nada?
— Não pesco nada!

Eu achei muito estranho. Como ele não pescava nada? E a vara de pescar? E a rede que estava no barco? Decidi esclarecer os fatos.

— Se o senhor não pesca nada, por que vem até aqui trazendo tanto peso? O senhor não está na idade de passar o dia remando, e pra nada!
— Meu jovem, nada mais devo a esta vida. O tanto que trabalhei, o tanto que lutei… Eu sempre quis a minha vida, no mar.
— Mas e a vara de pescar? E a rede? E as caixas?
— Meu filho coloca essas coisas achando que venho pescar. Ele nunca me deixaria vir até aqui para fazer nada.
— Mas ele não suspeita do fato de você voltar para casa sem nenhum peixe?
— Só porque não pesco não quer dizer que deixe de levar a “pesca” para casa. Eu compro dois ou três todo dia. Ele acha que eu que peguei. Foi bom conversar com você. Até logo.

Eu desci do barco e voltei à areia. Fiz uma última pergunta:

— Por que o senhor faz isso, afinal?
— Liberdade, meu jovem, liberdade!

Ele sai e some com seu barco no horizonte.