Ciclistas denunciam agressão de motorista em discussão de trânsito no Bairro Aldeota

Os ciclistas registraram BO relatando agressão. O motorista reconhece que se excedeu, após presenciar os ciclistas “furando” sinal vermelho.

Já passava das 22h30, quando um casal de ciclistas pedalava no Bairro Aldeota, em Fortaleza. Eles retornavam para casa e, ao passar pelo cruzamento das ruas José Lourenço com Dom Expedito, afirmam terem sido abordados por um motorista de carro na noite da última quinta-feira (15). Depois do episódio, a dupla se dirigiu ao 2º Distrito Policial, para registrar um boletim de ocorrência contra o suposto agressor.

“Estávamos em um grupo de quatro ciclistas, mas um de nós ficou no sinal da Avenida Padre Antônio Tomás. Resolvemos seguir, com uma de nós mais à frente. Para acompanhar o ritmo dessa amiga que ia mais à frente, passamos o sinal vermelho, virando à direita juntamente com o motorista que vinha. Mas, ainda enquanto fazíamos a conversão, ele já baixou o vidro e começou a falar de forma agressiva, puxando o carro para o lado, imprensando as biCliquetas contras os carros estacionados”, conta uma das vítimas.

O motorista, identificado como J.M.M, relatou a sua versão em sua página, em uma rede social, nesta sexta-feira (16). Ele cita que houve agressão mútua e apontou o mau comportamento dos ciclistas. “No meio do cruzamento, me deparei com um casal que vinha de biCliqueta pelo meio da rua descendo a José Lourenço, cruzando o sinal que estava vermelho para eles. Diminuí, desviei e avisei aos dois que o sinal estava verde para mim. Eles me mandaram para merda (sic) com cara feia, como se eu estivesse errado. Eu, ainda calmo, perguntei se era assim que eles queriam ser respeitados no trânsito. Eles novamente me xingaram e mandaram eu me f… (sic), exigindo que eu saísse da frente deles, com palavras ostensivas: SAI FORA!!!”, declara o motorista.

A mulher contradiz o relato e afirma que foi o motorista quem iniciou as agressões. “Pegou a biCliqueta do meu amigo, jogou no chão e bateu nele. Eu, que consegui escapar da investida, pude ver a placa do carro e comecei a gritar para que alguém anotasse”, disse. Ela conta que, nesse momento, a atenção do motorista mudou. “Ele retornou ao carro e dirigiu em minha direção, jogando o veículo para cima de mim. Desceu novamente do carro e bateu com a mão na minha cabeça para tirar o boné que eu usava”, acrescenta.

O motorista informa só ter agredido o rapaz e aponta que, quando se dirigiu à mulher para evitar a gravação, apenas tentou tomar o celular das mãos dela. “Fui novamente para cima do rapaz. Ia fazer uma besteira, Deus foi mais! O máximo que eu consegui foi dar um chute nele, porque ele corria. Em uma atitude impensada, joguei a biCliqueta dele no chão e fui embora. Ela continuou gritando e me instigando, me filmando. Me irritei e tentei tomar o celular dela”, completa.

De acordo com o relato da vítima, a dupla viu o motorista entrar novamente no carro e ir embora. “Mas ele parou na esquina da Rua Padre Valdevino. Peguei o celular para registrar o que estava acontecendo, ouvir as pessoas que estavam ali assistindo a tudo. Acho que ele viu que eu estava filmando e saiu do carro, correndo em direção a mim novamente, exigindo que eu parasse de filmar”.

João conta que teve seu carro seguido por alguns metros e, por isso, parou o veículo para confrontar o ciclista. “Ele empurrou a biCliqueta contra mim e, quando fui empurrá-lo, ele a usava de escudo. Enquanto isso, ela me cercava gritando um número de um artigo que não recordo qual, vindo para cima de mim como se estivesse me dando voz de prisão, se aproveitando de que era mulher, me incitando para ver se eu tinha coragem de agredi-la”, explica no texto.

A mulher relata que sofreu mais agressões, que incluíram socos nas costas, e que teve sua biCliqueta novamente arremessada ao chão. “Ainda não acredito no que aconteceu. Foi uma agressão arbitrária, já que não fizemos nada contra ele. Independente de termos atravessado o sinal vermelho, poderíamos compartilhar a pista, até porque já era tarde, o fluxo era pequeno”, comenta.

Apesar do acontecido, a ciclista não pretende aposentar a magrela, e se diz ainda mais estimulada a lutar pelos direitos dos ciclistas urbanos. “Uso a biCliqueta todos os dias, é meu meio de transporte e não vai ser isso que vai me fazer parar. Na verdade, estou ainda mais animada de continuar pedalando. É uma pena que ainda existem pessoas que não acreditam que possa existir uma convivência pacífica entre biCliquetas e carros, mas acredito que isso vai acontecer em breve”, almeja.

“Agredir gratuitamente uma pessoa na rua nunca pode se tornar algo banal, e existem aí questões mais profundas.” (ciclista vítima da agressão)

Quanto ao amigo que também foi agredido, ela tem poucas notícias. “Não consegui encontrá-lo ainda, mas pelo pouco que nos falamos, sei que ele está bem, o dano foi mais na biCliqueta”, explica. O mesmo vale para ela, que ainda sofre com as dores de cabeça causadas pela agressão. “Fui ao médico e está tudo bem. Ainda sinto dores no corpo, mas o maior trauma é emocional e psicológico”.

A vítima diz não se arrepender da denúncia e aponta a importância da discussão civilizada sobre temas sociais. “É preciso denunciar para que a nossa sociedade aprenda a discutir de forma civilizada essas questões. Agredir gratuitamente uma pessoa na rua nunca pode se tornar algo banal, e existem aí questões mais profundas, como a agressão contra a mulher, que deve, sim, ser apontada e discutida”.

“Agi de cabeça quente! É muito complicado, mas só quem pode julgar é Deus e a Justiça!” (João Mário Martin)

Em seu texto, João se desculpa e assume o erro cometido. “Estar indo para casa descansar e ser xingado sabendo que estava certo me subiu à cabeça. Se um chute caracteriza uma agressão, que me processem, assumo o que fiz e estou disposto a arcar com as consequências. Agora peço que entendam meu lado, cometi um erro, mas não fui o único agressor! Não justifico meu erro! Agi de cabeça quente! É muito complicado, mas só quem pode julgar é Deus e a Justiça”. João finaliza com o apelo. “Tomem as atitudes legais e parem de me crucificar e julgar meu trabalho! Por favor me deixem em paz!” O Tribuna do Ceará não conseguiu um contato com o motorista.

Tribuna do Ceará. Fortaleza, 17 de outubro de 2015.

Disponível em: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/mobilidadeurbana/ciclistas-denunciam-agressao-de-motorista-em-discussao-de-transito-no-bairro-aldeota/