Qual o papel das rimas?

Nessa atividade, a turma vai compor um texto coletivo. Não se trata de uma simples colagem de frases. O texto deve fazer sentido e ser harmonioso.

Atividades

  1. Para iniciar, diga aos alunos que eles irão ler trechos de dois poemas: “Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz”, de Otávio Roth; e “Doze coisinhas à toa que nos fazem felizes (À moda de Otávio Roth)”, de Ruth Rocha. Leve-os a observar que a poetisa homenageia o poeta, anunciando retomar seu estilo. Apresente os dois títulos, e, antes de ler os versos, peça-lhes que falem de “coisinhas à toa” que os deixam felizes. Talvez alguns mencionem coisas grandes e importantes, como ganhar na Loteria Federal, viajar, a paz no mundo. Comente que os títulos remetem à simplicidade do dia a dia e insista para que pensem também em coisas simples, além das essenciais. Conheça mais poemas de Ruth Rocha por meio do DVD “Casa da Ruth”, com músicas de Helio Ziskind e interpretação da cantora Fortuna.
  2. Os dois tipos de “coisa” estão presentes em nossa vida. Divida uma cartolina ao meio: de um lado, escreva as coisas simples sugeridas pelos alunos; do outro, as grandes e importantes.
  3. É importante que o professor registre as falas da turma; pode-se criar um cartaz, montar um Powerpoint, ou ainda fazer um varal de tiras de papel com as coisas simples e as coisas importantes escritas pelos estudantes.
  4. Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz

    Passarinho na janela, pijama de flanela, brigadeiro na panela.

    […]

    Almoço de domingo, revoada de flamingo, herói que fuma cachimbo.

    […]

    Otávio Roth. Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz. São Paulo: Ática, 1994.

    Doze coisinhas à toa que nos fazem felizes (À moda de Otávio Roth) […]

    Ver gelatina tremendo no prato

    Nadar depressa usando pé de pato

    Mostrar a língua pra tirar retrato

    Ruth Rocha, in: Toda criança do mundo mora no meu coração. São Paulo: Salamandra, 2007.

  5. Converse com os alunos sobre os versos lidos. Eles devem perceber que é apresentada uma espécie de lista poética, marcada por rimas externas e também internas.
  6. Observe nos versos do quadro “Rimas internas e externas”, as rimas em –ela e em –ingo estão tanto no interior quanto no final dos versos: as internas e as externas são semelhantes.
  7. Nos versos de Ruth Rocha, também há rimas externas e internas, mas elas não são semelhantes: internas em -ar e externas em -ato:
  8.  

    Ver gelatina tremendo no prato
    Nadar depressa usando pé de pato
    Mostrar a língua pra tirar retrato

     

  9. Você pode escrever os versos na lousa e grifar as rimas junto com eles. Instigue-os com perguntas:
    • Por qual razão os poetas teriam feito essa escolha?
    • Esse recurso poderia favorecer a unidade do verso, da estrofe, do poema?
  10. Em seguida, peça aos alunos para observar a pontuação de cada grupo de versos. Otávio Roth emprega um ponto-final, no fim de cada verso. Dentro deles, são enumeradas três “coisinhas”, separadas uma da outra por vírgulas.
  11. Ruth Rocha enumera uma coisinha por verso e não emprega sinais de pontuação. Comente a diferença de ritmo: alongado e lento, nos versos de Otávio Roth; ágil e curto nos de Ruth Rocha.
  12. Comente o diálogo entre os dois poemas, isto é, a intertextualidade, que pode ocorrer de duas maneiras: a paráfrase, que retoma um texto com o mesmo ponto de vista do original; e a paródia, que o faz, deslocando o seu sentido, em tom bem-humorado, brincalhão ou crítico. Pergunte aos alunos se os versos de Ruth Rocha parafraseiam ou parodiam os de Otávio Roth. Leve-os a notar o verso final “mostrar a língua pra tirar retrato”. Mesclam-se a homenagem, a brincadeira, o bom humor.
  13. Proponha-lhes transcrever as “coisinhas” na lousa dividida ao meio: de um lado, coisas simples e cotidianas; de outro, as mais abrangentes. A atividade é semelhante à realizada anteriormente, agora retomando os versos que acabaram de ler.
  14. Ao retomar os versos que acabaram de ler, converse sobre as coisas simples do cotidiano e sobre as mais amplas. As expressões dos versos de Otávio Roth que devem figurar entre as ABRANGENTES, por envolver o grupo social, são as seguintes: almoço de domingo [reuniões familiares] e herói que fuma cachimbo. Já em Ruth Rocha, prevalecem as coisas simples, do dia a dia, uma delas marcada pela irreverência (“mostrar a língua pra tirar retrato”). O termo “pra” da linguagem informal combina com as coisas do cotidiano.
  15.  

    Sobre a organização dos dois blocos de versos

    Sintaticamente, os dois versos de Otávio Roth se organizam pela enumeração de expressões nominais diversas:

    a) substantivo seguido de adjetivo ou locução adjetiva: pijama de flanela; almoço de domingo; revoada de flamingo;
    b) substantivo seguido de adjunto adverbial: passarinho na janela; brigadeiro na panela;
    c) substantivo seguido de oração adjetiva: herói que fuma cachimbo;

  16. As expressões nominais – substantivos, adjetivos e palavras que exercem essa função – nomeiam os elementos da realidade de forma estática, enquanto os verbos nomeiam os elementos da realidade de forma dinâmica. Levando isso em conta, podemos dizer que os versos de Otávio Roth tendem para o estático, pelo predomínio de expressões com valor nominal; já nos versos de Ruth Rocha, empregam-se tanto substantivos quanto formas verbais no infinitivo: Ver gelatina tremendo no prato / Nadar depressa usando pé de pato / Mostrar a língua pra tirar retrato. Este recurso sugere dinamismo.
  17. Os alunos vão observar as duas listas de “coisinhas” importantes para a felicidade dos poetas e, talvez, de outras pessoas. Tanto as banais quanto as essenciais são importantes, todas preenchem nossa vida.
  18. Procure levar a classe a observar que tanto a sonoridade – as rimas – quanto a combinação de palavras – organização sintática – contribuem para o sentido do texto e garantem sua unidade, sua composição coerente. No poema, todos os aspectos são importantes para a significação do texto.
  19. Em seguida, os alunos vão compor, em grupos, um poema com recursos parecidos. Assim, deverão criar um texto com as seguintes características:
  20. semelhante a uma lista – de meia dúzia, de uma dúzia, duas ou três dúzias de coisas que sejam importantes para eles;
  21. composto de cinco ou mais versos – que apresentem rimas internas e, se possível, externas.
  22. Os alunos podem optar por uma paráfrase ou por uma paródia dos versos lidos.
  23. Peça a cada aluno que pense numa “coisinha” e a anote no caderno. A palavra selecionada deve combinar com outras para compor uma expressão. A seguir, cada aluno vai procurar dois colegas cuja expressão rime com a dele. Incentive os alunos a buscar palavras e encontrar rimas para elas. Sugira-lhes que façam listas e procurem termos no dicionário. Você pode utilizar um dicionário impresso ou um dicionário virtual. Devem evitar o uso de aumentativo e diminutivo, porque esta seria uma solução fácil e por vezes empobrecedora. Dê atenção a todos os grupos para ajudá-los com sugestões, quando for preciso.
  24. Se os alunos não conseguirem outras expressões com a mesma rima, deverão mudar as palavras, buscar sinônimos ou trocar as escolhas, até juntar três com as mesmas rimas. Formam-se assim grupos de três alunos, sendo importante que cada trio obtenha três “coisinhas” incluídas em três expressões que rimem.
  25. Em seguida, caso optem por criar como Otávio Roth, o trio vai compor um verso, comparando as escolhas de cada um de seus membros, para decidir em que ordem elas vão aparecer: qual a primeira, a segunda, a terceira. Cada trio apresentará, então, o que compôs. O conjunto talvez resulte num longo poema. Para compô-lo, apresente os versos para a classe que, em conjunto, vai decidir em qual ordem eles devem figurar no poema. Você pode orientar essa organização, por exemplo, do particular para o geral ou o inverso – tudo dependerá do que vai ser proposto pelos alunos.
  26. Caso prefiram uma coisinha por verso, como fez Ruth Rocha, devem decidir em que ordem colocar as três selecionadas, para compor um poema, como o da poetisa. O processo seguinte será o mesmo apontado acima: apresentar os versos para que a classe, em conjunto selecione a ordem na estrofe de três versos e, depois, organize os tercetos criados para compor o poema.
  27. Ao comporem os versos, os alunos podem optar pelo uso exclusivo de nomes, sugerindo estaticidade; ou usar também verbos, que indiquem dinamismo.
  28. Chega então a vez do título. Conte quantas coisinhas à toa deixam a classe feliz e peça aos alunos que sugiram um título para os poemas.