O mundo amoroso

Quando os alunos fizeram uma lista de situações que poderiam merecer uma crônica, talvez o “amor” tenha aparecido em alguma delas. Afinal encontros e despedidas, dores, temores, esperas, alegrias e desesperos amorosos ocorrem a todo momento em qualquer cidade.

Atividades

  1. Proponha a leitura ou a audição da crônica “O amor acaba” de Paulo Mendes Campos.
  2. Apresente algumas informações sobre o autor. O texto Sobre Paulo Mendes Campos pode ajudar.
  3. Para saber mais

    Paulo Mendes Campos

    Belo Horizonte (MG), 28/2/1922 — Rio de Janeiro (RJ), 1º/7/1991

    Estudou odontologia, veterinária e direito, mas não chegou a completá-los. Tornou-se escritor ainda jovem, como integrante da geração mineira à que pertenceu Fernando Sabino, Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, entre outros. Em Belo Horizonte, dirigiu o suplemento literário da Folha de Minas. Em 1945 foi para o Rio de Janeiro, onde já estavam seus amigos mineiros, para conhecer o poeta chileno Pablo Neruda, e acabou fixando residência na Cidade Maravilhosa. Lá tornou-se colaborador de O Jornal, do Correio da Manhã e do Diário Carioca. Neste último assinava a “Semana literária” e, depois, a crônica diária “Primeiro plano”. Também foi cronista da revista Manchete.

    Admitido no Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (Ipase), em 1947, como fiscal de obras, passou a redator daquele órgão e chegou a ser diretor da Divisão de Obras Raras da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

    Em 1951 lançou seu primeiro livro de poemas, A palavra escrita. Casou-se nesse mesmo ano com Joan Abercombrie, de ascendência inglesa, e teve dois filhos: Gabriela e Daniel. Buscando meios de sustentar a família, foi repórter e, algumas vezes, redator de publicidade. Traduziu, entre outros, Júlio Verne, Oscar Wilde, John Ruskin, Shakespeare e Neruda.

    Dedicou-se totalmente à literatura, dando a suas palavras um requinte e uma delicadeza incomuns, ao contrário de muitos cronistas que usam linguajar mais coloquial. Suas crônicas deixam transparecer a perplexidade diante do ser humano e de suas questões existenciais. A linguagem é essencialmente poética, cheia de sutilezas, uma prosa poética, penetrante e algumas vezes cheia de bom humor.

    Acesse http://www.releituras.com/pmcampos_bio.asp e saiba mais sobre o cronista.

    Para saber mais

    Sobre “O amor acaba”

    A crônica, escrita em um único parágrafo e em prosa poética, parte de uma ideia central: o amor acaba para recomeçar sempre. O amor acaba em qualquer lugar – em um bar, em um apartamento, em uma encruzilhada de uma cidade. Acaba em qualquer tempo – um dia da semana, em qualquer das diferentes estações do ano, antes de, depois de. Acaba de diferentes modos (de repente, mecanicamente), em diferentes ações (um desenlaçar, em um passar por) e por diferentes motivos (a perda de um filho, a rotina, na ausência do desejo).

    A repetição variada da frase “o amor acaba” imprime um ritmo poético ao texto: o amor acaba no; acaba de repente; às vezes o amor acaba…; acaba quando…; o amor pode acabar… e acaba o amor. Algumas vezes, o amor não começa; em outras, se dissolve ou vira pó; e em outras, ainda, seria melhor não ter existido.

    O poético emana da repetição de sentenças afirmativas durante todo o texto: “domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar” ou “no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor”, ou “às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres”. E também das imagens construídas pelo autor: “como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão”, ou: “às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo”.

    Procede ainda das palavras escolhidas com esmero, distintas daquelas que usamos no dia a dia: “polvilhando de cinzas o escarlate das unhas”, ou: “no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores”.

    E o poético jorrar de sentimentos em um só parágrafo! Da afirmação final ressurge o amor apontando o novo ciclo da vida: “para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba”.

    In: O amor acaba. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. © Joan A. Mendes Campos.


    No sentido literário, epifania é um momento privilegiado de revelação quando ocorre um evento que “ilumina” a vida da personagem.

  4. Após a leitura ou a audição da crônica de Paulo Mendes Campos, você pode mostrar aos alunos a análise Sobre O amor acaba; assim, eles poderão confrontá-la com as ideias deles.
  5. Além de, como sempre, explorar a situação de comunicação, o autor, o objetivo da leitura, o título, a antecipação de hipóteses sobre o conteúdo da crônica, aproveite as oficinas para analisar também as habilidades de leitura, onde seus alunos precisam de mais fôlego. Eles já conseguem identificar efeitos de ironia ou humor? Reconhecem os elementos constitutivos da crônica? Já estabelecem relações entre partes de um texto, identificando as repetições e substituições que contribuem para a continuidade dele? Já sabem inferir uma informação implícita em um texto, deduzir significados e conteúdos, extrapolar?
  6. Se possível, pesquise na biblioteca ou na internet outras crônicas sobre esse assunto e leve-as para a sala de aula. Por exemplo: “Variações em torno da paixão”, Affonso Romano de Sant’Anna; “Sobre o amor”, Ferreira Gullar; “Amor”, Arnaldo Jabor; “Ex” , Antonio Prata. Dessa forma, os alunos podem comparar vários autores e seus estilos ao tratar de um mesmo tema.
  7. Atenção

    É fundamental avaliar o processo de trabalho, dando continuidade aos seus registros. Como foi o desempenho dos alunos no decorrer das atividades de leitura? Foi fácil desenvolvê-las? Houve dúvidas, dificuldades? Quais? Que habilidades de leitura precisam ser retomadas com a turma? Para isso, você pode utilizar as ferramentas grifo e/ou anotação, disponíveis nos ícones localizados na parte inferior deste caderno.

  8. Desafie a turma a conhecer o grande escritor do século XIX: Machado de Assis. A tarefa será trazer informações sobre a vida e a obra desse autor conhecido como “O bruxo do Cosme Velho”, bem como crônicas suas, que falam da cidade e de seu cotidiano.