Museu do eu, museu de nós

Vimos que o museu é um espaço de preservação da memória. Ao mesmo tempo, suas exposições constroem uma narrativa e influenciam o modo como nos entendemos, ou seja, contribuem para formar nossa identidade, como povo e como indivíduos. Não é difícil perceber isso: basta pensar na frustração diante da possibilidade de perder o fóssil de Luzia no incêndio do Museu Nacional. Luzia é a “primeira brasileira”, é a primeira de nós e, por isso, há algo que nos conecta a essa mulher que viveu mais de 10.000 anos atrás.

É possível pensar em museus e espaços de memória que concentram as narrativas de pequenas comunidades, como é o caso do bairro, de uma escola, da sala de aula. Iniciativas assim contribuem para dar voz àqueles que nem sempre são contemplados nas narrativas oficiais, de modo a valorizar e fortalecer as identidades locais. Vamos lá?

  1. Faça uma roda e peça à turma para responderem à pergunta: O que você salvaria de um incêndio? Pense em objetos e lugares que ajudam a contar quem você é.
  2. Se eles tiverem dificuldade para começar, você pode dar um exemplo (ou responder você à pergunta para incentivá-los): “Eu salvaria de um incêndio o jogo de copos de vidro que minha mãe guarda no armário da cozinha. Ela herdou esses copos da minha avó, que nasceu e morreu na Paraíba e a quem não conheci. Minha avó morreu antes de eu nascer e como eles eram de uma família pobre, não tiravam fotos. Isso quer dizer que as imagens que tenho da aparência da minha avó são imaginadas e foram sendo construídas pelas descrições que ouvi em casa. Esses copos são uma espécie de elo com a minha origem. Quando eu os toco é como se me conectasse com minha avó”.
  3. Após ouvir as histórias, aponte a importância de compartilhar essas histórias para conectar o grupo e para que se possa respeitar mais ao outro. Mostre também que a escolha do objeto ou do lugar exigiu, tal como no museu visitado, um processo de escolha que levou em consideração determinados critérios.
  4. Explique que o próximo passo é criar um espaço na escola para expor esses objetos. Por isso, é preciso combinar uma data para que eles tragam as peças escolhidas ou ainda fotos e desenhos delas. É possível também que eles pensem em ressignificar o objeto escolhido por meio de linguagens artísticas em uma parceria com os(as) professores(as) de artes.

Para saber mais

Pontes entre arte e memória

Há artistas visuais que se valem dos objetos de memória para criar suas obras. Você pode mostrar aos alunos alguns exemplos da artista brasileira contemporânea Rosana Paulino. Em algumas de suas obras, ela faz intervenções com linha e agulha em fotos de mulheres da sua família para evidenciar o silenciamento da mulher negra, muitas vezes em razão da violência doméstica.

Imagem da obra Parede da memória, 1994-2015

Imagem da série Bastidores, de 1997

Do mesmo modo, há escritores que usam a própria biografia como ponto de partida para a escrita literária. No Brasil, esse estilo é bem representado por Julián Fuks, que ganhou o Prêmio Jabuti de romance em 2016 com o livro A Resistência, no qual sua relação com o irmão adotivo é o material para a escrita. Cristóvão Tezza, autor de O filho eterno, e Bernardo Kucinski, de K. - Relato de uma busca, são outros exemplos do uso da biografia na ficção. As leituras são recomendadas para os professores e professoras que quiserem ampliar seu repertório sobre o assunto.