Mais quadras
Atividades
- Embora seja uma forma poética popular, a quadrinha também está presente em obras consideradas cultas. Grandes poetas compuseram quadrinhas, entre os quais Fernando Pessoa, um dos mais consagrados poetas da língua portuguesa.
- Os estudiosos de sua obra registraram mais de quatrocentas quadras, algumas sem data. Acredita-se que ele tivesse a intenção de compor um livro com elas, mas isso nunca ocorreu.
- Antes de iniciar os exercícios, explique aos alunos que muitos poetas usam pseudônimo: um nome inventado para assinar alguns poemas ou até mesmo livros. O estilo da produção com nome verdadeiro e aquele com pseudônimo se assemelham. Já com o heterônimo isso não ocorre. Nesse caso, o poeta assume outra personalidade, outro modo de compor, outro estilo. A obra do heterônimo não se parece com aquela assinada pelo próprio poeta.
- Inicie a atividade apresentando Fernando Pessoa aos alunos. Fale da importância dele e leia a frase que ele escreveu sobre as quadras: “A quadra é um vaso de flores que o Povo põe à janela da sua alma”.
- Peça aos alunos que leiam novamente as quadrinhas. Pergunte-lhes que palavras rimam em cada quadra. Observe com eles que nas três primeiras quadras o segundo verso sempre rima com o quarto: dar/penar; destapada/nada; dançar/estar. Nas duas últimas, o primeiro verso rima com o terceiro: discreto/quieto; ninguém/alguém; e o segundo com o quarto: pena/serena; mal/igual.
- A seguir, peça para cada grupo criar uma quadra. Se verificar que eles têm dificuldade para iniciar, sugira um primeiro verso. Veja alguns exemplos:
- Essa noite tive um sonho…
- Você diz que sabe tudo…
- Menina dos olhos tristes…
- Atirei um cravo n’água…
- Você vive reclamando…
- Que passeio divertido…
- Um jardim cheio de flores…
- Uma máquina moderna…
- Meu medo de tempestade…
- Na curva daquele rio…
- Assim que terminarem, peça-lhes que leiam as quadras para a turma. Depois de revisadas, elas deverão ser passadas a limpo e divulgadas, pode ser no mural ou no blog da turma.
Fernando Pessoa, Lisboa (Portugal), 1888-1935. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Em sua obra, ele usou vários heterônimos, que formavam personalidades completas: tinham biografia, estilos literários próprios, maneiras diversas de ver o mundo. Era como se Fernando Pessoa encarnasse outras pessoas imaginadas por ele. Em alguns poemas, Pessoa assinava o próprio nome. Em outros, assinava Alberto Caeiro, um poeta que buscava a simplicidade da natureza e preferia linguagem e vocabulário simples. Em outros ainda, assinava Ricardo Reis, que tinha uma forma humanística de ver o mundo e procurava um equilíbrio similar ao dos clássicos. Outro heterônimo era Álvaro de Campos, um poeta moderno, um homem identificado com o gosto e os costumes de seu tempo.
Clique aqui para conhecer mais sobre o poeta.
Projete as “Quadras ao gosto popular” em classe, por meio de datashow e ouça a leitura com a turma.
Quadras ao gosto popular
Eu tenho um colar de pérolas
Enfiado para te dar:
Enfiado para te dar:
O fio é o meu penar.
Quadra 2 (27/8/1907)
A caixa que não tem tampa
Fica sempre destapada.
Dá-me um sorriso dos teus
Porque não quero mais nada.
Quadra 9 (11/7/1934)
No baile em que dançam todos
Alguém fica sem dançar.
Melhor é não ir ao baile
Do que estar lá sem lá estar.
Quadra 17 (4/8/1934)
Vale a pena ser discreto?
Não sei bem se vale a pena.
O melhor é estar quieto
E ter a cara serena.
Quadra 18 (18/8/1934 – data provável)
Não digas mal de ninguém,
Que é de ti que dizes mal.
Quando dizes mal de alguém
Tudo no mundo é igual.
Quadra 62 (11/9/1934)
Fernando Pessoa. Obra poética VI. Porto Alegre: L&PM, 2008.
As quadrinhas têm quatro versos, geralmente com sete sílabas poéticas, ritmo típico da poesia popular. Veja:
Esse verso também é chamado de “redondilha maior”. O ritmo aliado às rimas dá às quadras cadência e sonoridade peculiares.