“Conversando” com Armando Nogueira
Atividades
- Terminada a audição da crônica, é hora de interpelar os alunos. Você poderá provocá-los com perguntas como:
- O que acharam da personagem principal? Que recursos linguísticos o autor usou para lhe dar realce?
- Qual o tom da crônica? Lírico? Reflexivo? Humorístico? Por que acham isso?
- O autor é observador ou personagem (foco narrativo)?
- Esse texto fez vocês pensarem? Que ideias vieram à cabeça? E que sentimentos?
- Após esse debate, divida a classe em grupos e peça-lhes que leiam a crônica “Peladas” e em seguida, respondam, por escrito, às questões abaixo. Quem quiser, poderá, ainda, assumir o papel do cronista e escrever outro desfecho para a crônica.
- Onde se passa a história? Qual o cenário?
- Que acontecimento transformou a praça? Que recursos o autor utilizou para realçar essa transformação?
- Qual foi o conflito?
- No sétimo parágrafo o autor se refere à bola caracterizando-a como “coitadinha”. O que esse adjetivo no diminutivo sugere?
- Que expressões do cotidiano o autor usa no oitavo parágrafo?
- Como o cronista fez o desfecho? Que impressão esse desfecho lhe causou?
- Reserve um tempo da aula para apreciação das respostas dos alunos e se necessário faça a complementação.
- Para concluir essa etapa, ofereça a análise Sobre Peladas aos alunos. Assim, eles poderão compará-la com sua própria interpretação da crônica!
Para saber mais
Sobre “Peladas”
No primeiro parágrafo o cronista-narrador anuncia que “sem aquela pelada” a praça está vazia, sem vida, deixou de ser um espaço de convivência, perdeu o sentido: “uma chatice completa”. Em contraposição à ideia de solidão em que se transformou a praça, o autor mostra ao leitor – numa descrição detalhada – como o cenário era animado antes do fim da pelada: “fervia de menino […] de sonho”.
Observe como o cronista compõe o cenário, localiza o espaço (utiliza advérbios para marcar tempo e lugar), nomeia ações, oferecendo pistas para o leitor antecipar, configurar o enredo. A prosa – ora lírica, ora irônica – estabelece uma conversa com o leitor. Faz com que os leitores tenham a imagem do que foi escrito. A ação da narrativa lembra o ritmo, a pulsação de uma partida de futebol. O autor escolhe as palavras, as comparações, as figuras de linguagem (“pelada inocente”, “pureza de uma bola”; “bendito fruto”; “suada vaquinha”; “lava a alma”). Usa verbos na terceira pessoa (autor-observador) e também entra na história (autor-personagem), quando diz: “já reparei uma coisa…” – alguns autores denominam esse tipo “autor-intruso”.
Desde o início o destino da personagem é traçado. O cronista personifica a personagem central – a bola, que ganha vida, se humaniza (prosopopeia). Num crescendo, vai descrevendo as ações da bola: “ela corre para cá, corre para lá, quica no meio-fio, para de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho”. Aos poucos, o cronista torna a personagem “vítima”: “Acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha”.
Nos últimos parágrafos, o narrador reforça a crueldade das ações, provocando apreensão no leitor. “Entra na praça […] sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo […] O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda […]”. O desfecho é a morte simbólica da personagem: “[…] tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar. Em cada gomo o coração de uma criança”. A metáfora expressa o sentimento de dor, perda. É a morte da alegria, o roubo do brincar, o desaparecimento da pelada de rua, do ser criança.