As figuras de linguagem na prática

  1. Nesta etapa, faremos a leitura da crônica “O novo normal” de Antonio Prata, disponível na coletânea deste Caderno, que trata da realidade instaurada pela pandemia do novo Coronavírus.
  2. Apresente alguns dados sobre o cronista, as informações disponíveis no "Para Saber Mais Antonio Prata" podem ajudar.
  3. Ofereça a análise "Sobre O novo normal" aos alunos. Assim, eles poderão compará-la com sua própria interpretação da crônica.

Sobre “O novo normal”

A crônica de Prata é marcada pelo humor, mas uma dose de humor que alcança a ironia. Diante da situação complexa e difícil que estamos enfrentando, o cronista escolheu o caminho do humor ácido.

E é com um tom bastante irônico que ele comenta a chegada desse personagem que está no centro do texto como protagonista, o Novo Normal. Sem saber ao certo de quem se trata, Prata imagina uma festa onde o personagem vai sendo apresentado para as pessoas que estão ali. De forma ficcional, o cronista vai exercitando a reação das pessoas para esse personagem.

Como tudo o que é novo, o Novo Normal causa estranhamento nos primeiros momentos da conversa, mas, com o passar das horas e a convivência com os outros convidados, torna-se uma figura enturmada. Ou seja, a figura que já se tornou natural, comum. E aí encontramos uma visão metafórica sobre a situação que estamos vivenciando desde março do ano de 2020.

A crônica está estruturada em diálogos, os quais, diferentemente de um texto corrido, nos contam uma história por meio de frases que os personagens trocam. É essa troca de falas que vai construindo a sequência dos episódios, até a hora do término da festa, em que todos, já superamigos, saem festejando e cantarolando por uma das principais ruas de São Paulo.

Ao usar palavras comuns às conversas e leituras do dia a dia das pessoas, o texto tem fácil leitura e comunicação, o que nos mostra que o autor escolheu essa seleção de palavras para deixar o texto fácil de ser compreendido, num papo direto e reto com o maior número possível de leitores.

Por outro lado, vale notar que tratar de assuntos que ainda não deixam as pessoas à vontade, como a ausência da prática sexual, é algo que causa estranheza, por isso o cronista aqui também escolheu o caminho da ironia e do humor, ao dizer: “contanto que o Pornhub e o Redtube liberem o acesso”.

Para Saber mais

Antonio Prata

Antonio Prata é um cronista presente num grande veículo da imprensa, o jornal Folha de S.Paulo. Peça que os alunos pesquisem informações a respeito e tragam-nas, para vocês conversarem.

Depois, leia com a turma a entrevista concedida pelo escritor clicando aqui.

Feita a leitura, destaque fragmentos como estes, em que o autor fala especificamente sobre o gênero crônica:

Acho que crônica é uma espécie de lupa que você coloca em um assunto. E qualquer assunto que você olhar com uma lupa é interessante.

[...] consigo ir puxando esse fio para ver aonde ele leva. A crônica é um exercício livre de escrita. Você não precisa de uma história. Uma das graças de escrever é ver onde aquilo vai dar. [...]

Muitas vezes também a crônica não nasce de algo vivido; às vezes eu crio uma situação, um encontro com uma pessoa, um vizinho. A crônica não é um relato fiel, a situação que eu estou dizendo que aconteceu, muitas vezes não aconteceu, é ficção.

Ao debater com a turma, saliente a noção apresentada por Prata sobre a crônica como uma lupa colocada num assunto, destaque o aspecto da liberdade que o gênero possibilita e, ainda, da invenção. É importante que os alunos reconheçam que, na mesma medida em que a crônica abre espaço para o registro do cotidiano, esse cotidiano não precisa ter sido realmente vivido por aquele que a escreve, mas sim pode ser projetado a partir de alguma situação, estendida pela inventividade do escritor.

Atividades

  1. Vamos retomar a crônica lida e fazer o reconhecimento das figuras de linguagem:
  2. Começando pelo texto de Antonio Prata:

    Uma convidada abandona, discretamente, a taça de vinho sobre uma mesa.

    Um convidado dispensa uma empada num vaso de pacová. (1)

    1- eufemismo: no lugar de escrever que a convidada joga a empada fora, o autor dá uma amenizada, dizendo que ela “dispensa” . O mesmo com a taça de vinho, no lugar de dizer que a pessoa deixa de lado, “abandona”.

    Falando então do personagem central dessa crônica, o Novo normal, podemos entender que o cronista criou esse personagem metaforicamente para apresentar essa nova situação em que estamos vivendo a partir das restrições e do isolamento social com a pandemia do novo Coronavírus.

  3. Este trecho poderia ficar mais interessante? Quem conhece uma metáfora para expressar o sentido desse comportamento na perspectiva do narrador?
  4. Assim como na crônica de Prata, a metáfora é a figura de linguagem que está mais presente no texto quando ele se refere a esse personagem chamado Novo Normal, que ganha corpo, ganha vida e passa de fato a se concretizar.
  5. Há nas outras crônicas aqui lidas e analisadas que apresentam figuras de linguagem, como em:
  6. Catadores de tralhas e sonhos

    Milton Hatoum

    “Aqui só carrego bagunça, mas sou homem de paz” (1). A que mais me chamou atenção foi uma carroça linda, com uma pintura geométrica que lembra um quadro de Mondrian. Na lateral, estava escrito: “Carrego todo tipo de tralha, e carrego um sonho dentro de mim” (2). / Sei que não é fácil encontrar um sonho nas ruas; mas encontrei carroceiros simpáticos e um assunto para escrever esta crônica

    1- antítese: embora pareça que esteja tudo bagunçado, porque ele carrega de tudo (as chamadas tralhas), ele se diz um homem de paz, que se ajusta a viver em ordem com suas coisas e entre as pessoas.

    2- metáfora: Carregar um sonho é uma maneira metafórica de dizer que tem entre suas metas, uma em especial que é um sonho. Na realidade não se pode “carregar” um sonho, somente no sentido figurado.

  7. Na crônica “Conduções” de Lilia Guerra, também encontramos figuras de linguagem:
  8. A carcaça de uma poltrona repousa na esquina da Nascer. Apresenta cicatrizes de queimadura. (1)

    Se divertem assistindo ao balé das labaredas. (2)

    As ruas daqui são pobretonas. Desvalidas. (3)

    Tento passar indiferente por essas pessoas jogadas nos colchões úmidos pelos líquidos da madrugada. (4)

    1- personificação: dá aos objetos traços de humanos e animais. Já que a poltrona ganha uma carcaça (que normalmente é um elemento do corpo do animal).

    2- personificação: as labaredas passam a bailar, ou seja assumem uma ação humana.

    3- personificação: As ruas passam a adquirir qualidades e ações dos seres humanos.

    4- metáfora: referência aos líquidos (urina, chuva, bebidas).