A crônica e as questões do nosso mundo

Quando os alunos e alunas comentaram situações que poderiam merecer uma crônica, talvez o “Coronavírus” ou a “quarentena” tenham aparecido em alguma falas. Afinal, o ano de 2020 trouxe uma situação inédita para o mundo, uma pandemia que modificou a vida de todos nós.

Atividades

  1. Proponha a leitura da crônica “As locutoras da quarentena” de Vanessa Barbara, disponível na coletânea deste Caderno.
  2. Apresente algumas informações sobre a autora. O texto Sobre Vanessa Barbara pode ajudar.
  3. Ofereça a análise "Sobre As locutoras da quarentena" aos alunos. Assim, eles poderão compará-la com sua própria interpretação da crônica.
  4. Para saber mais

    Vanessa Bárbara

    Vanessa Bárbara é jornalista, escritora e tradutora. Nasceu em São Paulo no ano de 1982. Nos últimos cinco anos, ela tem atuado como colunista em diversas publicações, como os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo, e atualmente segue com uma coluna de opinião no The International New York Times e na Revista Piauí. Entre suas obras, estão o romance Noites de alface, que veio na sequência à primeira obra, O livro amarelo do terminal. Não se restringindo ao gênero crônica, a escritora dedicou-se também a um projeto de roteiro para HQ (A máquina de Goldberg, ilustrada por Fido Nesti). Foi com o livro de crônicas Operação impensável que ela venceu o Prêmio Paraná de Literatura 2014, quando começou a ficar mais conhecida entre o público. Outra coletânea de crônicas, O louco de palestra (2014), fez parte da edição especial da revista Granta, que escolheu os 20 Melhores Jovens Escritores Brasileiros.

  5. Além de, como sempre, explorar a situação de comunicação, a autora, o objetivo da leitura, o título, a antecipação de hipóteses sobre o conteúdo da crônica, aproveite as oficinas para analisar também as habilidades de leitura, onde seus alunos precisam de mais fôlego. Eles já conseguem identificar efeitos de ironia ou humor? Reconhecem os elementos constitutivos da crônica? Já estabelecem relações entre partes de um texto, identificando as repetições e substituições que contribuem para a continuidade dele? Já sabem inferir uma informação implícita em um texto, deduzir significados e conteúdos, extrapolar?

Sobre “As locutoras da quarentena”

A crônica traz um relato das atividades de uma mãe e de uma criança pequena nos momentos iniciais da mudança total de nosso cenário, causada pela pandemia. A alteração provocada pelo isolamento social em razão da pandemia do coronavírus resultou em muitas situações que não estavam programadas e que saíram completamente da sua rotina e normalidade. Por exemplo, as crianças, os jovens e os adultos não foram para a escola e passaram a ficar em casa, acompanhando de suas residências as aulas.

No caso de Vanessa Bárbara, Mabel, sua filha pequenina, provavelmente iria para uma creche infantil. Iria, mas não foi. Teve e tem que ficar em casa, onde sua mãe, que passou a trabalhar ali também, tem que permanecer praticamente sem saídas para a rua.

Essa nova situação, de permanecer todo o tempo em casa, no momento em que a casa se transformou na sala de aula e também no escritório, tem levado as pessoas a variadas reações. Umas ficam tranquilas, fazendo uma série de atividades, como leitura, cursos pela internet, assistem muito mais tevê, dão conta de séries com muitos episódios. Mas outras têm mais dificuldade, não conseguem se concentrar em tudo, angustiam-se por não poderem ver a rua e o movimento. Há pessoas que têm conseguido trabalhar e estudar e ficar com a família toda dentro de casa, porém nem todas as famílias e as casas são iguais – muito ao contrário.

Inventar brincadeiras e atividades para distrair as crianças pequenas, muito cheias de energias, tem sido tarefa de muitos pais e mães, como é o caso de Vanessa.

Assim, cada um à sua maneira vai criando um jeito para passar tantas horas sem poder sair para a rua e sem poder frequentar lugares que ainda estão com restrições.

Essa nova maneira de viver por causa da pandemia está criando novas formas de enfrentar o dia a dia, a rotina em casa e, nessa rotina, não falta o olhar e a observação do que acontece de fato com os vizinhos, já que se fica mais tempo olhando para os lados e para os vizinhos.

A realidade também aparece nessa vizinhança de Bárbara, quando cita o hospital que está muito perto de sua casa, onde a movimentação tem sido intensa, por conta dos doentes.

As coisas, as ações que os vizinhos andam fazendo “fora do comum”, ou fora da rotina também estão no texto. Gente que já estava com luzinhas de Natal em pleno primeiro semestre do ano, ou pessoas que passaram a cozinhar em casa, sem nunca ter fritado um ovo na vida.

Essa capacidade da crônica em trazer para o leitor o que está acontecendo dentro de cada cantinho de nossa casa em tempo real é uma das marcas desse texto.

Como já vimos no texto de Tiago Germano, o humor também está presente na crônica, embora aqui, na de Vanessa Bárbara, seja em tom mais tímido. O riso infantil, inocente, sem os vícios dos adultos está ali na figura de Mabel, e oferece ao leitor essa oportunidade de também exercitar o olhar para situações mais ligadas à intimidade das casas.

Se possível, pesquise na biblioteca ou na internet outras crônicas sobre esse assunto e leve-as para a sala de aula. Por exemplo: “Face a face”, de Mario Viana, ou até mesmo “O novo normal”, de Antônio Prata, disponíveis na coletânea deste Caderno. Dessa forma, os alunos podem comparar vários autores e seus estilos ao tratar de um mesmo tema.