Bloco 1

Oficina 2

Etapa 6

Documentário poético

Nos documentários poéticos, as imagens costumam ser usadas de modo bem expressivo, prevalecendo sobre o discurso verbal. São documentários que buscam enfatizar ao máximo sua dimensão plástica, visual, de maneira que as imagens consigam provocar mais sensações, afetos e impressões do que necessariamente transmitir um argumento ou construir uma narrativa clara sobre o mundo histórico.

No documentário Olhos de ressaca, de Petra Costa, por exemplo, embora o discurso verbal seja importante, são as imagens os elementos narrativos encarregados de transmitir a beleza, a delicadeza, a ternura do relacionamento amoroso registrado. Assista ao filme e veja os comentários.

Dica: ao longo do filme você verá alguns comentários da equipe do Programa Escrevendo o Futuro. Se desejar assistir sem as observações, clique no ícone de comentários para desativá-los.

Olhos de ressaca. Petra Costa. Brasil, 2009, 20 min.

Agora, leia uma breve descrição e análise.

Bertrand Lira (2015) afirma que o modo poético é o menos explorado como forma dominante na estruturação de uma obra documental de longa-metragem, que aparece com mais frequência em cenas isoladas nesse tipo de filme. É o que ocorre no documentário Janela da alma (2001), de João Jardim e Walter Carvalho, que alterna cenas de entrevistas e imagens de tom poético. Assista ao trailer do filme e leia os comentários:

Janela da alma. João Jardim e Walter Carvalho. Brasil, 2004, 73 min. Trailer.

Agora, leia um breve comentário.

Bill Nichols afirma que os atores sociais de um documentário poético têm a mesma importância na estrutura geral do filme do que os demais elementos (animais, paisagens, objetos etc.). Frequentemente, eles carecem de complexidade psicológica e de uma visão definida do mundo. Em geral, não ouvimos suas vozes, não sabemos o que pensam - eles “falam” por suas ações. Suas ações e gestos são pretexto para a exploração de padrões visuais e rítmicos. É o que ocorre em Seis e um: poesia documentada. Assista ao filme e leia os comentários.

Seis e um: poesia documentada. Giovanni Rolim Antonelli. Brasil, 2017, 3 min e 15 seg.

Agora, leia uma breve descrição e análise.

Traço importante do documentário poético é a fragmentação e a ambiguidade, com o intuito de explorar associações vagas, subjetivas, e padrões que envolvem ritmos temporais e justaposições espaciais. Assista ao curta experimental Veja bem, de Jorge Furtado, e leia os comentários.

Dica: ao longo do filme você verá alguns comentários da equipe do Programa Escrevendo o Futuro. Se desejar assistir sem as observações, clique no ícone de comentários para desativá-los.

Veja bem. Jorge Furtado. Brasil, 1994, 6 min e 19 seg.

Agora, leia uma breve descrição e análise.

Atividades

1. Exiba o documentário Olhos de ressaca, já analisado, e chame a atenção para a forma como as imagens, a sonoplastia e a montagem contribuem para construção de um tom poético.

2. Peça aos alunos que realizem um curta-metragem de cunho poético de 1 minuto. Lembre a eles a atenção redobrada que devem ter para com as imagens tanto no momento de captação quanto da edição. Reforce o cuidado que devem ter com o design de som, ou seja, os ruídos e a trilha sonora.

3. Exiba e comente em sala alguns dos trabalhos produzidos, prestando atenção na associação e no ritmo das imagens, bem como no efeito da trilha sonora.

Para saber mais

Origens do documentário poético

O documentário poético tem origem nas experimentações com a linguagem cinematográfica realizadas pelos cineastas ligados às vanguardas artísticas europeias do século XX. Esse movimento, anti-ilusionista por natureza, era contrário à própria ideia de representação e propunha a atividade artística como criação de objeto autônomo e dotado de leis próprias (Xavier, 2005, apud Lira, 2015).

Inserido nesse contexto, o cinema de vanguarda também sustentava fortes preocupações formais e estéticas. Era comum o fotograma receber todo tipo de intervenção (riscos e pinturas feitas diretamente na película, colagem e sobreposição de materiais, exposição de luz etc.). Variações na montagem garantiam o ritmo visual que os cineastas almejavam. Para tanto, entre outros recursos, faziam uso intercalado de diferentes velocidades de filmagem (lento, acelerado), produziam ângulos inusitados e imagens distorcidas (Martins, 2008).

Realizados ao longo dos anos 1920, os exemplos de documentários poéticos abaixo relacionados não deixam dúvidas sobre a pertinência da expressão “sinfonia visual” utilizada para designá-los. A música impõe ritmo às imagens. Os tratamentos visual e sonoro são cuidadosamente trabalhados. Se desejar assistir a eles, clique sobre o título dos filmes.

Berlim, sinfonia da metrópole. Walter Ruttmann. Alemanha, 1927, 65 min.

Em Berlim, sinfonia da metrópole, Walter Ruttmann documentou um dia em Berlim no final da década de 1920. Vários elementos do mundo real constituem a matéria-prima para o olhar abstrato do cineasta. O diretor usa a imagem em movimento para captar os elementos do mundo real, descobrindo nele grafismos e formas geométricas. Os fios dos postes se tornam linhas finas em meio ao branco, tal como os trilhos do trem, os vagões, as árvores (Martins e Santos, 2012).

Chuva. Joris Ivens e Manus Franken. Holanda, 1929, 14 min.

O curta-metragem é composto pela sucessão de tomadas de diversos lugares da cidade, que tem início em uma manhã ensolarada e término em uma tarde chuvosa e escura.