Bloco 3

Oficina 2

Etapa 2

O que é sinopse

Sinopse é uma descrição sintética da ideia do filme. Deve deixar claro o que será abordado no documentário, quem são as personagens e  onde se passa, também pode trazer, sucintamente, por que é importante contar aquela história. Ela não precisa especificar como o filme será feito, nem trazer detalhes do que se quer contar, apenas as partes mais interessantes ou importantes. A sinopse deve, então, mostrar todo o potencial da história, inclusive por ser geralmente o primeiro contato que o público tem com o documentário, e possibilitar que as pessoas se interessem, ou não, por assistir ao filme.

Exemplos de sinopses

A seguir, reproduzimos e comentamos as sinopses de dois documentários Anamnese, de Clementino Júnior, e Do alto da ladeira, de Camila Mota.

Anamnese, de Clementino Junior (2017):

Anamnese é um documentário do diretor Clementino Junior, em parceria com o Coletivo NegreX, cujas personagens protagonistas são estudantes negras e negros da medicina. Suas histórias, muito distintas na forma, porém extremamente semelhantes no conteúdo, nos levam a refletir sobre que sistema é a Faculdade de Medicina, que tipo de pessoas ela aceita e que profissionais ela forma. Um filme ao mesmo tempo emocionante, impactante e revoltante. (Anamnese (2017). Clementino Junior. Sinopse. In: Coletivo NegreX. 

Assista ao filme:

Anamnese. Clementino Junior. Brasil. 2017. 15 min.

Comentário sobre a sinopse: 

Anamnese é um termo de origem grega que significa “trazer de novo à memória”. Na área da saúde, é conhecido como a entrevista inicial realizada pelo médico ou enfermeiro para saber o histórico do paciente e, assim, poder auxiliar no diagnóstico da doença. No caso do documentário, o termo é ressignificado e recontextualizado, nos levando a conhecer as histórias de estudantes negros(as) de medicina, um curso caracterizado por uma presença majoritária de estudantes brancos e de classe média alta. Segundo a sinopse, essas histórias são marcadas por diferenças, mas também por aspectos em comum, sem, no entanto, apontar algum exemplo para o(a) espectador(a). Ao afirmar que uma dos efeitos do documentário é "refletir sobre que sistema é a Faculdade de Medicina, que tipo de pessoas ela aceita e que profissionais ela forma", pressupõe-se que há um tipo social geralmente aceito e formado nesse espaço que não é negro , de maneira que se antevê que as histórias contadas são marcadas por não aceitação, discriminação, exclusão, dando um tom "emocionante, impactante e revoltante". 

Do alto da ladeira, de Camila Mota (2014)

Casarões antigos, moradores de longas datas, especulação imobiliária. Qual a real identidade que está por trás de tantas vendas e demolições de casas no centro histórico de Salvador? Do Alto da Ladeira faz um breve passeio a fim de descobrir algumas respostas que cercam essas questões. (Do alto da ladeira (2014). Camila Mota. Sinopse. In: Afroflix).

Assista ao filme:

Do alto da ladeira. Camila Mota. Brasil. 2014. 6 min.

Comentário sobre a sinopse: 

Tendo a cidade de Salvador como foco, a sinopse logo no primeiro período apresenta diferentes aspectos que marcam o município “casarões antigos, moradores de longas datas, especulação imobiliária”, remetendo-nos à arquitetura histórica da cidade, à longevidade dos moradores e a um processo de compra e venda de imóveis que tem se tornado cada vez mais comum em lugares turísticos. Não à toa, em seguida há o questionamento “Qual a real identidade que está por trás de tantas vendas e demolições de casas no centro histórico de Salvador?”, em que o uso de “real” supõe que há um falseamento quanto à identidade da cidade, disfarçada por meio do discurso da revitalização, comum como justificativa desse processo. Em busca de responder a essa e outras questões, o documentário se propõe a fazer um “breve passeio” no centro histórico de Salvador, expressão que é coerente com o título “Do alto da ladeira”. 

Agora vamos ver de maneira mais detida um exemplo de sinopse produzida no contexto da 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, em 2019, quando houve a estreia da categoria Documentário. A Olimpíada foi um concurso realizado pelo Programa Escrevendo o Futuro com a sua última edição em 2021:

O documentário premiado Meu lugar, Ubaranas, de Francisco André Silva de Moura, Lucas Cauã de Lima da Silva e Bruna Santos Vitalino Almeida, sob orientação do professor Francisco Márcio Pereira da Silva, da Escola Barão de Aracati, da cidade de Aracati/CE, apresenta a seguinte sinopse: 

O lugar onde as pessoas vivem conta muito sobre elas, ou seriam elas, as pessoas, que contam muito sobre seu lugar? Para mostrar sua comunidade o estudante André conta das pessoas, ou melhor, permite que elas mesmas se contém. Dessa maneira, um pouco da história desta comunidade cearense, remanescente de escravos quilombolas, se revela para nós em suas nuances mais particulares. Nos pequenos detalhes, nos conflitos pela terra e pela vida, na busca pela identidade, na luta pela preservação da memória. Uma memória que tanto pode estar escrita à mão, nos cadernos de dona Madalena, na rotina inalterada do Seu Pelé ou nas grossas paredes da centenária da Igreja de São José. Com a missão de falar do seu lugar, André faz um mergulho naquilo que é, aos seus olhos, mais contundente no lugar onde vive.

Logo no início da sinopse há uma provocação no que diz respeito ao tema do concurso, “O lugar onde vivo”, com uma pergunta que, ao trazer um questionamento sobre quem conta o lugar conta sobre as pessoas ou as pessoas que contam sobre o lugar? , sugere, na verdade, a impossibilidade de separar os lugares das histórias que as pessoas contam e as histórias que as pessoas contam dos lugares onde elas vivem. Nota-se aí uma ligação direta com o tema, passando, em seguida, pela delimitação do lugar ao qual o documentário se refere: a comunidade quilombola do estudante André, que será contada não apenas por meio do seu ponto de vista, mas também de pessoas que lá residem: “André conta das pessoas, ou melhor, permite que elas mesmas se contém”. 

E o que iremos saber sobre a comunidade de André? “Um pouco da história dessa comunidade cearense (..) em suas nuances mais particulares”, as quais envolvem “pequenos detalhes”, “conflitos pela terra e pela vida”, “busca pela identidade”, “luta pela preservação da memória”, ou seja, a sinopse circunscreve os assuntos que são abordados. Além disso, há o reconhecimento da riqueza da memória de Ubaranas, que pode ser “escrita à mão nos cadernos de dona Madalena, na rotina inalterada do Seu Pelé ou nas grossas paredes da centenária Igreja de São José”, valendo-se de uma estratégia discursiva, ao mencionar dois moradores que são entrevistados, que é coerente com a provocação do início: a impossibilidade de separar os lugares das histórias das pessoas e vice-versa. Seria possível contar a história de Ubaranas hoje sem seus moradores?

Por fim, no final da sinopse, reafirma-se o ponto de vista que é privilegiado ao longo do documentário e que diz respeito à temática envolvida: o de André, que “faz um mergulho naquilo que é, aos seus olhos, mais contundente no lugar onde vive”. Dentro daquilo que ele enxerga como contundente, há então as histórias de dona Madalena e de Seu Pelé, não só as suas e, sobretudo, um sentimento de pertencimento, evidente no título “Meu lugar, Ubaranas”.

Uma das ressalvas que se pode fazer em relação a essa sinopse é a ausência de menção ao nome da comunidade quilombola apesar de constar no título e de uma melhor contextualização de sua localização, de modo que o espectador possa se situar mais quanto ao lugar retratado. Além disso, a sinopse ficou um pouco extensa, de modo que uma reescrita possível, considerando essas duas questões, seria: 

 O lugar onde as pessoas vivem conta muito sobre elas, ou seriam elas, as pessoas, que contam muito sobre seu lugar? Para mostrar a comunidade de Ubaranas, remanescente de escravizados quilombolas, localizada na cidade Aracati/CE, André conta das pessoas, ou melhor, permite que elas mesmas se contem, por meio, por exemplo,  da memória que tanto pode estar escrita à mão nos cadernos de dona Madalena, da rotina inalterada do Seu Pelé ou das grossas paredes da centenária da Igreja de São José. Assim, com a missão de falar do seu lugar, André faz um mergulho naquilo que é, aos seus olhos, mais contundente no lugar onde vive.

Atividades

1. Apresente a sinopse do seguinte documentário finalista da 6ª edição da Olimpíada de Língua Portuguesa, elaborada pelos estudantes João Vyctor de Paula de Lima, Nathalia Rocha Campos e Raphael Dias Câmara, da Escola Ruy Pereira dos Santos, São Gonçalo do Amarante - RN: 

"Este documentário retrata a biografia de Dona Militana como personagem em destaque no município de São Gonçalo do Amarante, estado do Rio Grande do Norte, e mostra um pouco da sua trajetória de vida como a maior romanceira do Brasil, sua importância como mulher e como guardiã do patrimônio imaterial local."

Após a leitura da sinopse, peça para que os alunos imaginem o filme, levantando e registrado  hipóteses e possibilidades a respeito de como deve ser o documentário considerando o que a sinopse apresenta. 

Em seguida, exiba o filme e pergunte: quais expectativas foram atendidas? O que surpreendeu? O que eles não gostaram? O que lhes chamou atenção? 

O lugar onde vivo tem dona Militana. João Vyctor de Paula de Lima, Nathalia Rocha Campos e Raphael Dias Câmara. Escola Ruy Pereira dos Santos, São Gonçalo do Amarante/RN, Brasil. 2019. 5 min.

Por fim, proponha uma reescrita da sinopse à luz do próprio documentário, tendo a liberdade de escrevê-la de outra forma, mas sem desconsiderar o tema central e a perspectiva de tratamento desse tema. Na aula seguinte, converse com os alunos sobre a atividade de reescrita da sinopse, buscando saber e anotar quais foram as mudanças que eles fizeram em relação à sinopse original, o que os motivou a fazer essas mudanças, para, então, escrever na lousa uma uma sinopse coletiva para o filme, incluindo as mais variadas colaborações. A depender das colaborações, é possível escrever mais de uma sinopse, explorando várias possibilidades.

PROFESSOR(A), antes de solicitar que eles escrevam a sinopse do próprio documentário, é importante aproximá-los mais desse gênero por meio de documentários já produzidos. Com essa atividade, eles podem ter um olhar crítico e reflexivo sobre a sinopse de terceiros, tendo a possibilidade de reescrevê-la em função do que assistiram e do modo como julgarem mais atrativo, mas entendendo a importância de manter a coerência entre o documentário e a sinopse. Ao fazer também um exercício de escrita coletiva o professor pode avaliar, a partir das colaborações e ideias dos alunos, o quanto eles apreenderam os elementos centrais do filme assistido para escreverem suas sinopses, frisando como a sinopse deve apresentar resumidamente o documentário.

2. Apresente o curta-metragem Deus (2017), de Vinicius Silva. Em seguida, discuta com eles o que aparece no filme e solicite a escrita individual de uma sinopse para o documentário. 

 

Deus. Vinicius Silva. Brasil. 2017. 25 min. 

PROFESSOR(A), aqui trata-se de outro exercício que envolve olhar atentamente para uma produção audiovisual, buscando refletir junto aos alunos sobre as formas, alternativas e possibilidades de escrever uma sinopse. No caso desse documentário, é importante levar os alunos a pensarem na relação entre o título Deus e a protagonista uma mulher negra da periferia de São Paulo que cria sozinha seu filho antes de assistirem ao filme e, depois, quando forem escrever a sinopse. Como essa relação entre Deus e a mulher negra não é verbalmente trabalhada no filme, abre-se espaço para que os alunos, a partir da maneira como a interpretarem, tentem abordar esse aspecto na sinopse.

3. Na aula seguinte, distribua as sinopses produzidas entre os alunos, de maneira que cada um fique responsável por ler e avaliar a sinopse feita pelo colega, tendo os seguintes critérios em mente: 

  • Estão claros o tema e o ponto de vista do documentário?
  • Os personagens estão especificados?
  • O lugar e o período estão bem delimitados?
  • A linguagem é objetiva e, ao mesmo tempo, desperta a curiosidade?
  • A sinopse é coerente com o documentário que assistiram? Há alguma distorção?

PROFESSOR(A), o objetivo dessa atividade é que os alunos possam avaliar as sinopses produzidas pelos colegas e, ao mesmo tempo, ter uma devolutiva sobre as sinopses que escreveram, em um trabalho colaborativo, orientado pelo professor. Avaliar a escrita do colega permite que os estudantes desenvolvam um olhar avaliativo também para as suas próprias produções e tenham mais parâmetros e noções do que funciona ou não quando escreverem as sinopses para seus próprios documentários.

4. Divida a classe em trios e peça aos alunos que escrevam a sinopse de seus documentários. Escreva na lousa ou prepare um cartaz com orientações para a escrita.

Orientações para a escrita da sinopse: 

  • Deixe claro para o(a) leitor(a) o assunto do documentário e a perspectiva pelo qual o tema será abordado.
  • Especifique quem são as personagens que dele participam.
  • Defina onde se passa a história.
  • Escreva um texto numa linguagem simples e objetiva.
  • Não ultrapasse dez linhas.
  • Dê um título para o documentário e escreva-o acima do texto.
  • Revise o texto para checar ortografia, pontuação, sintaxe e estilo.

PROFESSOR(A), após as atividades de preparação, trata-se agora de orientá-los para que escrevam em grupo a sinopse de seus documentários. Antes disso, é possível retomar características da sinopse, os aprendizados das atividades anteriores, evidenciando como existem várias formas possíveis de escrevê-la e como a escolha por uma determinada forma deve estar sempre embasada numa relação de coerência com o filme a ser realizado. 

5. Na aula seguinte, distribua aos alunos(as) as sinopses para que eles/elas revisem e aprimorem o texto. Novamente, escreva na lousa ou prepare um cartaz com orientações para direcionar o trabalho de autoavaliação. 

Orientações para a revisão da sinopse:

  • Você deixou claro para o(a) leitor(a) o assunto e o ponto de vista pelo qual ele é abordado?
  • Especificou quem são as personagens da história?
  • Definiu onde se passa a história?
  • Escreveu um texto com uma linguagem simples, objetiva?
  • Ficou no limite das dez linhas?
  • Deu um bom título para o documentário e o escreveu acima do texto?
  • Checou a pontuação?
  • Corrigiu os erros de ortografia?
  • Substituiu palavras repetidas e eliminou as desnecessárias?

PROFESSOR(A), este é um momento em que eles devem reavaliar em grupo o que fizeram, observando o quanto a sinopse elaborada segue as orientações feitas e apresenta de forma clara e sucinta o tema e o ponto de vista do documentário. Nessa atividade, o professor pode ir passando em cada grupo, perguntando por cada aspecto exigido na sinopse e pedindo para eles explicarem como fizeram isso, dando eventualmente sugestões de aprimoramento.

Por fim, defina uma data para a entrega da versão final das sinopses.