Bloco 2

Oficina 1

Etapa 1

Introdução

O audiovisual possui uma gramática própria, fruto não apenas do desenvolvimento tecnológico dos equipamentos de captação e edição de imagens, mas do uso que se faz dos recursos existentes.

Essa gramática serve tanto para os filmes de ficção quanto para os documentários. Portanto, não estranhe o fato de, neste bloco do Caderno, muitos exemplos ilustrativos estarem no campo da ficção.

Muito possivelmente, para alguém que nunca trabalhou com o audiovisual, essa enxurrada de termos técnicos pode causar apreensão. Mas, tranquilize-se, aos poucos esse conhecimento irá se sedimentando.

Uma coisa é certa, após conhecer a gramática audiovisual, seu olhar para as imagens em movimento não será o mesmo, será treinado para os sentidos que essas imagens provocam. Essa descoberta é por si só prazerosa. Apostamos que você vai gostar de descobrir os encantos da linguagem audiovisual.

Então, vamos iniciar esse trabalho!

Unidades básicas da linguagem audiovisual

Provavelmente, muitos de vocês, ao assistir aos bastidores de uma filmagem ou ao ouvir ou ler críticas de cinema, já se depararam com as expressões “quadro”, “plano”, “cena”, “sequência”, “take” ou “tomada” etc. Mas o que significam esses e tantos outros termos? Vejamos a definição de cada um deles:

Quadro, frame ou fotograma

São palavras usadas para indicar cada imagem que compõe um registro audiovisual. Quando o cineasta francês Jean-Luc Godard diz que "o cinema é a verdade 24 quadros por segundo", ele se refere ao fato de que um filme é composto por uma série de imagens estáticas em sequência que, ao serem projetadas numa velocidade determinada – convencionalmente, 24 imagens por segundo, mas há outros padrões – causam a ilusão de movimento.

Os termos “quadro”, “frame” e “fotograma” têm sentidos equivalentes, mas, por vezes, usa-se “frame” para indicar as imagens feitas em vídeo (tecnologia eletrônica, analógica ou digital) e “fotograma” para as imagens feitas em película (tecnologia cinematográfica).

Trecho de película cinematográfica contendo uma série de fotogramas. Crédito: Once More, With Feeling por riviera 2005, licenciada segundo a licença CC BY-NC-SA 2.0

Plano

É um trecho contínuo de filme entre dois cortes consecutivos. No momento da gravação, corte corresponde à interrupção da filmagem. Já com o filme pronto, o corte equivale à passagem de um plano a outro. Todo corte pressupõe a existência de dois planos: o que vem antes do corte (por convenção chamado de "plano A") e o que vem depois do corte ("plano B"). Da perspectiva do espectador, o corte é a sensação de mudança de ponto de vista.

Veja, no GIF animado abaixo, um trecho do filme Psicose (1960) com 3 planos consecutivos da famosa cena do banho.

Psicose
Psicose. Alfred Hitchcock. Estados Unidos, 1960, 109 min. Trecho.

Tomada

É a ação de filmar um mesmo plano. Não se deve confundir plano com tomada. Em uma gravação, pode-se filmar repetidas vezes um mesmo plano para que seja possível selecionar a melhor tomada. Boa parte do processo de montagem consiste em escolher a melhor tomada de cada plano.

Cena

É uma ação que ocorre num mesmo espaço e recorte temporal, podendo ser composta por um ou mais planos. Atenção: por mesmo espaço, estamos nos referindo ao ambiente estrito no qual a(s) personagem(ns) se encontra(m).

Se uma personagem está na sala e decide ir até a cozinha, temos aí duas cenas, já que há mudança espacial. Do mesmo modo, se ela permanece na cozinha mas ocorre um salto no tempo para outro momento, existe novamente uma mudança de cena.

Veja um bom exemplo de cena do filme brasileiro Que horas ela volta?

Que horas ela volta?. Anna Muylaert. Brasil, 2015, 114 min. Trecho.

Sequência

É uma unidade dramática composta por uma ou mais cenas. É percebida pela continuidade da ação e não pela uniformidade de tempo e espaço.

O seguinte trecho do filme Bacurau (2019) é composto por paisagens do lugar que dá título ao filme, pelo cortejo fúnebre que sai de uma das casas em direção ao cemitério, pelo caixão no cemitério, quando começa a transbordar de água segundo a visão de uma das personagens, e pela saudação coletiva com os lenços brancos erguidos no ar. Todas essas cenas compõem uma única sequência, a do enterro de Dona Carmelita. Veja a seguir.

Bacurau. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Brasil, 2019, 132 min. Trecho.

Plano Sequência

É um plano que registra a ação de uma sequência inteira, sem cortes. Não confundir Plano Sequência com Plano Longo. Enquanto no Plano Sequência a câmera costuma seguir os personagens em um percurso, com alterações de espaço, no Plano Longo geralmente a câmera permanece num mesmo local.

Veja um exemplo de Plano Sequência. Vale a pena conferir!

El secreto de sus ojos. Juan José Campanella. Argentina, 2009, 127 minutos. Trecho.

Atividades

  1. Assista ao curta-metragem Faces da Augusta (Brasil, 2016, 1 min), de Agencia7, produzido no contexto do Festival do Minuto. Depois assista a um trecho do filme A marca da maldade (1958), de Orson Welles.

Faces da Augusta. Agência Via7. Brasil, 2016, 1min.

A marca da maldade. Orson Welles. Estados Unidos, 1958, 95 min. Trecho.

Agora responda às seguintes perguntas:

  • Quantos planos compõem o curta-metragem?
  • Quantos planos compõem a sequência do filme?
  • Qual tipo de filmagem você está mais acostumado a assistir?
  • Levando em consideração especialmente a quantidade de planos, qual a sensação que o curta-metragem e o trecho do filme lhe provocou? É a mesma sensação? Em qual dos vídeos seu olhar parece se confundir com o da câmera? Você se sente mais “dentro” da cena em qual dos dois tipos de filmagem?