Vitória Eduarda Ferraz Frutuoso
Desde o centro da cidade, atravessando avenidas, desfilando paisagens da janela, passando por casas, garotas de batom na rua, a antiga escola, até chegar à 12, última parada. Neste poema cheio de ritmo, Vitória Eduarda Ferraz Frutuoso, de São Leopoldo (RS), nos leva a um passeio por seu lugar, a bordo do ônibus Feitoria Cohab..
De 15 em 15 minutos
Um ônibus passa aqui em frente
O Feitoria Cohab
Levando e trazendo gente
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
Pra poder chegar no céu
Desde o centro da cidade
Percorre a avenida inteira
Dobra no arroio Peão
Meu lugar da brincadeira
Na última rua ele entra
À direita, prédios cinzentos
É a primeira parada
Dos blocos de apartamentos
Avança e logo freia
Chega na parada 1
Eu corro por entre os blocos
Subo veloz e zum!
Escolho o banco pra sentar
Quero perto da janela
Pra ver a Cohab passar
Quer dizer, eu passar por ela
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
Desenrola o carretel
Logo ali já vem a 2
E com ela um quebra-mola
Grafite que salta aos olhos
No muro da minha escola
E é tanto quebra-mola
Sobe e desce, sobe e desce...
Gangorra quebrada na praça
Imagem que me entristece
Sinto o cheiro no ar
Do xis que não comi
É na terceira parada
Lugar que nunca desci
Olho as garotas na rua
Estão passando batom
Cuidando o outro lado
Onde alguém liga o som
Agora o postinho da 4
Vacina, hoje, não!
Vejo minha antiga escola
Amiga do coração
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida
E os rabiscos no papel
Na curva da 5 pra 6
Sobe nela o pensamento
Estou mais alta que as casas
No rosto me bate o vento
Na 7 é calmaria
Mas já vou me preparando
Seguro firme no banco
Porque a lomba vem chegando
Iupiiiiii!
Sinto um frio na barriga
8, 9 e 10
Ah, já vai terminar a descida!
A 12 é a última parada
Dela não posso passar
Na 11 já fico atenta
É quase hora de saltar
As portas se abrem
Pulo e saio na corrida
Da parada 12 pra 1
A rua é muito comprida
Não posso me atrasar!
Entre os blocos vou voando
Lá vem outro carrossel
Meu Feitoria chegando
Ronca ronca o motor
Brinquedo de carrossel
Segue a rota da vida...
Um dia não desço na 12!
Um dia eu chego no céu!
Professora Cíntia Cristina Zanini
EMEF Professora Dilza Flores Albrecht, São Leopoldo-RS
18 thoughts on “O ônibus feitoria cohab”
Lindo poema que nos retrata a realidade. As palavras cantam em harmonia para formarem os versos que imponentes traduzem o âmago dessa jovem que ama o seu lugar.
Parabéns, Vitória e Professora Dilza! Esse poema nos leva a essa emocionante viagem, divertida e alegre.
Em tempos de pandemia, esse texto nos mostra a falta que faz em andar pelas ruas, o que se fala só em aglomerações, a saudade da escola, dos amigos, até mesmo dos familiares.
Liiindo. Que excelência ver a criatividade dos nossos estudantes , produtores, atores, artistas que veem a produção como arte.Eles podem ir muito mais além do que imaginam, só precisam de uma boa dose de incitação. Parabéns
Que texto realista e lindo, quanta criatividade dessa pessoa em uma vida que para tantos seria apenas o cotidiano. É preciso enxergar novas dimensões e aproveitar uma outra cosmovisão em tudo o que está à nossa frente.
Parabéns, parabéns!
Premiação mais q merecida!!! Parabéns!!! Uma maravilha ler um belo poema escrito por uma pessoa tão jovem!!!
O gostoso desse texto ,é a simplicidade do desenrolar da história e das palavras..parece ate que você ,viveu ,em tempos atrás essa linda história de vida
Parabéns para essa grandiosa poetisa, de sensibilidade singular!
parabéns!!!
Parabéns a Vitória pelo saudoso poema, uma menina que já mostra sua nostalgia dos tempos bons de ser criança..
Lindo texto! Por instante me vi fazendo o trajeto dentro do ônibus, observando cada parada… Esse brincar com as palavras, que o poema permite, é fascinante!!!
É muita criatividade e originalidade para falar do “lugar onde mora! Parabéns!
Encantada com tanta sensibilidade, que você sempre viaje na trilha das palavras e sua rota a leve a lugares inimagináveis.
Coisa maravilhosa! Retrata sua realidade com muita espiritualidade e de acordo com uma forma que reflete uma idade que parece ser juvenil, Parabéns!!! Estou a caminho do 4º livro de poesias, e sinto que apreendi muito com Vitória.
Simplesmente lindo, encantador. Parabéns a Vitória e a professora Cíntia.
Viajei no tempo com essa magnífica leitura! Lembrando das idas e vindas no circular, pela cidade até a cohab, quando morava no RS.
É perceptível um trabalho de construção com a linguagem, que torna o poema um daqueles sinestésicos inesquecíveis ! Parabéns!
Parabéns pelo poema