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Geni Guimarães: “Minha alma é minha cor”

29 de outubro de 2019

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Entre versos e contos, a escritora Geni Guimarães falou aos professores do Encontro de Semifinalistas da Olimpíada de Língua Portuguesa, na manhã do segundo dia, sobre sua experiência como escritora, sua carreira como professora e sobre o racismo que enfrentou em sua trajetória. Ela inicia contando que desde cedo fazia versinhos, muito por influência de sua mãe, que era repentista. E em seguida canta um repente para a plateia.

Entre as várias histórias narradas pela autora, os participantes se identificaram muito com o episódio de sua formatura como professora. No trecho, presente em seu livro A cor da ternura, Geni fala sobre a família que trabalhava na terra para que ela pudesse estudar, o esforço de todos para se vestirem bem para a festa, o orgulho deles por sua conquista e o pai que quis dormir com seu diploma embaixo do travesseiro “para sonhar sonho bonito”.

A carreira de escritora aconteceu, de certa forma, sem planejamento: “quando a gente escreve, as coisas fluem”. Já sobre a escolha da profissão docente, ela conta que era a coisa mais alta que ela podia almejar. “Para uma menina pobre, pretinha, ser professora era o auge, e foi. Não penso que tem que ser doutor para ser grande”, diz. Mas aponta também importantes ausências nessa trajetória: “minha formação acadêmica não me ensinou a ser negra. A escola não ensina a criança negra que ela é negra, que ela pode, que tem capacidade”, diz Geni. Para esse ensino ainda ausente, ela diz que é importante mostrar que o diferente não significa inferior e que todos têm sua beleza.

Ela conta que passou por muitos episódios de racismo em sua trajetória escolar. Uma vez, por exemplo, tinha sido escolhida para ser a Chapeuzinho Vermelho numa peça, mas a diretora não deixou, porque a Chapeuzinho ‘não era negra’. E lembra das barreiras que enfrentou ao ser a primeira professora negra de sua cidade.

Geni falou sobre a necessidade de ouvir os alunos. “Presto muita atenção em criança. Através do que dizem posso lidar melhor com eles, com a escola…” Ela explica que as crianças negras, na escola, geralmente são muito tímidas e não querem falar, ou fazem de tudo para chamar a atenção. “Eu não era briguenta, nem de arrumar confusão, mas estava sempre escrevendo, fazendo versos…”, ela diz, mesmo que às vezes os professores não lessem. 

“Isso aqui na minha perna [mostra uma marca] é porque eu raspei com tijolo, porque queria ser branca. Dá para imaginar o tamanho dessa violência? Isso não pode acontecer! Quebrar as barreiras depois é muito difícil! Mas tenho medo que ainda aconteça…”, diz Geni. E sonha com o fim do preconceito: “se a gente quiser, o mundo todo pode ser uma grande família”. E conclui: “minha alma é minha cor. Não tenho preconceito de gente, tenho uma nora branca, minha neta é misturinha, tenho outra neta que é chilena. A coisa mais linda é quando estão todos juntos lá em casa…”

 

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