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sua prática / reflexão teórica

Reflexões sobre o ensino de gêneros orais

Reflexões sobre o ensino de gêneros orais

Heloisa Amaral

19 de março de 2009

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Houve um tempo em que oral e escrita eram consideradas modalidades opostas da língua. Hoje, sabe-se que ambas as modalidades constituem uma continuidade e que fica difícil demarcar os limites entre elas. Uma palestra, por exemplo, considerada um gênero da oralidade, é uma exposição preparada previamente com leituras e anotações escritas; um bilhete, por outro lado, é uma breve anotação escrita a partir de uma situação de comunicação corriqueira que, se ambos os interlocutores estivessem presentes, seria feita oralmente.

1. Ensino de gêneros orais

Desde a publicação dos PCN, no final da década de 1990, as diversas propostas curriculares propõem o ensino de gêneros orais. Mas, quais gêneros orais ensinar? Aqueles que, embora apresentados oralmente, dependam da escrita para existir: peças de teatro, palestras, exposições em seminários, peças de argumentação em júri simulado, entrevistas, reportagens de TV simuladas, contação de histórias de tradição oral, sarau de poemas etc.

Os seminários, entre os gêneros apontados, são um ótimo exemplo de gênero oral que precisa ser ensinado e quase nunca o é. Como não é ensinado, o costume é dizer aos alunos: “Sobre este assunto, organizem um seminário. Dividam-se em grupos e apresentem no dia tal.” Essas orientações, insuficientes, costumam resultar numa sensação de perda de tempo para todos os envolvidos. Com isso, esse gênero - instrumento importante para o desenvolvimento de apresentações orais organizadas, necessárias para atividades escolares e não escolares - muitas vezes é deixado de lado.

Para que gêneros orais mais formais se tornem instrumento do domínio consciente de atividades de linguagem, eles precisam ser apoiados em pesquisa bibliográfica, ou seja, em gêneros escritos. Além disso, é necessária a organização prévia, por escrito, do que se vai dizer oralmente. Sem essa dupla relação com os gêneros escritos, os seminários não terão sucesso. É claro que os alunos também precisam ser orientados sobre entoação, interação ativa com os demais alunos durante a exposição do tema do seminário, uso de material de apoio apropriado (como cartazes, gráficos...) etc. Mas sem a leitura prévia de textos de pesquisa e de anotações escritas, o seminário não resultará em aprendizagem para quem o apresenta ou ouve.

2. Aula expositiva como exemplo gênero de discurso oral

Vamos tomar como exemplo da continuidade que ocorre entre gêneros orais e escritos as aulas expositivas comuns que ocorrem no ensino fundamental ou médio e que o professor usa com frequência e conhece muito bem. Esse gênero, aparentemente “oral”, demonstra claramente como oralidade e escrita não são dois campos separados por um abismo.

Para que este gênero de discurso exista (como ocorre com todos os demais infinitos gêneros existentes), é preciso haver alguns elementos “estáveis” na situação de comunicação que lhe dá origem. No caso da aula expositiva, os seguintes:

  1. alunos e professores apoiados por material escrito e para a escrita;
  2. conteúdos, procedimentos, competências a serem ensinados/aprendidos e objetivos a serem alcançados, previamente determinados por escrito;
  3. tempo e espaço previstos em planejamento prévio, registrados por escrito para que não se perca o ritmo no ano letivo (conteúdos, atividades, ensino e aprendizagem são regulados em currículos organizados a partir de espacialidade/temporalidade pré-determinadas);
  4. atividades propostas, oralmente e por escrito, para que os objetivos se realizem;
  5. espaço de interação social, uma “esfera de comunicação”, no caso, a escola, relacionada a todos os órgãos públicos que controlam seu funcionamento;
  6. uma exposição oral que considere todos os elementos já citados, feita de forma ordenada e com intenção pedagógica.

Como os elementos acima sempre se repetem de uma forma ou de outra quando há aula expositiva, os interlocutores já esperam o gênero de discurso por eles determinado. É pela repetição desses elementos que o gênero adquire características estáveis as quais permitem sua identificação imediata por todos que, em algum momento de suas vidas, tenham frequentado a escola. Sendo identificado o gênero, os interlocutores também identificam seus papéis e, assim, a comunicação tende a ser bem sucedida.

É importante observar que a situação de comunicação da aula expositiva está relacionada a diversas outras situações anteriores. Ela não brota do acaso. O mesmo se pode dizer dos demais gêneros orais e escritos: não são conteúdos escolares isolados, são socialmente produzidos e, quando têm relevância para a constituição do domínio da língua, precisam ser ensinados.

Ensino de gêneros orais

O primeiro passo para o ensino bem sucedido de gêneros orais é a seleção daqueles que precisam ser ensinados. Escolhido o gênero oral a ser ensinado, o professor deve proceder como no momento que organiza sua aula expositiva, identificando todos os elementos estáveis que determinam a ocorrência do gênero que quer ensinar, refletindo sobre esses elementos e analisando-os com os alunos.

Nesse momento, é preciso perguntar, por exemplo: Quais os elementos da situação de comunicação de uma peça de teatro? Quais os elementos da situação de comunicação de um sarau de poemas? E de um júri? Como no caso da aula expositiva, verificar-se-á que a situação de comunicação própria do gênero está socialmente ligada a várias outras situações das quais ele depende.

Ao levantar esses elementos com os alunos, reforçando os aspectos de oralidade sem esquecer o apoio na escrita, eles tomarão consciência da situação em que se envolverão e terão melhores resultados no uso dos gêneros orais como valiosos instrumentos para o domínio da língua.

Leia também a resenha do artigo “Linguagem oral na escola em tempo de redes

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